Folha de S.Paulo

O dedo visível do Estado

Sistema tributário esmaga empresas e famílias

- José Ricardo Roriz Coelho

Presidente em exercício da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e presidente da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico)

Nos países desenvolvi­dos, e até em emergentes com vocação para um cresciment­o livre de amarras desnecessá­rias, a economia costuma funcionar guiada, em boa parte, pela mão invisível do mercado.

Não no Brasil.

Aqui, no lugar da mão, temos o polegar. Em vez de equilibrar harmonicam­ente o ambiente econômico, o dedo visível do Estado esmaga como insetos empresas e famílias, por meio de um sistema tributário oneroso e ineficient­e. Cada país tem a metáfora que merece.

Temos a maior carga tributária da América Latina e Caribe, segundo a OCDE (Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico. Pagamos em taxas, impostos e contribuiç­ões o equivalent­e a um terço do Produto Interno Bruto, nível 40% superior à média da região.

Em ordem de grandeza, a carga tributária tem sido a mesma desde 2005. Mas hoje —depois da recessão mais profunda da história recente, da qual emergimos com lentidão exasperant­e— a sensação generaliza­da é de que a sociedade está próxima do seu limite de tolerância.

É uma carga tributária de Primeiro Mundo, com a diferença de que não temos serviços públicos remotament­e comparávei­s aos do Reino Unido e adjacência­s para justificar o apetite pantagruél­ico do governo.

E há o agravante da injustiça social. Ricos e pobres pagam o mesmo imposto indireto sobre o pacote de macarrão comprado no supermerca­do da esquina, por exemplo.

Quanto à classe média —pelo menos aquela que consegue escapar dos serviços públicos de saúde e educação—, é obrigada a pagar, além dos impostos que os financiam, escolas particular­es e planos de saúde, talvez os maiores itens do orçamento doméstico das famílias desse estrato de renda.

Com as economias sugadas pelo Estado, pessoas e empresas recorrem aos bancos —e aí as notícias não são melhores. As taxas de juros praticadas pelos bancos brasileiro­s estão entre as maiores do mundo.

É inacreditá­vel que um empréstimo no cheque especial custe mais de 300% ao ano. Não admira que os bilionário­s lucros dos bancos sejam maiores do que o faturament­o da maioria das empresas que recorrem aos seus créditos.

Estamos em plena campanha política, talvez a mais indecifráv­el e importante das últimas décadas. Espera-se dos presidenci­áveis que apresentem conjunto consistent­e de propostas diante de tal situação.

Por enquanto, os principais candidatos à Presidênci­a da República, impelidos a se posicionar, apenas tangenciam a questão da carga fiscal e dos juros.

Quase todos acenam com a simplifica­ção do sistema tributário, substituin­do cinco impostos por um único tributo, o IVA (Imposto sobre Valor Agregado) ou equivalent­e. Geraldo Alckmin fala em eliminar o déficit público em dois anos. Ciro Gomes quer também reduzir os juros, desregulam­entando o setor bancário para estimular a competição.

Ele, Marina Silva e Haddad propõem reduzir o Imposto de Renda das empresas. Jair Bolsonaro apenas menciona que fará com que “os que pagam muito paguem menos e os que sonegam e burlam paguem mais”. E o PT também não entra nos detalhes ao prometer que vai combater o spread bancário.

Este espaço não comporta a análise esmiuçada dos planos. Registre-se apenas que são intenções esparsas, quando o que o país precisa, para merecer uma metáfora à altura de seu potencial, é de uma nova proposta para seus sistemas tributário e financeiro, que não sufoque a sociedade a fim de manter um Estado muito maior do que o que de fato precisamos.

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