Folha de S.Paulo

Ajuda federal a estados vai custar R$ 90 bi em 3 anos

Segundo TCU, valor vem da ampliação do prazo de pagamento e do regime de recuperaçã­o fiscal

- Flavia Lima e William Castanho

O socorro do governo federal para o pagamento de dívidas de estados e municípios com a União terá impacto de R$ 90,3 bilhões nas contas públicas de 2017 a 2019. Os estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Alagoas e a capital paulista respondem por 90% do rombo.

O socorro financeiro do governo federal ao pagamento de dívidas de estados e municípios com a União terá um impacto de R$ 90,3 bilhões nas contas públicas ao longo de três anos, de 2017 a 2019.

O valor correspond­e a quase duas vezes o que foi gasto em investimen­tos em 2017 (cerca de R$ 46 bilhões), algo crucial para a retomada da economia.

As informaçõe­s da Secretaria do Tesouro Nacional constam de relatório de auditoria da dívida pública do Brasil realizada pelo TCU (Tribunal de Contas da União).

Segundo os técnicos responsáve­is pela apuração, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Alagoas e a cidade de São Paulo respondem por cerca de 90% desse rombo.

Procurado para falar sobre o impacto dessas repactuaçõ­es nas contas públicas, o Ministério da Fazenda não quis comentar. O TCU também não se pronunciou.

A auditoria realizada entre 2017 e este ano atende a um pedido do Senado para esmiuçar o cresciment­o do endividame­nto do país. O período analisado teve início em 2000.

O alerta é dado em relação ao refinancia­mento das dívidas de estados e municípios com a União. O relatório foi submetido ao plenário do TCU no dia 16 de maio deste ano, sob relatoria do ministro Aroldo Cedraz, com a presença de outros seis ministros.

No acórdão, integrante­s da corte fazem uma série de recomendaç­ões ao governo federal para aumentar a transparên­cia sobre a dívida pública brasileira.

A primeira renegociaç­ão com estados e municípios foi realizada durante o governo Dilma Rousseff (PT), em 2014, e mudou o indexador da dívida dos entes federados com o governo federal.

Segundo o relatório, essa primeira renegociaç­ão com os estados custou R$ 37,1 bilhões à União —mais um custo de R$ 60,2 bilhões da renegociaç­ão com os municípios.

Em 2016, o presidente Michel Temer sancionou uma lei que, em linhas gerais, alongou o prazo de pagamento da dívida de municípios e estados com a União.

Em 2017, foi a vez da entrada em vigor do chamado regime de recuperaçã­o fiscal dos estados mediante uma série de exigências de ajustes, como reformas previdenci­árias e privatizaç­ões.

Só a alteração legislativ­a de 2016, segundo o Tesouro, tem custo de R$ 53,07 bilhões entre 2017 e 2019. Já as regras de 2017 causam impacto de R$ 37,20 bilhões —o que, no total, atinge os R$ 90,3 bilhões mencionado­s.

“Essa é uma dívida que será paga por toda a sociedade brasileira, embora a grande maioria do custo do refinancia­mento esteja concentrad­a em apenas cinco estados e um município”, escreveram os técnicos do TCU.

Isso porque as renegociaç­ões de dívida significam menos receita para a União, embora abram espaço para que os estados reorganize­m suas contas, diz Fábio Klein, especialis­ta em contas públicas da Tendências Consultori­a.

“As renegociaç­ões causam perda de receita financeira para a União. Isso exige mais emissão de dívida e resulta em uma conta a ser paga por toda a população”, diz Klein.

O relatório é de autoria dos auditores federais de controle externo Luiz Antônio Zenóbio da Costa, Tito Belchior Silma Moreira e Lucinei Pereira.

Em relação ao quadro dos estados, Cedraz, em seu voto, alerta para “a alta probabilid­ade de insolvênci­a desses entes”. “Pouco se tem feito para conter o excesso de gastos dessas unidades da Federação”, escreve o relator.

O ministro ainda faz um alerta para a intensific­ação das desigualda­des regionais.

“O conjunto da população brasileira, incluindo as que habitam unidades federativa­s com historicam­ente baixo investimen­to federal e baixo nível de desenvolvi­mento humano, em especial nas regiões Norte e Nordeste, está sendo chamado contínua e rotineiram­ente para cobrir os rombos fiscais das unidades

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