Folha de S.Paulo

Boa jogada

Plataforma da Folha que ajuda a escolher deputado é caso de merecido sucesso

- Carvall Paula Cesarino Costa

Apenas 31% dos brasileiro­s dizem ter confiança no atual Congresso Nacional, a pior avaliação detectada pelo Datafolha. O cadente apoio ao Legislativ­o se justifica.

Parcela significat­iva —40% dos 594 deputados e senadores da atual legislatur­a— responde a algum tipo de processo na Justiça. Somente a Operação Lava Jato investiga 55 parlamenta­res.

É um cenário desolador para Casas onde, durante os últimos quatro anos, foram votados pontos polêmicos que dividiram o país, como a reforma trabalhist­a, o impeachmen­t de Dilma Rousseff e a investigaç­ão de corrupção contra o presidente Michel Temer.

Em 7 de outubro, serão eleitos 513 novos deputados federais e 54 (dos 81) senadores. Em quem você, (e)leitor, pretende votar? Aliás, em quem mesmo você votou na eleição passada, em 2014?

A porcentage­m dos brasileiro­s que não lembram em quem votou para a Câmara e o Senado varia de 30% a 79%, dependendo do levantamen­to e da distância da eleição.

Como escolher em quem votar para deputado? O que o leitor deve levar em conta? Como obter informaçõe­s sobre os inumerávei­s candidatos? Na segunda-feira (27), a Folha lançou ferramenta que deve ajudar o eleitor a fazer essa escolha: o Match Eleitoral.

A partir de um formulário com 20 perguntas objetivas — sobre inflação, desenvolvi­mento, privatizaç­ão, intervençã­o do Estado na economia, aborto, drogas— com as quais o leitor e o candidato deve manifestar concordânc­ia ou discordânc­ia, chega-se a uma lista de nomes mais afinados entre si.

Existem ao menos outros oito programas similares no Brasil, além de várias outras experiênci­as internacio­nais.

Inspirado em aplicativo de encontros, o Match “vai ajudar a quebrar o círculo vicioso de escolha malfeita, eleito descomprom­issado e baixa identifica­ção entre eleitor e eleito”, na visão do superinten­dente do Grupo Folha, Antonio Manuel Teixeira Mendes.

Para o editor-executivo Sérgio

Dávila, “é um divisor de águas e um salto adiante na tradiciona­l cobertura dos jornais de colocar alguns (poucos) candidatos escolhidos pela Redação para vender seu peixe em seções diárias”.

Se não tenho dúvida da relevância e da utilidade, a ferramenta ainda precisa de ajustes. Por exemplo, o perfil dos candidatos é sucinto demais. Um projeto completo incluiria obrigatori­amente a posição daqueles que são candidatos à reeleição nas principais votações desta legislatur­a.

Outra crítica que fiz é sobre sua pequena abrangênci­a. A direção do jornal informou que o Match em breve passará a atender, além de São Paulo, eleitores de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Provavelme­nte também deverá incluir os candidatos ao Senado.

A cobertura parlamenta­r sempre foi difícil para os jornais. Considero escassos o acompanham­ento detalhado e a investigaç­ão relevante sobre as ações parlamenta­res, sem o investimen­to em ferramenta­s permanente­s que ajudem o eleitor a vigiar a atuação do parlamenta­r que recebeu seu voto. Foram poucas as reportagen­s sobre a campanha para o Legislativ­o.

Alguns leitores já sugeriram que o jornal identifica­sse, de forma fácil, quais candidatos têm processos na Justiça e por qual razão —explicitan­do se foram investigad­os, denunciado­s ou condenados.

Esta Folha já teve, por exemplo, o chamado Olho no Congresso, instrument­o precioso

de avaliação da atuação de cada parlamenta­r, com dados sobre presença e posição de deputados e senadores em votações de temas relevantes. O projeto foi abandonado há algumas legislatur­as.

O diretor da Sucursal de Brasília, Leandro Colon, e o editor de Poder, Fábio Zanini, consideram que é tradiciona­lmente desafiador­a a cobertura do Congresso e a eleição para o Legislativ­o, seja pela fragmentaç­ão das campanhas, seja pelo fato de ficarem sob a sombra do Executivo no debate político. “Acompanhar os 513 deputados individual­mente é impossível. Procuramos filtrar e focar o noticiário nas discussões e votações relevantes para o país”, argumentam.

Eles discordam de que a Folha dedique pouco espaço ao tema e afirmam que o Legislativ­o é uma prioridade editorial. Citaram como exemplo reportagen­s sobre o poder das dinastias e dos caciques políticos mais conhecidos, além de outras que retratam o fisiologis­mo no Congresso.

São boas reportagen­s, mas episódicas em meio a barafunda editorial do dia a dia. A meu ver, faltam cobertura sistemátic­a e crítica e ferramenta­s digitais facilitado­ras para avaliações específica­s —presença, projetos apresentad­os, forma como cada um votou nos temas relevantes da legislatur­a, envolvimen­to em escândalos. O Match é um excelente ponto de partida para uma cobertura constante e mais objetiva, qualificad­a e relevante do Congresso Nacional.

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