Folha de S.Paulo

No tempo de Lula

- Bruno Boghossian

Quando Lula entrou no carro preto da Polícia Federal em 7 de abril, seu eleitorado balançou. As pesquisas mostravam uma disparada do percentual de brasileiro­s que diziam acreditar que o ex-presidente não seria candidato. O petista ainda liderava a disputa, mas seu índice de intenção de votos caiu pela primeira vez desde 2016.

Desde então, o PT não vive mais a ilusão da candidatur­a Lula, apesar da insistênci­a pública. O discurso de que o ex-presidente poderia concorrer foi, inicialmen­te, uma ferramenta útil para aglutinar aqueles eleitores duvidosos. Em última instância, o partido superalime­ntou o personalis­mo para conseguir despersoni­ficar sua campanha.

Ainda que a promoção de Fernando Haddad à cabeça de chapa seja iminente, sua condição de porta-voz deve perdurar ao menos um pouco. Um vídeo divulgado pela sigla horas antes de a Justiça Eleitoral barrar oficialmen­te o ex-presidente dava o tom da mensagem.

“Tenho andado por todo o país e cruzado com muitas histórias. É grande a saudade que as pessoas sentem do tempo de Lula”, afirma Haddad na abertura do filme.

Como era de se esperar, o PT pede votos para o lulismo, não para um candidato. Ao apelar para a nostalgia da bonança dos mandatos do ex-presidente, a sigla surfa na recessão legada por Dilma Rousseff e na estagnação dos anos Michel Temer.

Preso, Lula será símbolo de oportunida­des perdidas desde que ele deixou o poder. A esperança dos petistas é que esse sentimento seja suficiente para convencer o eleitor a apertar seu número na urna.

A estratégia obriga Haddad a largar em marcha lenta. O ex-ministro de Lula deve absorver uma fatia consideráv­el de votos do padrinho, mas precisará demonstrar fôlego para retê-los por cinco semanas.

Apesar dos riscos, recorrer ao lulismo parece ser a única saída para o PT. Se a exclusão do ex-presidente produzir novas desconfian­ças, como em abril, não se sabe o caminho que seus eleitores seguirão.

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