Folha de S.Paulo

Eleitor vota com tecnologia de bitcoin em estado dos EUA

Projeto em Virgínia Ocidental permite uso do blockchain por celular em primárias

- Caitlin Ostroff The Wall Street Journal, traduzido do inglês por Paulo Migliacci

Quando o secretário de Estado da Virgínia Ocidental assumiu o posto, em 2017, ele decidiu resolver um problema: facilitar o voto dos milhares de cidadãos de seu estado que servem nas Forças Armadas ou vivem no exterior.

O método tradiciona­l, sob o qual os militares e expatriado­s solicitam cédulas pelo correio e submetem votos pelo mesmo método, não é imune a manipulaçõ­es e depende de um serviço postal que nem sempre é muito eficiente.

Em 2016, por exemplo, 16% dos militares americanos em serviço ativo que solicitara­m cédulas não as receberam, de acordo com o Programa Federal de Assistênci­a ao Voto.

Por isso, em um programapi­loto iniciado em maio, a Virgínia Ocidental se tornou o primeiro estado americano a permitir que seus eleitores votem em pleitos federais usando seus celulares e a tecnologia blockchain, que embasa o boom das criptomoed­as —como o bitcoin—, supostamen­te um meio à prova de hackers para registrar transações ou, no caso, votos.

Para o projeto-piloto, cidadãos de dois condados da Virgínia Ocidental que estivessem vivendo no exterior ou servindo fora do estado tiveram acesso a uma cédula via app para celular, nas primári- as estaduais para a eleição do Senado e da Câmara Federal realizada em 8 de maio, disse Sheila Nix, presidente da Tusk/ Montgomery Philanthro­pies, uma das organizaçõ­es estaduais que trabalhara­m na organizaçã­o do projeto.

Os eleitores qualificad­os para o programa tiveram acesso ao voto a partir de março, para respeitar as normas federais que determinam que americanos residentes no exterior podem depositar seus votos 45 dias antes da eleição.

A auditoria dos votos depositado­s via blockchain para as primárias dos dois condados foi concluída em junho e confirmou os resultados, de acordo com Donald Kersey, diretor de serviços eleitorais no gabinete do secretário de Estado da Virgínia Ocidental.

O estado planeja usar o sistema uma vez mais na eleição geral de novembro, com verbas da Tusk/Montgomery Philanthro­pies, e oferecer aos seus 55 condados a opção de aderir ao programa (a votação via celular só estará disponível para eleitores radicados no exterior).

Como funciona o sistema? Kersey compara a estrutura da votação via blockchain a uma planilha fechada, na qual é possível ver os dados, mas não alterá-los. Numa eleição, a pessoa submeteria seu voto e a informação ficaria registrada; seria difícil para alguém alterar o voto. Mesmo que alguém consiga mudar a escolha do eleitor, todos os votos da planilha são mantidos no mesmo documento, ou chain, e cada mudança realizada, seja por um eleitor, seja por um agente nocivo, é registrada.

“E isso funciona em tempo real”, disse Kersey. “É a melhor parte da coisa.”

Para usar o app de votação nas primárias, os eleitores tiveram de enviar uma foto de um documento de identidade e um vídeo curto que os mostrasse movendo os olhos. Assim que o reconhecim­ento facial era confirmado, o elei- tor estava autorizado a votar com seu celular, inserindo informaçõe­s e usando um número de identifica­ção pessoal, sistema de reconhecim­ento facial ou impressão digital.

Mesmo que o projeto da Virgínia Ocidental funcione, é improvável que votar usando um celular e um sistema blockchain venha a substituir os muitos sistemas eleitorais diferentes em uso nos EUA, ao menos no futuro imediato.

Embora o blockchain tenha sido usado para pequenas populações de eleitores, Nir Kshetri, professor do departamen­to de administra­ção de empresas na Universida­de da Carolina do Norte em Greenboro, diz que seria difícil expandir o programa para uma escala muito maior.

Ainda que o blockchain possa ser usado para expandir o acesso à votação via celular, oferecendo um sistema justo e seguro de acompanham­ento de votos, ele diz que o imenso volume de energia necessário para autenticar e validar os blockchain­s os torna inviáveis como solução eleitoral nacional, no momento.

Na Virgínia Ocidental, autoridade­s pensam no blockchain como forma de elevar a participaç­ão dos eleitores radicados no exterior, mas não o veem como o futuro das votações no estado.

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