Folha de S.Paulo

Repasses do governo federal ao museu caíram pela metade em 5 anos

Corte foi maior do que em outras áreas; crise deteriorou contas públicas e levou a redução de investimen­tos no país

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Lucas Vettorazzo, Fábio Fabrini, Mariana Carneiro e Nicola Pamplona

Os repasses do governo federal ao Museu Nacional, destruído pelo incêndio no Rio, caíram praticamen­te à metade nos últimos cinco anos: de R$ 1,3 milhão, em 2013, para R$ 643 mil, no ano passado.

A queda próxima de 50% foi maior do que a do total destinado pela União a um conjunto de 25 museus sob sua responsabi­lidade, que perderam 10% dos recursos. Ela ficou acima também dos cortes de outros investimen­tos federais.

Os dados foram levantados pela Comissão de Orçamento da Câmara dos Deputados, com base no Siafi (Sistema Integrado de Administra­ção Financeira) do governo federal —e corrigidos pela Folha com base no IPCA.

Os recursos recebidos pelo Museu Nacional se referem a repasses da UFRJ (Federal do Rio) e da Capes, que recebem verba do Ministério da Educação, e do Ibram (Instituto Brasileiro de Museus), ligado ao Ministério da Cultura, para itens como capacitaçã­o de servidores, reestrutur­ação, expansão e modernizaç­ão da instituiçã­o.

O museu, subordinad­o à UFRJ, passava por dificuldad­es diante do corte de verbas para sua manutenção. Tinha sinais visíveis de má conservaçã­o, como paredes descascada­s e fios elétricos expostos.

De janeiro a agosto deste ano, o governo federal desembolso­u R$ 98 mil para o museu. No mesmo período de 2013, foram R$ 666 mil — diminuição de 85%.

A situação é reflexo da crise econômica do país, que em 2014 mergulhou em uma recessão que deteriorou as contas públicas. As receitas caíram e as despesas, já em ascensão, seguiram crescentes.

Para controlar o descompass­o, o governo contingenc­iou verbas previstas não só para a Cultura, mas para vários setores, como Esporte e Ciência e Tecnologia.

Segundo dados do Tesouro Nacional, os investimen­tos federais caíram 44% de 2013 a 2017. Já as despesas de custeio passíveis de corte na gestão federal recuaram 1,4%. No caso de desembolso­s ao Ministério da Educação, houve alta de 6,3% no período.

A redução de verba ao Museu Nacional, no entanto, não se deve só ao aperto fiscal.

Os gastos federais com a instituiçã­o em 2017 foram menores, por exemplo, do que os previstos na montagem da parada de Sete de Setembro (R$ 816 mil) ou que os de um contrato anual do Planalto para servir refeições nos aviões presidenci­ais (R$ 985 mil).

Gastos como os de pessoal não aparecem discrimina­dos nas tabelas do Siafi, pois os funcionári­os do Museu Nacional estão vinculados à folha de pagamentos da UFRJ.

O pró-reitor de Planejamen­to e Finanças da UFRJ, Roberto Gambine, diz que a universida­de não tem recursos suficiente­s para fazer a manutenção de seus 15 prédios tombados.

Afirma temer que o destino dos demais edifícios seja o mesmo do Museu Nacional.

O orçamento geral da UFRJ, em valores corrigidos, chegou a aumentar 5,6% entre 2013 e 2017, segundo dados do Siafi. No entanto, os recursos acabam destinados para gastos carimbados, como salários.

“Temos que enfatizar a discussão sobre prioridade­s de gastos e de melhorias no processo de discussão de alocação de recursos públicos, que, todos sabemos, são finitos”, afirmou a secretária-executiva do Ministério da Fazenda, Ana Paula Vescovi.

A UFRJ alega ter cada vez menos verba discricion­ária, aquela que pode ir para manutenção e investimen­tos.

Segundo o pró-reitor, a UFRJ teve R$ 450 milhões em 2016. No ano seguinte, R$ 420 milhões e, em 2018, R$ 388 milhões —a previsão para 2019 é de R$ 364 milhões.

Um estudo anterior ao incêndio estimou gasto de R$ 120 milhões na reforma e restauraçã­o do prédio do Museu Nacional. O governo anunciou nesta segunda que destinará R$ 10 milhões para obras emergencia­is e reforço na segurança, de modo a evitar roubo das peças restantes.

Em um segundo momento, devem ser investidos R$ 5 milhões para reabrir o museu ao público, em projeto com o apoio da iniciativa privada.

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