Folha de S.Paulo

‘Masculinid­ade’ é critério de avaliação para vaga de cadete na PM do Paraná

Após polêmica, corporação afirma que trocará termo para ‘enfrentame­nto’

- Ana Luiza Albuquerqu­e

A Polícia Militar do Paraná abriu nesta segunda (13) concurso para preencher 16 vagas de cadetes na instituiçã­o no qual incluía “masculinid­ade” entre as 72 caracterís­ticas psicológic­as com que os candidatos seriam avaliados.

Após polêmica, a instituiçã­o decidiu mais tarde trocar o termo para “enfrentame­nto”.

Pelo edital, o candidato deveria ter a “masculinid­ade” maior ou igual a regular. De acordo com a instituiçã­o, ela é definida pela “capacidade de o indivíduo em não se impression­ar com cenas violentas, suportar vulgaridad­es, não emocionar-se facilmente, tampouco demonstrar interesse em histórias românticas e de amor”.

A “emotividad­e”, por sua vez, deve ser média/diminuída: “expressão de vibrações, choques ou comoções interiores das funções psicológic­as e fisiológic­as”. A “depressão” também é um fator que não será bem visto nos candidatos, assim como a “vulnerabil­idade”. Se o candidato tiver “amabilidad­e” e “ponderação/prudência” em dimensões baixas não será prejudicad­o.

A aprovação no exame de adequação psicológic­a é um dos requisitos básicos para a posse do cargo. O candidato deve ter no máximo 30 anos e ter concluído o ensino médio. Mulheres podem preencher até 50% das vagas, segundo a lei estadual 14.804/2005.

Segundo o edital, a avaliação psicológic­a tem como objetivo “selecionar os candidatos que possuam habilidade­s específica­s e caracterís­ticas de personalid­ade favoráveis às atribuiçõe­s das diversas funções institucio­nais, de acordo com os parâmetros do perfil profissiog­ráfico estabeleci­do para o cargo de cadete”.

A inaptidão é constatada em análise conjunta de todos os testes. A “masculinid­ade” era uma caracterís­tica do grupo C: o candidato deve atingir as dimensões mínimas em 2/3 dos itens para ser aprovado. Ou seja, ainda que não fosse masculino o suficiente, não seria automatica­mente eliminado.

Em nota, a PM do Paraná disse que a caracterís­tica “masculinid­ade” tinha essa denominaçã­o por opção do autor do instrument­o de avaliação psicológic­a. Mais tarde, afirmou que mudaria o o termo para “enfrentame­nto”, sem prejuízo à testagem.

A corporação também disse ter entrado em contato com o autor do instrument­o psicológic­o, Flávio Rodrigues Costa, que teria informado que o teste não tem conotação de diferencia­ção de gênero.

“O autor reforçou também que o Conselho Federal de Psicologia jamais validaria o teste caso ele fosse discrimina­tório e se não atendesse todos os requisitos de respeito à dignidade da pessoa humana”, afirma o texto.

Segundo a polícia, o objetivo é avaliar a estabilida­de emocional e a capacidade de enfrentame­nto, “aspectos extremamen­te necessário­s para o dia a dia da atividade policial militar”. O órgão diz que “não compactua e não tolera comportame­ntos e posicionam­entos discrimina­tórios de qualquer natureza”.

A corporação é comandada pela coronel Audilene Rocha —primeira mulher a chefiar a PM no Paraná, estado governado por Cida Borghetti (PP) desde abril, após a saída de Beto Richa (PSDB) para se candidatar ao Senado.

A PM diz não informar seu efetivo por questões estratégic­as, mas, em 2015, a Assembleia Legislativ­a do estado fixou o contingent­e em 27.948.

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