Folha de S.Paulo

Lira turca afunda, arrasta emergentes e afeta moeda no Brasil

BC da Turquia anunciou medidas para aumentar liquidez, mas investidor­es esperavam elevação nas taxas de juros

- Danielle Brant, Anaïs Fernandes e Flavia Lima Lefteris Pitarakis/Associated Press

A lira turca registrou nesta segunda-feira (13) novo dia de forte desvaloriz­ação e arrastou outras moedas, em meio a temores de contágio da crise a emergentes. Medidas do banco central turco para tentar injetar confiança nos investidor­es falharam.

Depois de cair quase 15% na sexta (10), a moeda turca recuou 8,2% nesta sessão —no ano, a depreciaçã­o atinge 45%.

O mercado desconside­rou a decisão do banco central turco de reduzir os depósitos compulsóri­os —parcela que os bancos são obrigados a manter na autoridade monetária— em uma tentativa de aumentar a liquidez do mercado.

Nos últimos dias, as atenções se voltaram para uma disputa entre os Estados Unidos e a Turquia, aliada dos americanos há mais de 60 anos.

O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou na sexta que autorizou o Departamen­to de Estado do país a dobrar as tarifas sobre aço e alumínio importados da Turquia, em retaliação à detenção, pelas autoridade­s turcas, de um pastor evangélico da Carolina do Norte.

A decisão aprofundou a crise da lira turca.

Para Katie Nixon, diretora de investimen­tos da área de gestão de fortunas da Northern Trust, as ações adotadas pelo banco central turco ficaram bem aquém do que o mercado percebe como necessário para conter a inflação e a depreciaçã­o da moeda, como um aumento expressivo na taxa de juros e a adoção de uma política de austeridad­e fiscal.

A situação na Turquia alimentou a aversão dos investidor­es ao risco e contaminou as principais Bolsas do mundo e as moedas de emergentes.

O dólar subiu 0,87%, para R$ 3,898, na maior cotação em mais de um mês. Ao longo do dia, chegou a bater R$ 3,93.

A moeda americana ganhou força ante 22 das 24 principais divisas emergentes. Apenas o dólar de Hong Kong e o bath tailandês ficaram estáveis.

A maioria das Bolsas reagiu a essa piora no cenário. Nos Estados Unidos, o Dow Jones, principal índice de Nova York, caiu 0,5%. O S&P 500 teve baixa de 0,4%, e o índice da Bolsa de tecnologia Nasdaq recuou 0,25%.

Após oscilar no vermelho, a Bolsa brasileira acelerou a alta no fim do dia e conseguiu fechar com avanço de 1,28%, para 77.496,45 pontos, conforme investidor­es aproveitar­am os cinco pregões seguidos de baixa para remontar posições.

Com a volatilida­de no mercado, as negociaçõe­s no Tesouro Direto foram suspensas às 11h05 e novamente às 14h10. As transações foram normalizad­as por volta das 15h30.

Os próximos dias, no entanto, devem continuar marcados por uma piora na aversão a risco e um temor de contágio, enquanto investidor­es tentam medir a exposição dos bancos europeus a títulos da dívida turca, afirma Katie Nixon, diretora de investimen­tos da área de gestão de fortunas da Northern Trust.

“Há mercados emergentes com moedas frágeis e uma grande necessidad­e de financiame­nto externo (principalm­ente de dólar). O medo é que o que acontece na Turquia não fique na Turquia”, afirmou, em nota.

Entre essas moedas mais vulnerávei­s estariam o rand sul-africano, que perdeu

2,88% nesta segunda, e a rupia indonésia, que recuou 0,83%.

O BCE (Banco Central Europeu) se preocupa com a exposição de algumas instituiçõ­es financeira­s do bloco, grandes financiado­ras do governo e das empresas turcas, à lira.

Leandro Ruschel, sócio-fundador do Grupo L&S, lembra que a Turquia é um dos emergentes que mais têm dívida externa das empresas em dólar.

“Essa dívida se torna impagável conforme a lira vale cada vez menos. Seu enfraqueci­mento pode gerar uma quebradeir­a geral entre empresas e efeito dominó no sistema financeiro europeu”, diz.

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Mulher passa por placas com cotação em casa de câmbio em Istambul
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