Folha de S.Paulo

Folha começa a publicar conteúdo de tecnologia do Wall Street Journal

Aprovação de projetos que representa­m obstáculos à expansão da empresa gera temor de restrição em outros locais

- Greg Bensinger The Wall Street Journal, traduzido do inglês por Paulo Migliacci

Para a Uber e o Airbnb, Nova York sempre foi um polo de cresciment­o, com seus 8,5 milhões de moradores e um cenário florescent­e de startups de tecnologia.

Mas as duas companhias de tecnologia recentemen­te encontrara­m obstáculos em seu maior mercado nos EUA.

Na semana passada, a cidade de Nova York aprovou um pacote de leis que podem prejudicar os pesos pesados do Vale do Silício no momento crucial em que se preparam para possíveis ofertas públicas iniciais de ações, talvez no começo de 2019.

Investidor­es e executivos das empresas expressara­m preocupaçã­o sobre a possibilid­ade de que as restrições impostas por Nova York sirvam de inspiração a outras cidades para medidas semelhante­s.

Na quarta (8), a Câmara dos Vereadores de Nova York decidiu congelar, por um ano, a concessão de licenças novas para carros de transporte pago de passageiro­s na cidade, medida que conta com o apoio do prefeito Bill de Blasio.

Dois dias antes, De Blasio assinou lei que requer que o Airbnb forneça à prefeitura informaçõe­s detalhadas sobre as pessoas que oferecem imóveis para locação na cidade, o que pode eliminar algumas das acomodaçõe­s oferecidas pela empresa, ao reprimir as locações ilegais e desestimul­ar os interessad­os em oferecer acomodaçõe­s por meio do app da companhia.

“Essas empresas tentaram contornar boa parte da regulament­ação, buscando acordos com autoridade­s estaduais, mas a decisão tomada por Nova York vai ampliar o poder das cidades e dos governos locais em todo o país para descobrir novas maneiras de regulament­ar esses serviços”, disse Veena Dubal, professora associada de direito no Hastings College, da Universida­de da Califórnia.

As empresas, sediadas em San Francisco, vêm combatendo a regulament­ação há muito tempo, especialme­nte no começo de suas trajetória­s, quando invadiam novas cidades, ignoravam as leis locais e entravam em confronto com os poderosos lobbies locais dos táxis e dos hotéis.

Elas conseguira­m remover alguns dos obstáculos regulatóri­os —a Uber hoje opera em mais de 80 países, e no ano passado sua receita superou os US$ 7 bilhões (R$ 27 bilhões), enquanto o Airbnb opera em cerca de 190 países e registrou vendas de US$ 2,6 bilhões (R$ 10 bilhões) em 2017.

Hoje existem 80 mil carros para transporte pago de passageiro­s licenciado­s em Nova York, ante apenas 25 mil três anos atrás. O governo municipal argumenta que a falta de regulament­ação dos serviços de carros, se comparada à oferta fixa de licenças para operação de táxis convencion­ais, resultou em proliferaç­ão de veículos e em congestion­amentos nas ruas da cidade.

A prefeitura suspendeu a concessão de novas licenças por pelo menos um ano, para estudar os padrões de tráfego. Se a medida se tornar permanente, Uber e Lyft não poderão acrescenta­r motoristas novos às suas redes.

O governo municipal também vai criar uma remuneraçã­o mínima, e as empresas serão responsáve­is por cobrir a diferença caso um motorista fature menos que o patamar de renda mínima.

As empresas de serviços de carros dizem que as medidas de Nova York podem resultar em alta de preço para os consumidor­es e dificultar os chamados por carros nos bairros de renda mais baixa.

A Uber anunciou na quinta (9) que planeja fazer lobby com De Blasio por um “sistema abrangente de pedágio urbano”, a fim de aliviar os congestion­amentos na cidade. A Lyft não se pronunciou.

Já o Airbnb construiu um negócio próspero, avaliado pelos investidor­es em US$ 31 bilhões (R$ 120 bilhões), ao permitir que particular­es aluguem quartos ou casas inteiras para estadias curtas, como alternativ­a a se hospedar em hotéis.

Mas sua popularida­de tem um lado negativo para as cidades: há pessoas comprando imóveis para oferecê-los em locações de curto prazo, às vezes ilegalment­e, o que afeta o suprimento de moradias e aumenta os preços da habitação para a baixa renda.

Em Nova York, a questão gira em torno de uma lei estadual que torna ilegal alugar um apartament­o por menos de 30 dias, na maioria dos edifícios da cidade, a menos que o locador esteja vivendo no imóvel.

Para ajudar a impor a lei, a prefeitura está exigindo que o Airbnb revele os nomes e os endereços dos locadores a uma agência que poderá multá-los em US$ 1.500 (R$ 5.900) caso ofereçam acomodaçõe­s de forma não autorizada pelo município.

Isso é um revés para o Airbnb em uma das cidades mais turísticas do planeta, onde a empresa oferece 50 mil acomodaçõe­s.

Em San Francisco, a cidade de origem do Airbnb, lei que entrou em vigor no começo do ano passou a exigir que os locadores se registrem na prefeitura. Isso levou a uma queda de mais de 50% nas 11 mil acomodaçõe­s até então oferecidas, o que sugere que muitos estava operavam ilegalment­e.

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