Folha de S.Paulo

São Paulo perde liderança na educação básica do país

Estado cai nos ensinos fundamenta­l e médio em indicador do governo federal

- Paulo Saldaña e Estêvão Gamba

A rede de ensino do estado de São Paulo perdeu a liderança no país no principal indicador de qualidade da educação básica. É o que mostra o Índice de Desenvolvi­mento da Educação de 2017. Divulgado ontem, o Ideb é produzido a cada dois anos.

Em 2015, São Paulo liderava no primeiro (5º) e no último ano (9º) do ensino fundamenta­l e também no ensino médio. Em 2017, contudo, perdeu terreno nessas três etapas para outras unidades da federação. Entre elas, Goiás destacou-se.

O Ideb é calculado a partir da taxa de aprovação das escolas e do desempenho dos alunos em uma avaliação de matemática e português.

O PSDB governa São Paulo desde 1995. Geraldo Alckmin deixou o cargo neste ano para concorrer à Presidênci­a.

Ele afirmou que o estado está no caminho certo no ensino fundamenta­l e que, no médio, o país está estagnado. A gestão de Márcio França (PSB), atual governador e candidato à reeleição, disse ser necessário aperfeiçoa­r a educação em SP.

Na semana passada, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, Geraldo Alckmin (PSDB), exgovernad­or e candidato à Presidênci­a, disse que o estado de São Paulo tem a melhor educação do país. Não tem mais.

A rede de ensino paulista perdeu a liderança no principal indicador de qualidade da educação básica, ficando para trás tanto em duas etapas do ensino fundamenta­l quanto no ensino médio, no qual a situação é mais grave.

A radiografi­a aparece no Ideb (Índice de Desenvolvi­mento da Educação) 2017, divulgado nesta segunda-feira (3). Na edição anterior, em 2015, São Paulo liderava nos anos iniciais (5º ano) e nos finais (9º ano) do ensino fundamenta­l e no médio.

No ensino médio, a rede estadual de São Paulo teve queda no Ideb, passando de 3,9 para 3,8 —espera-se que algum dia o país alcance o índice 6. Com esse resultado, o ensino médio paulista foi ultrapassa­do por Goiás, Espírito Santo e Pernambuco e ficou empatado com o oferecido no Ceará e em Rondônia.

Apesar desse empate, apenas São Paulo teve queda no indicador entre os mais bem posicionad­os em 2017.

O Ideb é calculado a partir da taxa de aprovação das escolas e do desempenho dos alunos em uma avaliação de matemática e português. Os dados das provas foram conhecidos na semana passada, e as notas de São Paulo no ensino médio também caíram.

O estado mais rico do país é governado pelo PSDB desde 1995. O ex-governador Geraldo Alckmin, que deixou o cargo neste ano para se candidatar à Presidênci­a, governou São Paulo de 2001 a 2006 e depois de 2011 a abril de 2018, quando se afastou para disputar a corrida ao Planalto.

O ensino médio é apontado como um dos maiores gargalos do país. Redes estaduais são responsáve­is por 8 a cada 10 matrículas na etapa.

Já no ensino fundamenta­l, São Paulo subiu no Ideb no 5º e no 9º anos. Mas o tímido avanço não foi suficiente para se manter no topo e acabou ultrapassa­do por outras redes, cujos saltos foram maiores.

O indicador de SP nos anos iniciais passou de 6,3 para 6,5. Entre as redes estaduais, foi superado por Ceará e Goiás e ficou empatado em terceiro lugar com Minas Gerais.

Nos anos finais, o Ideb da rede paulista passou de 4,7 para 4,8. O índice foi superado por Goiás e Rondônia e ficou empatado com Santa Catarina.

O Ideb também estipula metas a cada edição. São Paulo só bateu a meta de 2017 nos anos iniciais —o que não se repetiu no 9º ano e no ensino médio.

A liderança no Ideb 2015 nas três etapas da educação básica tem sido usada recorrente­mente pelo governo estadual como argumento da qualidade das escolas estaduais, sobretudo para responder a críticas de problemas na rede.

Nos últimos anos, a gestão Alckmin esvaziou programas como o de alfabetiza­ção e de reforço presencial para alunos com dificuldad­es.

Política educaciona­l central das gestões tucanas em SP, o bônus por resultado na rede escolar não promoveu melhorias no desempenho dos alunos, segundo diagnóstic­o do próprio do governo, como revelado pela Folha em maio.

“O estado não consegue ter uma adequada articulaçã­o [da política educaciona­l] com as escolas”, diz o professor da USP Ocimar Alavarse.

Goiás, que assumiu a liderança do Ideb em 2017 no ensino médio, foi o único estado que bateu a meta entre as redes estaduais de todo país.

O estado tem os melhores resultados de aprovação de alunos, mas é o Espírito Santo que registra as maiores médias na prova dos estudantes.

Mesmo entre os líderes, os indicadore­s se mantêm em níveis baixos. A média do Ideb no ensino médio das redes estaduais ficou estagnada em 3,5, abaixo da meta, de 4,4.

O ministro da Educação, Rossieli Soares Silva, voltou a ressaltar a gravidade da situação. “A chance de alcançarmo­s as metas estabeleci­das é nula hoje no ensino médio”, disse.

O governo Michel Temer tem usado os resultados negativos para argumentar em favor da urgência de se aprovar o texto referente a essa etapa da Base Nacional Comum Curricular (que define o que os alunos precisam aprender).

O texto do ensino médio, em discussão no Conselho Nacional de Educação, tem sofrido críticas. A definição da base ainda tem ligação direta com a reforma do ensino médio, aprovada por medida provisória pelo governo Temer em 2017 e que permite a flexibiliz­ação curricular.

A parte da base que fala da educação infantil ao ensino fundamenta­l já foi aprovada.

Na média de toda rede pública, o Ideb dos anos iniciais do fundamenta­l subiu de 5,3 para 5,5 (acima da meta). Também houve avanço nos anos finais, de 4,2 para 4,4, mas a meta não foi alcançada.

Apesar disso, o cenário é de desigualda­de. Dos 5.077 municípios com Ideb nos anos iniciais, 54% conseguira­m avançar e superar suas metas. Nos anos finais, só 22% das redes tiveram o mesmo sucesso.

Apontada nos últimos anos como sensação por causa dos bons resultados de alfabetiza­ção, a cidade de Sobral (CE), com 200 mil habitantes, a 230 km de Fortaleza, alcançou a 1ª posição no Ideb nos anos finais (9º ano).

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Mauro Pimentel/AFP Ruínas do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, no dia seguinte ao incêndio que atingiu o palacete imperial de mais de 200 anos
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