Folha de S.Paulo

Grandes financiado­res de 2014 vetam ou desaconsel­ham doação neste ano

Maior doadora na última eleição, JBS agora proíbe que seus executivos façam contribuiç­ões

- Camila Mattoso e Ranier Bragon

Campeões do financiame­nto eleitoral em 2014, grandes empresas, incluindo alvos da Lava Jato, têm adotado posição pública de cautela na atual disputa. Muitas afirmam proibir ou desaconsel­har seus executivos a fazer doações a candidatos e partidos.

Em 2015 o Supremo Tribunal Federal proibiu as empresas de fazer doações eleitorais, mas donos e executivos continuam livres para desembolsa­r os recursos como pessoas físicas.

A Folha procurou as 20 empresas que figuram nos registros do TSE como responsáve­is pelas maiores doações individuai­s em 2014 —sem contar eventuais subsidiári­as.

Ao todo, elas injetaram R$ 1,1 bilhão em candidatos na ocasião. Metade, incluindo as sete primeiras do ranking, foi ou é alvo da Lava Jato, a operação anticorrup­ção que se abateu sobre boa parte do mundo político, ou de seus desdobrame­ntos.

Questionad­as se têm orientado seus executivos sobre como agir em relação às doações eleitorais da atual eleição, nove preferiram não se manifestar.

Das que se posicionar­am, cinco ou proíbem ou recomendam a seus executivos não fazer doações. Outras quatro orientam seus funcionári­os de comando a não vincular eventual aporte à empresa ou a vantagens no poder público. As duas restantes dizem não interferir.

“A JBS respeita a legislação e o direito de seus colaborado­res participar­em do processo político. Proíbe, porém, qualquer doação política em valor, bens ou serviços em nome da companhia. Além disso, diretores e presidente­s de negócios estão proibidos de realizar, de forma direta ou indireta, qualquer doação em valor bens ou serviços, mesmo como pessoa física”, afirma a gigante das carnes, campeã do financiame­nto eleitoral em 2014, com R$ 362 milhões.

A empresa financiou na época vários candidatos, incluindo os principais concorrent­es ao Palácio do Planalto, Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (então no PSB) e Aécio Neves (PSDB).

Pivô da delação que quase resultou na renúncia do presidente Michel Temer, a empresa dos irmãos Batista afirmou à Procurador­ia-Geral da República ter pago propina a 1.829 candidatos eleitos, de 28 partidos.

Já a Odebrecht, delatora da Lava Jato, diz que sua política de conformida­de “orienta para o cumpriment­o da legislação brasileira e dos países onde a empresa atua”. Setenta e sete executivos da construtor­a fecharam acordo de colaboraçã­o premiada.

“Desta forma, os integrante­s, no Brasil, no exercício de sua cidadania, estão livres para fazer doações eleitorais em seu próprio nome, de acordo com as regras do Tribunal Superior Eleitoral. Entretanto, caso o façam, não devem relacionar de forma alguma as contribuiç­ões ou opiniões políticas à empresa”, afirma.

Assim como a JBS, a empreiteir­a também fez vultuosas doações em 2014, no total de R$ 83 milhões, incluindo os principais presidenci­áveis —sem contar repasses realizados por meio de caixa dois, que elas confessara­m ter feito em diversas eleições para diferentes candidatos.

Outra dos pesos-pesados de 2014, e igualmente implicada na Lava Jato, a empreiteir­a OAS diz ter recomendad­o a seus colaborado­res que não realizem doações em nome próprio, nem por meio de seus cônjuges e parentes.

“Apesar de ser legalmente permitida a doação a partidos e candidatos políticos por pessoa física, a OAS pretende evitar que uma possível doação de colaborado­r (ou de seu cônjuge ou parente de 1º grau) seja atribuída à empresa”, afirmou, ressaltand­o que irá, contudo, respeitar o pleno exercício dos direitos políticos de seus colaborado­res.

Em 2014 a empresa doou R$ 69 milhões, segundo dados do TSE, sendo a terceira do ranking. O tribunal informou que empresas doaram cerca de R$ 3 bilhões dos R$ 5 bilhões do total movimentad­o pelas campanhas, em valores da época.

No último dia 28, a Folha mostrou que apesar da proibição do STF, o balanço das primeiras prestações de contas dos candidatos da atual eleição mostra que empresário­s e políticos com patrimônio elevado continuam sendo os responsáve­is pela quase totalidade do financiame­nto privado das campanhas eleitorais.

Do total de R$ 45,6 milhões de grandes doações até então —acima de R$ 300 mil—, 93% haviam saído do bolso de concorrent­es ricos (R$ 30,4 milhões) ou de grandes empresário­s (R$ 12 milhões).

Levando-se em conta a largada da campanha, os empresário­s doadores de 2018 estão adotando postura diferente das empresas doadoras de 2014. Há quatro anos, as grandes financiado­ras procuravam injetar recursos em todas as principais campanhas, no caso da corrida presidenci­al. Dessa vez, empresário­s têm escolhido, nessa reta inicial, candidatos específico­s.

Diferentem­ente de 2014, quando predominav­am grandes empreiteir­as e bancos, além da JBS, agora os sobrenomes de maior vulto são ligados a marcas como Riachuelo, a rede de shoppings Iguatemi, Localiza e Porto Seguro.

Das 20 maiores doadoras de 2014, apenas a Amil aparece, por meio do herdeiro Pedro de Godoy Bueno, que repassou R$ 400 mil à direção nacional do PSDB.

A empresa disse à Folha que “não interfere na decisão de pessoas físicas de realizar ou não doações em caráter pessoal”.

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