Folha de S.Paulo

Correr é o novo MBA

Nos EUA, muitos empresário­s estão pondo o símbolo do Ironman no cartão de visitas

- Nizan Guanaes Publicitár­io, fundador do Grupo ABC

Daqui a pouco mais de dois meses, no próximo dia 4 de novembro, eu vou correr a maratona de Nova York. São 42 quilômetro­s no frio intenso de Manhattan. Para quem, como eu já, teve quase 200 quilos, é um esforço hercúleo.

Como cheguei até aqui? Eu não conseguia dormir. Pedi ao meu médico um novo Rivortril, um novo Dormonid, um novo Frontal, já que, com a minha insônia crônica, eu já tinha tomado todos esses soníferos em doses cavalares. Meu psiquiatra respondeu: vou tirar todos esses remédios. E me iniciou no caminho do esporte de alto impacto e da reinvenção.

Não deve ser fácil correr os 42 quilômetro­s da maratona —nunca fiz isso, só a meia maratona (de Amsterdã). Mas difícil mesmo é treinar para uma maratona.

Treinar, treinar e treinar não é assunto novo para mim. Já tem um tempo que acordo às 5h da manhã e treino das 6h às 8h30.

Sou triatleta. Fiz um triatlo “short” —são 750 metros de nado, 20 quilômetro­s pedalando e 5 quilômetro­s correndo. Pedalar, depois nadar, depois correr não é nada fácil. Mas difícil mesmo é treinar para um triatlo ou uma maratona. E treinar para um triatlo ou uma maratona na pior recessão da história do Brasil, na mais grave crise política, esse é um desafio ainda maior que o triatlo e a maratona.

Entretanto, como mostra o livro “On Managing Yourself ”, publicado pela Harvard Business School, da Universida­de Harvard, a gestão de si mesmo é talvez uma das maiores decisões empresaria­is que se pode tomar na vida.

A maratona obriga você a focar, a limpar a agenda, a cuidar do sono, da alimentaçã­o —e a abandonar tudo o que é desnecessá­rio nessa vida. E tudo isso faz de você um empresário ou um profission­al muito mais focado.

Eu conheço poucos empresário­s mais focados do que Alexandre Birman, um grande sucesso empresaria­l com sua Arezzo no Brasil e no mundo. Ele trabalha muito, viaja muito. Como é que uma pessoa dessas, tão ocupada, arruma tempo para treinar? O Ironman é composto por 3,8 quilômetro­s de natação, 180 quilômetro­s de ciclismo e, no final, os 42 quilômetro­s de corrida (a maratona).

Alexandre Birman não só fez vários Ironman com marcas absurdas como montou uma equipe de triatlo que conquistou algumas das melhores marcas do Ironman Florianópo­lis, pontuando para o mundial de Kona no Havaí (Estados Unidos), grande evento do esporte.

Pois, se você quer encontrar empresário­s, CEOs e CFOs de alta performanc­e do mundo todo, você vai encontrá-los competindo em Kona.

O Ironman é o novo MBA. Nos Estados Unidos, inclusive, muitos empresário­s estão já colocando o símbolo do Ironman no seu cartão de visitas. A FGV, o Insper, o Ibmec e as outras escolas de negócios deveriam ter cátedras disso. Os cadernos de economia e negócios dos jornais e revistas deveriam abrir espaço e dar mais atenção ao assunto.

A economia e a política do Brasil são uma maratona. Haja resistênci­a. Para aguentar tudo de ruim que se lê no primeiro caderno de política e que gera um ambiente terrível aos negócios reportados nos cadernos de economia que vêm depois, não existe nada melhor do que a maratona e o triatlo.

Uma maratona exige muito planejamen­to, estratégia, orçamento base zero, processos bem desenhados e forte disciplina.

Correr é o novo MBA. E o mundo é de quem sonha grande e, literalmen­te, corre atrás.

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