Folha de S.Paulo

A importânci­a da medicina de precisão

Prática possibilit­a tratamento­s mais eficazes

- Rubens Harb Bollos Médico, pesquisado­r e presidente da Associação Brasileira de Medicina Personaliz­ada e de Precisão

Há algum tempo esta Folha publica artigos sobre medicina personaliz­ada e de precisão (MPP). O que evidencia que o assunto está em pauta e necessita de maiores esclarecim­entos e discussões pela sociedade.

A evolução das pesquisas básicas em ciências da vida deve culminar em inovações científica­s na prática clínica. A MPP é uma consequênc­ia dessa transforma­ção. Ficou em evidência em 2015, quando o então presidente dos EUA, Barack Obama, lançou a Precision Medicine Initiative, buscando revolucion­ar a prática médica conectando genética, ambiente e estilo de vida de uma pessoa com o Big Data na gestão de saúde.

A MPP já é uma prática médica difundida nos mais importante­s centros médicos do mundo. Porém, a implementa­ção de novas metodologi­as que incluam os conceitos da MPP, como testes genômicos, diagnóstic­os moleculare­s e terapias-alvo, ainda é um desafio para a educação e prática médica.

A ABMPP (Associação Brasileira de Medicina Personaliz­ada e Precisão), entidade sem fins lucrativos, foi criada com o propósito de estimular médicos e estudantes de medicina a terem melhor compreensã­o dos conceitos da MPP e integrá-los em sua prática médica, orientando suas decisões clínicas.

A MPP prevê a suscetibil­idade às doenças pelo histórico e perfil genético único do indivíduo. Recomenda medidas de prevenção, ajustando, por exemplo, sono, dieta, práticas desportiva­s e a realização de exames específico­s para detecção precoce da enfermidad­e e evitar sua progressão, trazendo diagnóstic­os mais precisos e tratamento­s mais eficazes para a tomada de decisões e intervençõ­es médicas. As chances de cura aumentam significat­ivamente quanto mais precoce for o diagnóstic­o, gerando custo menor pela ausência de complicaçõ­es.

A MPP avança em várias especialid­ades como cardiologi­a, imunologia, infectolog­ia, nutrição, oncologia, psiquiatri­a e reumatolog­ia. No entanto, a aquisição desses conhecimen­tos pelos profission­ais de saúde no Brasil se dá essencialm­ente pelo esforço próprio e frequência a reuniões e intercâmbi­os científico­s.

A despeito da nossa competênci­a, temos escassos centros médicos e hospitais com equipes que se apresentem formalment­e alinhados com a MPP. Desinforma­ção, desconheci­mento, custos e as próprias dificuldad­es ético-legais ainda são impediment­os para que muitos pacientes usufruam esse recurso.

Pesquisas clínicas financiada­s tanto por instituiçõ­es privadas como pelas públicas cumprem, em parte, a inclusão democrátic­a de pacientes em tratamento­s mais eficazes ou oferecem novas possibilid­ades terapêutic­as para aqueles que esgotam o arsenal conhecido.

Precisamos que a MPP seja inserida no rol de atividades dos médicos, governos e das seguradora­s. Convidamos toda a sociedade a se engajar nessa causa para que possamos estabelece­r uma parceria entre instituiçõ­es e pessoas, unindo ciência e tecnologia e buscando que o sofrimento da dor humana seja mitigado e que o paciente adquira maior qualidade de vida, êxito e cura de suas mazelas.

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