São Paulo perde liderança na educação básica do país
Estado cai nos ensinos fundamental e médio em indicador do governo federal
A rede de ensino do estado de São Paulo perdeu a liderança no país no principal indicador de qualidade da educação básica. É o que mostra o Índice de Desenvolvimento da Educação de 2017. Divulgado ontem, o Ideb é produzido a cada dois anos.
Em 2015, São Paulo liderava no primeiro (5º) e no último ano (9º) do ensino fundamental e também no ensino médio. Em 2017, contudo, perdeu terreno nessas três etapas para outras unidades da federação. Entre elas, Goiás destacou-se.
O Ideb é calculado a partir da taxa de aprovação das escolas e do desempenho dos alunos em uma avaliação de matemática e português.
O PSDB governa São Paulo desde 1995. Geraldo Alckmin deixou o cargo neste ano para concorrer à Presidência.
Ele afirmou que o estado está no caminho certo no ensino fundamental e que, no médio, o país está estagnado. A gestão de Márcio França (PSB), atual governador e candidato à reeleição, disse ser necessário aperfeiçoar a educação em SP.
Na semana passada, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, Geraldo Alckmin (PSDB), exgovernador e candidato à Presidência, disse que o estado de São Paulo tem a melhor educação do país. Não tem mais.
A rede de ensino paulista perdeu a liderança no principal indicador de qualidade da educação básica, ficando para trás tanto em duas etapas do ensino fundamental quanto no ensino médio, no qual a situação é mais grave.
A radiografia aparece no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação) 2017, divulgado nesta segunda-feira (3). Na edição anterior, em 2015, São Paulo liderava nos anos iniciais (5º ano) e nos finais (9º ano) do ensino fundamental e no médio.
No ensino médio, a rede estadual de São Paulo teve queda no Ideb, passando de 3,9 para 3,8 —espera-se que algum dia o país alcance o índice 6. Com esse resultado, o ensino médio paulista foi ultrapassado por Goiás, Espírito Santo e Pernambuco e ficou empatado com o oferecido no Ceará e em Rondônia.
Apesar desse empate, apenas São Paulo teve queda no indicador entre os mais bem posicionados em 2017.
O Ideb é calculado a partir da taxa de aprovação das escolas e do desempenho dos alunos em uma avaliação de matemática e português. Os dados das provas foram conhecidos na semana passada, e as notas de São Paulo no ensino médio também caíram.
O estado mais rico do país é governado pelo PSDB desde 1995. O ex-governador Geraldo Alckmin, que deixou o cargo neste ano para se candidatar à Presidência, governou São Paulo de 2001 a 2006 e depois de 2011 a abril de 2018, quando se afastou para disputar a corrida ao Planalto.
O ensino médio é apontado como um dos maiores gargalos do país. Redes estaduais são responsáveis por 8 a cada 10 matrículas na etapa.
Já no ensino fundamental, São Paulo subiu no Ideb no 5º e no 9º anos. Mas o tímido avanço não foi suficiente para se manter no topo e acabou ultrapassado por outras redes, cujos saltos foram maiores.
O indicador de SP nos anos iniciais passou de 6,3 para 6,5. Entre as redes estaduais, foi superado por Ceará e Goiás e ficou empatado em terceiro lugar com Minas Gerais.
Nos anos finais, o Ideb da rede paulista passou de 4,7 para 4,8. O índice foi superado por Goiás e Rondônia e ficou empatado com Santa Catarina.
O Ideb também estipula metas a cada edição. São Paulo só bateu a meta de 2017 nos anos iniciais —o que não se repetiu no 9º ano e no ensino médio.
A liderança no Ideb 2015 nas três etapas da educação básica tem sido usada recorrentemente pelo governo estadual como argumento da qualidade das escolas estaduais, sobretudo para responder a críticas de problemas na rede.
Nos últimos anos, a gestão Alckmin esvaziou programas como o de alfabetização e de reforço presencial para alunos com dificuldades.
Política educacional central das gestões tucanas em SP, o bônus por resultado na rede escolar não promoveu melhorias no desempenho dos alunos, segundo diagnóstico do próprio do governo, como revelado pela Folha em maio.
“O estado não consegue ter uma adequada articulação [da política educacional] com as escolas”, diz o professor da USP Ocimar Alavarse.
Goiás, que assumiu a liderança do Ideb em 2017 no ensino médio, foi o único estado que bateu a meta entre as redes estaduais de todo país.
O estado tem os melhores resultados de aprovação de alunos, mas é o Espírito Santo que registra as maiores médias na prova dos estudantes.
Mesmo entre os líderes, os indicadores se mantêm em níveis baixos. A média do Ideb no ensino médio das redes estaduais ficou estagnada em 3,5, abaixo da meta, de 4,4.
O ministro da Educação, Rossieli Soares Silva, voltou a ressaltar a gravidade da situação. “A chance de alcançarmos as metas estabelecidas é nula hoje no ensino médio”, disse.
O governo Michel Temer tem usado os resultados negativos para argumentar em favor da urgência de se aprovar o texto referente a essa etapa da Base Nacional Comum Curricular (que define o que os alunos precisam aprender).
O texto do ensino médio, em discussão no Conselho Nacional de Educação, tem sofrido críticas. A definição da base ainda tem ligação direta com a reforma do ensino médio, aprovada por medida provisória pelo governo Temer em 2017 e que permite a flexibilização curricular.
A parte da base que fala da educação infantil ao ensino fundamental já foi aprovada.
Na média de toda rede pública, o Ideb dos anos iniciais do fundamental subiu de 5,3 para 5,5 (acima da meta). Também houve avanço nos anos finais, de 4,2 para 4,4, mas a meta não foi alcançada.
Apesar disso, o cenário é de desigualdade. Dos 5.077 municípios com Ideb nos anos iniciais, 54% conseguiram avançar e superar suas metas. Nos anos finais, só 22% das redes tiveram o mesmo sucesso.
Apontada nos últimos anos como sensação por causa dos bons resultados de alfabetização, a cidade de Sobral (CE), com 200 mil habitantes, a 230 km de Fortaleza, alcançou a 1ª posição no Ideb nos anos finais (9º ano).