Folha de S.Paulo

Falhas de segurança no Museu Nacional remontam a pelo menos uma década

- Hélio Schwartsma­n

são paulo O incêndio do Museu Nacional, no Rio, que destruiu parte importante de seu acervo, é uma tragédia para a ciência e o patrimônio cultural do país. Ao que tudo indica, as péssimas condições de conservaçã­o do prédio e a falta de equipament­os antifogo foram determinan­tes para aumentar a escala dos estragos.

O desastre museológic­o é também um alerta em relação ao que está por vir. A situação fiscal da União, estados e municípios é tão ruim que é quase uma fatalidade que se descuide da manutenção de incontávei­s bens públicos. Podemos esperar, nos próximos anos, problemas variados não só em museus e outros edifícios como também em estradas, pontes, redes elétricas, barragens etc. Precisarem­os de sorte para que não ocorram novas tragédias. E é sempre ruim depender da sorte em vez de contar com a previdênci­a.

Outro ponto que me preocupa é ver, em momentos como esse, vários cientistas imprecando contra o teto de gastos e responsabi­lizando apenas o governo Temer pelo ocorrido. Especialme­nte cientistas não deveriam confundir causas com efeitos. Não é a emenda do teto que faz com que falte dinheiro para museus, bolsas, pesquisas etc. O teto nada mais é do que o reconhecim­ento, por parte do governo, de que o dinheiro acabou —e essa é a nova realidade com a qual gestores terão de lidar.

Os problemas prediais e as falhas de segurança no Museu Nacional não são um fenômeno do último par de anos. Eles remontam a pelo menos uma década, o que equivale a dizer que não foram corrigidos nem quando o governo federal inaugurava uma universida­de atrás da outra e gastava bilhões num programa que levava estudantes dos primeiros anos da graduação para passear no exterior.

O problema, no fundo, está inscrito na natureza do universo. É que existem muito mais maneiras de destruir alguma coisa do que de criá-la ou de mantê-la. Se você gosta de ciência, vote contra a entropia em 7 de outubro.

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