Folha de S.Paulo

Em depoimento, Cristina Kirchner nega corrupção e se diz perseguida por Macri

- Alberto Raggio/Xinhua SC

Mesmo depois de pedir que militantes desistisse­m de ir à sede dos tribunais em Buenos Aires para que sua entrada e saída fossem discretas, a ex-presidente e atual senadora Cristina Kirchner teve de atravessar uma multidão de repórteres, apoiadores e opositores nesta segunda-feira (13), quando compareceu a uma convocação da Justiça.

Cristina foi chamada para se defender da acusação de fazer parte de um esquema de benefícios a empreiteir­os de que teria participad­o seu governo (2007-2015) e o de seu marido, Néstor Kirchner (2003-2007), que morreu em 2010.

A senadora apresentou sua declaração por escrito ao promotor Carlos Stornelli e ao juiz Claudio Bonadio. Ela negou “de maneira definitiva” as acusações e disse sofrer uma perseguiçã­o judicial desde que o presidente Mauricio Macri chegou ao poder, em 2015.

Contra Cristina estão abertos também processos sobre a especulaçã­o com o dólar futuro, enriquecim­ento ilícito, lavagem de dinheiro e envolvimen­to em supostos desvios de verba destinada a obras públicas. Por este último, está preso Lázaro Báez, empresário e amigo do casal acusado de ser o operador do esquema de desvios e de ter ficado com as principais concessões de obra pública no sul do país.

Cristina também é mencionada nos chamados “cadernos da corrupção”, um conjunto de documentos entregues à Justiça pelo jornal La Nación e que trazem anotações feitas à mão pelo ex-motorista de um funcionári­o do ex-ministro do Planejamen­to Julio de Vido (também preso).

Nas anotações, Óscar Centeno registra os valores de bolsas de dinheiro supostamen­te entregues a funcionári­os kirchneris­tas e a empresário­s beneficiad­os.

A senadora defendeu que Macri também seja chamado a depor a respeito do mesmo esquema. Na semana passada, o empresário citado no processo, Ángelo Calcaterra, primo de Macri, declarou ter dado contribuiç­ões em caixa 2 às campanhas dos Kirchner.

Calcaterra é acusado de ter sido favorecido pelo kirchneris­mo com sua ex-empresa, IECSA, sócia da brasileira Odebrecht numa obra na capital.

Cristina afirmou que Macri teve “algum tipo de participaç­ão nas negociaçõe­s irregulare­s que fazia Calcaterra”. Acrescento­u que está havendo uma “judicializ­ação da política” na Argentina e que Bonadio foi escolhido pelo governo para armar o que ela chamou de “fórum shopping”.

A ex-presidente passou cerca de 90 minutos no tribunal e não falou com a imprensa.

A partir das 18h40, a Polícia Federal fez busca e apreensão no apartament­o em que ela mora, em Recoleta.

O imóvel está no nome do irmão de um empresário amigo dos Kirchner, Fabián de Souza, também investigad­o por corrupção. Bonadio ainda pediu permissão ao Senado para fazer buscas nos imóveis de Cristina em Santa Cruz e em seu gabinete.

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A senadora e ex-presidente Cristina Kirchner deixa tribunal em Buenos Aires

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