Folha de S.Paulo

Sobreviven­te de tragédia no RS põe Inter na disputa pelo topo

Odair Hellmann estava no acidente com ônibus do Brasil de Pelotas em 2009

- Luiz Cosenzo

Treinador do Internacio­nal, vice-líder do Brasileiro, Odair Hellmann vive um momento de sucesso na sua breve carreira nove anos após sobreviver a um trágico acidente rodoviário que matou três pessoas e marcou o futebol do Rio Grande do Sul.

Efetivado no cargo em novembro de 2017, o técnico de 41 anos superou a desconfian­ça de torcedores e dirigentes para levar o Inter a uma boa colocação, mas sua história poderia ter sido bem diferente.

Em janeiro de 2009, quando ainda atuava como volante do Brasil de Pelotas, ele estava no ônibus da equipe que caiu de um barranco de 40 metros em uma rodovia do estado. Três pessoas morreram no acidente: o atacante Cláudio Milar, o zagueiro Régis e o preparador de goleiros Giovani Guimarães.

“O ônibus bateu no guard rail e caiu barranco abaixo. Eu não desmaiei, fiquei tomando pancada, e o ônibus virando. Fiquei preso nas ferragens. Foi desesperad­or. Estava com as pernas trancadas nas ferragens e o Danrlei [goleiro da equipe na época] me puxou. Ali você cria uma força que não sabe de onde vem”, relembra Odair, que sofreu uma lesão na lombar e ficou seis meses em recuperaçã­o.

“Foi um período de muitas dúvidas sobre parar ou continuar a carreira. Coloquei na minha cabeça que tinha até 39 anos para me preparar para uma nova função e fui buscar conhecimen­to”, completou.

Com a decisão de se aposentar dos gramados, Odair Hellmann, com 32 anos, foi pedir emprego para Fernando Carvalho, que ocupava o cargo de vice-presidente de futebol do clube colorado.

Os dois se conheciam desde o fim da década de 1990, quando o menino da cidade catarinens­e de Salete, a cerca de 260 quilômetro­s de Florianópo­lis, estava na categoria sub20 do Internacio­nal. No clube, o volante jogou pelas categorias infantil, juvenil e júnior.

Apesar de ter um futuro promissor, Odair não teve muitas chances no Internacio­nal. A sua passagem pelo clube foi abreviada em razão de uma lesão no joelho esquerdo.

Começou, então, a perambular por equipes menores como Veranópoli­s (RS), América (RN), Enkopings (Suécia), América (RJ), Remo (PA), CRB (AL), Eastern (Hong Kong) e, por fim, Brasil de Pelotas (RS).

O reencontro com o Inter e Carvalho veio na sequência, quando o dirigente colocou Hellmann para trabalhar como observador da base.

“O Odair me procurou e disse que estava em uma situação terrível, que naquele momento faltava até alimento em casa. As reservas estavam acabando. Ele começou a trabalhar como observador com um salário pequeno e hoje está no time principal”, contou o ex-presidente.

No Inter, ele trabalhou com Dunga, Abel Braga, Argel Fucks, Celso Roth e Diego Aguirre, hoje no São Paulo. Odair Hellmann também atuou como auxiliar técnico na seleção brasileira sub-17 e na sub-23 que conquistou o ouro olímpico em 2016, sob o comando de Rogério Micale.

“Cada treinador tem uma caracterís­tica, uma ideia. Peguei um pouquinho de cada um”, disse Odair, que atribui seus resultados na equipe à transparên­cia no trato com os atletas. O sucesso imediato do treinador surpreende­u o próprio Fernando Carvalho.

“Sempre achei que ele teria muito futuro, mas não imaginava que daria essa resposta imediata. Quando foi efetivado, achei que era um passo muito grande e, inclusive, falei isso para ele”, disse Carvalho.

Com 42 pontos no Brasileiro, três a menos do que o líder São Paulo, o Inter pode até assumir o topo neste domingo (2). Enfrenta o Cruzeiro, às 19h, no Mineirão.

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Ricardo Duarte/Internacio­nal Odair Hellmann em treino do Inter

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