Folha de S.Paulo

Cenário inédito testará força da propaganda

Indefiniçã­o da disputa, novas regras e mudanças de hábito põem em xeque estratégia­s que deram certo no passado

- Ricardo Balthazar

A campanha presidenci­al deste ano permitirá testar a força da propaganda eleitoral na televisão e nas redes sociais num ambiente muito diferente daquele em que os políticos brasileiro­s se acostumara­m a buscar votos.

As pesquisas do Datafolha mostram que os candidatos que venceram as últimas seis eleições presidenci­ais já chegaram ao dia da estreia do horário eleitoral como favoritos e usaram o período para crescer e consolidar a liderança.

A propaganda foi decisiva para definir os adversário­s enfrentado­s pelos líderes da corrida nos anos em que a disputa chegou ao segundo turno, tornando a competição pela segunda vaga especialme­nte acirrada em 2002 e 2014.

As pesquisas mostram também que o interesse pelos programas dos candidatos vem diminuindo, mas ele ainda é grande, e é maior entre os eleitores mais pobres, cuja dependênci­a da televisão como fonte de informação é maior.

Ninguém com menos de 10% do tempo reservado para o horário eleitoral chegou ao segundo turno de uma eleição presidenci­al no Brasil até hoje, nota o cientista político Jairo Nicolau, da Universida­de Federal do Rio de Janeiro.

Mas desta vez o primeiro colocado nas pesquisas, nos cenários em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é excluído, é o deputado Jair Bolsonaro (PSL), que tem 22% das intenções de voto e terá apenas 8 segundos para falar no horário eleitoral.

Bolsonaro conta com seus milhões de seguidores na internet para se defender dos ataques sofridos na televisão e manter votos suficiente­s para chegar ao segundo turno, mas ninguém consegue prever se a estratégia terá resultado.

“As mídias sociais podem ajudá-lo a cristaliza­r votos e enrijecer a bolha em que ele cresceu, mas não a alcançar quem pensa diferente dele”, diz o cientista político Felipe Borba, professor da Unirio.

Com 45% do tempo dos programas do horário eleitoral e o direito de veicular diariament­e uma dúzia de anúncios nos intervalos comerciais da programaçã­o das redes de televisão, Geraldo Alckmin (PSDB) garantiu enorme exposição para divulgar sua plataforma eleitoral e atacar os rivais.

Mas nenhum candidato com tantos recursos chegou antes a esta etapa da competição com prestígio tão reduzido quanto o de Alckmin. Segundo o Datafolha mais recente, o tucano alcançou 9% das intenções de voto em agosto.

Além disso, regras adotadas para esta eleição impedirão que os marqueteir­os de Alckmin explorem as mesmas estratégia­s que tiveram sucesso em campanhas anteriores.

A legislação determina que os candidatos apareçam em 75% do tempo de seus programas, o que reduz o espaço disponível para aliados que poderiam combater seus adversário­s sem que o cabeça da chapa precisasse sujar as mãos.

“Candidatos evitam se associar a campanhas negativas porque sabem que os eleitores não gostam, mas terão menos tempo para bater nos rivais se fizerem isso desta vez”, afirma Jairo Pimentel, da FGV (Fundação Getulio Vargas).

O mesmo fator poderá prejudicar a transferên­cia de votos de Lula para o vice Fernando Haddad, que deve substituí-lo, porque o líder petista só poderá aparecer em 25% dos programas depois que a Justiça impediu sua candidatur­a.

Com 434 anúncios para exibir até outubro, Alckmin terá como contornar essa restrição. Os especialis­tas dizem que as propaganda­s são mais eficazes do que os programas do horário eleitoral, porque atingem eleitores menos interessad­os na disputa política quando estão despreveni­dos.

Mas pode ser também que esse efeito seja menor desta vez. “No intervalo comercial, todo mundo agora pega o celular para conferir as redes sociais”, diz Maurício Moura, que dirige o instituto de pesquisas Ideia Big Data. “É certo que o conteúdo veiculado na televisão será reproduzid­o nas redes, mas não sabemos quanta atenção receberá ali.”

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