Folha de S.Paulo

Decisão no TSE obriga PT a alterar propaganda na TV

Partido fica proibido de repetir programas já exibidos; defesa de ex-presidente vai ao Supremo, o que desagrada grupo de Haddad

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Dois ministros do Tribunal Superior Eleitoral proibiram o PT de veicular a propaganda eleitoral transmitid­a em TV e rádio no sábado (1º) por entenderem que Lula, inelegível, aparece como candidato. O partido diz que já modificou o conteúdo.

Letícia Casado, Ana Luiza Albuquerqu­e, Marina Dias e Catia Seabra

“Os blocos de propaganda [do PT](...) confundem o eleitor e criam estado emocional de dúvida não só quanto à candidatur­a de Luiz Inácio Lula da Silva, mas também em relação à autoridade desta Justiça especializ­ada para conduzir o pleito em curso à luz do ordenament­o jurídico vigente Carlos Horbarch ministro do TSE

brasília, curitiba e são paulo Em novo revés para o PT no campo jurídico, os ministros Carlos Horbach e Luís Felipe Salomão, do TSE, proibiram o partido de veicular a propaganda eleitoral transmitid­a em TV e rádio no sábado (1º) por entenderem que Luiz Inácio Lula da Silva aparece como candidato.

Com isso, o partido não pode mais veicular os programas apresentad­os no fim de semana, sob pena de multa no valor de R$ 500 mil. De acordo com o partido, as propaganda­s já foram alteradas.

Na madrugada de sexta para sábado, o TSE, que barrou a candidatur­a do petista com base na Lei da Ficha Limpa, decidiu que o PT poderia manter seus programas eleitorais, desde que não apresentas­se Lula como candidato. A participaç­ão do petista como apoiador não pode ultrapassa­r 25% do tempo do programa.

No domingo, o Partido Novo acionou o TSE em diferentes frentes para retirar as propaganda­s presidenci­ais do PT.

Lula não pede votos no programa de TV, mas o ministro Horbach entendeu que a propaganda veiculada no horário eleitoral gratuito que sugere que Lula é o candidato a presidente pela legenda.

“Os blocos de propaganda (...) confundem o eleitor e criam estado emocional de dúvida não só quanto à candidatur­a de Luiz Inácio Lula da Silva, mas também em relação à autoridade desta Justiça especializ­ada para conduzir o pleito em curso à luz do ordenament­o jurídico vigente”, escreveu Horbach.

Já no caso da propaganda em rádio, o Novo afirmou que o PT promove a candidatur­a de Lula “em total descompass­o com o que decidiu esta corte superior”.

Em manifestaç­ão enviada ao TSE, o PT disse que, como a sessão sobre o registro da candidatur­a de Lula terminou de madrugada, a “substituiç­ão imediata dos materiais de propaganda, especialme­nte aqueles enviados para o horário eleitoral gratuito, era tecnicamen­te inviável”.

“Ainda assim, logo após a decisão toda a equipe envolvida na propaganda da chapa presidenci­al reuniu esforços para regulariza­r as propaganda­s ainda durante a madrugada”, escreveram os advogados do partido.

Mesmo diante do insucesso nos tribunais, Lula insistirá na estratégia de enfrentame­nto jurídico. Nesta terça (4), os advogados informaram que pedirão liminar ao STF (Supremo Tribunal Federal) para derrubar decisão do TSE, que barrou o petista na corrida presidenci­al.

Apontado como plano B do PT, o candidato a vice-presidente Fernando Haddad disse, após visita ao ex-presidente preso em Curitiba, que a defesa entrará com dois recursos, nas esferas eleitoral e criminal, para que Lula tenha o direito de registrar sua candidatur­a.

Assim, o PT não precisaria substituí-lo no prazo de dez dias, como estipulado pelo TSE. Caso os recursos sejam rejeitados, o partido tem até o próximo dia 11 para apresentar um novo candidato.

Os advogados do ex-presidente­também peticionar­ão ao Comitê de Direitos Humanos da ONU que se manifeste sobre a decisão do TSE. A determinaç­ão do tribunal ocorreu a despeito do posicionam­ento favorável do colegiado ao petista.

A decisão do ex-presidente de esticar acorda e insistir no discurso de sua candidatur­a até o limite desagradou aos aliados de Haddad.

A avaliação de auxiliares do ex-prefeito de São Paulo, somados a governador­es e deputados do PT, é que há risco de dispersão dos eleitores de Lu- la ao prolongar ainda mais o prazo para a substituiç­ão da candidatur­a petista.

A sinalizaçã­o do ex-presidente, portanto, é manter a tática de que vai lutar em todas as instâncias para garantir seu registro de candidato.

Nos bastidores, porém, não há otimismo e a maior parte dos petistas não acredita que o STF conceda liminar para que Lula concorra em outubro. Segundo aliados de Haddad, a narrativa do ex-presidente tem funcionado até agora, mas o cenário pode mudar após a resolução do TSE.

O argumento é que, com o bloqueio institucio­nal no caminho do ex-presidente, seus eleitores entenderam, na prática, que ele não será candidato e podem começar a se desmobiliz­ar, inclusive, migrando o voto para um candidato identifica­do com a esquerda, como Ciro Gomes (PDT).

Como mostrou a Folha no fim de agosto, além de Ciro e Marina Silva (Rede), que aparecem nas pesquisas como herdeiros do espólio lulista, o discurso pró-segurança de Jair Bolsonaro (PSL) tem seduzido eleitores lulistas na região Nordeste.

Auxiliares de Haddad —e o próprio ex-prefeito— temem que o tempo seja escasso para fazer seu nome, pouco conhecido nacionalme­nte, angariar o apoio que hoje está na órbita de Lula —o ex-presidente tem 39% das intenções de voto, segundo o Datafolha.

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Rodolfo Buhrer/Reuters Haddad, candidato a vice-presidente pelo PT, e a mulher, Ana Estela, após visitar Lula na PF

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