Lira turca afunda, arrasta emergentes e afeta moeda no Brasil
BC da Turquia anunciou medidas para aumentar liquidez, mas investidores esperavam elevação nas taxas de juros
A lira turca registrou nesta segunda-feira (13) novo dia de forte desvalorização e arrastou outras moedas, em meio a temores de contágio da crise a emergentes. Medidas do banco central turco para tentar injetar confiança nos investidores falharam.
Depois de cair quase 15% na sexta (10), a moeda turca recuou 8,2% nesta sessão —no ano, a depreciação atinge 45%.
O mercado desconsiderou a decisão do banco central turco de reduzir os depósitos compulsórios —parcela que os bancos são obrigados a manter na autoridade monetária— em uma tentativa de aumentar a liquidez do mercado.
Nos últimos dias, as atenções se voltaram para uma disputa entre os Estados Unidos e a Turquia, aliada dos americanos há mais de 60 anos.
O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou na sexta que autorizou o Departamento de Estado do país a dobrar as tarifas sobre aço e alumínio importados da Turquia, em retaliação à detenção, pelas autoridades turcas, de um pastor evangélico da Carolina do Norte.
A decisão aprofundou a crise da lira turca.
Para Katie Nixon, diretora de investimentos da área de gestão de fortunas da Northern Trust, as ações adotadas pelo banco central turco ficaram bem aquém do que o mercado percebe como necessário para conter a inflação e a depreciação da moeda, como um aumento expressivo na taxa de juros e a adoção de uma política de austeridade fiscal.
A situação na Turquia alimentou a aversão dos investidores ao risco e contaminou as principais Bolsas do mundo e as moedas de emergentes.
O dólar subiu 0,87%, para R$ 3,898, na maior cotação em mais de um mês. Ao longo do dia, chegou a bater R$ 3,93.
A moeda americana ganhou força ante 22 das 24 principais divisas emergentes. Apenas o dólar de Hong Kong e o bath tailandês ficaram estáveis.
A maioria das Bolsas reagiu a essa piora no cenário. Nos Estados Unidos, o Dow Jones, principal índice de Nova York, caiu 0,5%. O S&P 500 teve baixa de 0,4%, e o índice da Bolsa de tecnologia Nasdaq recuou 0,25%.
Após oscilar no vermelho, a Bolsa brasileira acelerou a alta no fim do dia e conseguiu fechar com avanço de 1,28%, para 77.496,45 pontos, conforme investidores aproveitaram os cinco pregões seguidos de baixa para remontar posições.
Com a volatilidade no mercado, as negociações no Tesouro Direto foram suspensas às 11h05 e novamente às 14h10. As transações foram normalizadas por volta das 15h30.
Os próximos dias, no entanto, devem continuar marcados por uma piora na aversão a risco e um temor de contágio, enquanto investidores tentam medir a exposição dos bancos europeus a títulos da dívida turca, afirma Katie Nixon, diretora de investimentos da área de gestão de fortunas da Northern Trust.
“Há mercados emergentes com moedas frágeis e uma grande necessidade de financiamento externo (principalmente de dólar). O medo é que o que acontece na Turquia não fique na Turquia”, afirmou, em nota.
Entre essas moedas mais vulneráveis estariam o rand sul-africano, que perdeu
2,88% nesta segunda, e a rupia indonésia, que recuou 0,83%.
O BCE (Banco Central Europeu) se preocupa com a exposição de algumas instituições financeiras do bloco, grandes financiadoras do governo e das empresas turcas, à lira.
Leandro Ruschel, sócio-fundador do Grupo L&S, lembra que a Turquia é um dos emergentes que mais têm dívida externa das empresas em dólar.
“Essa dívida se torna impagável conforme a lira vale cada vez menos. Seu enfraquecimento pode gerar uma quebradeira geral entre empresas e efeito dominó no sistema financeiro europeu”, diz.