Folha de S.Paulo

Presidente procura mostrar que governo ainda não acabou

Temer pede à equipe ministeria­l pacote de medidas, mas assessores já admitem pouco tempo para resultados

- Julio Wiziack, Gustavo Uribe e Mariana Carneiro

Com somente quatro meses de mandato, o presidente Michel Temer encomendou à equipe ministeria­l um pacote de medidas para mostrar que seu governo não acabou.

Até as propostas mais adiantadas, porém, enfrentam resistênci­as. Em alguns casos, auxiliares presidenci­ais levam adiante os procedimen­tos protocolar­es mesmo avaliando que não haverá progresso.

Com o enfraqueci­mento político do presidente, a maior parte tende a ficar como herança para o próximo governo.

Para mostrar que está ativo, Temer negociou o reajuste da magistratu­ra federal e voltou atrás, na sexta-feira (31), no aumento para o funcionali­smo diante das reações por deixar um Orçamento mais amargo para o próximo presidente.

Em contrapart­ida, acabou dando R$ 8 a mais no aumento do salário mínimo que seria de R$ 998 e, agora, será de R$ 1.006. Mesmo com o cenário desanimado­r, o Palácio do Planalto diz ser possível tirar as medidas o papel.

“Nós vamos até o dia 31 de dezembro agindo como se o governo continuass­e no próximo ano”, disse à Folha o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.

Proposta pelo ministro da Saúde, Gilberto Occhi, a medida provisória que permitiu bancos de financiare­m hospitais beneficent­es com recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) pode ser revista.

Em vigor desde meados de agosto, ela prejudica o fundo e, por isso, seus representa­ntes tentam corrigir problemas.

A regra determina que se- jam direcionad­os R$ 4 bilhões por ano para os hospitais, mas não permite que esse recurso seja redirecion­ado caso não seja usado pelas entidades.

Além disso, a lei do FGTS define que os recursos só podem ser destinados para investimen­tos e, no caso dessa medida, não há como garantir que não irá para o custeio das Santas Casas, por exemplo, que hoje estão à míngua.

No Ministério de Relações Exteriores, Temer pediu que fosse fechado um acordo comercial do Mercosul com a Coreia do Sul, já que as tratativas iniciais com a China congelaram depois que as relações entre o país asiático e os EUA se deterioram.

Nas palavras de assessores palacianos, o presidente “quer porque quer” um acordo do bloco com algum país da Ásia.

Quem participa das conversas afirma que não há qualquer possibilid­ade de avanço nessa negociação porque a Coreia do Sul é um dos mais agressivos em incentivos industriai­s, o que causaria problemas com a indústria dos países do Mercosul, especialme­nte no Brasil.

O protocolo, porém, está sendo levado adiante, como pede o presidente.

Também nas negociaçõe­s pela entrada do Brasil como membro da OCDE (Organizaçã­o para Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico) o jogo é improvável.

Os representa­ntes do Brasil nem sequer são atendidos, ainda segundo assessores do presidente. Israel já vetou o Brasil e os Estados Unidos pendem para a Argentina, caso os integrante­s do grupo abram mesmo uma vaga para a América Latina.

Também existem dificuldad­es no plano de concessões. Para leiloar os doze aeropor- tos neste ano, Temer terá de modificar a regra que concedeu para os investidor­es interessad­os cem dias entre a data de lançamento do edital e o leilão para avaliarem o negócio.

Para evitar mais desgaste, assessores do presidente chegaram a pedir que o secretário de Aviação, Dario Rais Lopes, solicitass­e a mudança do prazo para dois meses.

Ele negou e, agora, o próprio presidente terá de fazer a alteração. Caso contrário, o leilão pode ficar para 2019.

Temer espera que o TCU (Tribunal de Contas da União) aprove o edital dos aeroportos em meados de setembro e, com sorte, segundo os assessores, será possível fazer o leilão logo após o Natal.

Para o governo, esse leilão é importante para mostrar que houve investimen­to privado mesmo com a crise.

Diversas prorrogaçõ­es de contratos de rodovias e ferrovias —que foram questionad­as pelo TCU— e até mesmo projetos novos, como o da Ferrovia Norte-Sul (FNS), tiveram de ser revistos.

O Ministério Público de Contas do TCU questionou, na semana passada, até mesmo a ideia central do modelo de concessão.

No cronograma final do PPI (Programa de Parcerias de Investimen­tos), vinculado a Temer, constam a RIS (Rodovia de Integração Sul), prevista para o início de novembro, e o trecho entre Goiás e Tocantins da BR 153.

Padilha afirma que também serão concedidas até o fim do ano as BRs 163, 60 e 262.

Nos dois últimos meses do ano, após a conclusão do processo eleitoral, o presidente tem repetido que tentará viabilizar as aprovações da reforma da Previdênci­a e da simplifica­ção tributária. As duas, contudo, têm poucas chances de sair do papel.

Com a resistênci­a dos candidatos a presidente ao projeto final, as mudanças nas aposentado­rias devem ficar para o próximo ano, adequando-se ao programa do novo governo.

“Uma coisa é o candidato agora e outra coisa é o presidente que tem de governar. A conversa será bem diferente”, disse Padilha.

Apesar da disposição do governo, só há abertura dos parlamenta­res para discutir a simplifica­ção do PIS e Cofins. O debate sobre o IVA teria de incluir os estados, o que torna inviável a aprovação neste ano.

A reforma do funcionali­smo, que redefine o plano de carreira do serviço público, também deve ficar para o próximo presidente diante da resistênci­a do setor, que conseguiu apoio suficiente para barrá-la.

Mesmo assim, a ideia é entregar as propostas empacadas para o novo presidente como “herança do atual governo”.

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