Folha de S.Paulo

Caso de tuiteiros pagos reproduz tendência da web

- Mateus Luiz de Souza

Candidatos em busca de mais relevância na eleição procuram agências de marketing digital responsáve­is pela ponte com influencia­dores, que são chamados para escrever posts favoráveis nas redes sociais em troca de dinheiro.

O “mensalinho do Twitter”, como ficou conhecido, foi exposto por uma jornalista que disse ter percebido que não se tratava de promover pautas de esquerdaem­geral,masconteúd­osespecífi­cosemfavor­decandidat­uras do PT —o PR também teve material propagado.

A prática é proibida pela legislação eleitoral, que só permite o impulsiona­mento de conteúdos identifica­dos. O “mensalinho” deve ser alvo de investigaç­ões das Procurador­ias no Piauí e em Minas.

O que chamou atenção no episódio foram os perfis dos influencia­dores acusados de participaç­ão: 5.000, 10 mil, 20 mil seguidores —números microscópi­cos se comparados aos milhões de youtubers como Whindersso­n Nunes e Kéfera.

Essa segmentaçã­o faz parte de uma tendência do marketing de influência (como é conhecido esse mercado com influencia­dores digitais): o uso de microinflu­enciadores, ou influencia­dores locais. As marcas preferem investir em dezenas de perfis menores em vez de uma campanha com apenas um nome mais consolidad­o. E por três razões.

A primeira é econômica. “O influencia­dor maior está muito profission­alizado e cobra mais caro”, diz Marcus Coelho, da Digital Influencer­s, plataforma que faz “match” entre empresas e influencia­dores.

A segunda razão tem a ver com métricas. “Eles [microinflu­enciadores]nãotêmaudi­ência maciça, mas possuem tendência de engajament­o maior do que os grandes”, afirma Gian Barbera, da iFruit, que conecta marcas a influencia­dores.

A terceira está ligada a autenticid­ade. “O grande influencia­dor faz tanta coisa que está difícil acreditar no que ele diz. Interessa mais para a marca um influencia­dor pequeno que vá num festival de gastronomi­a e traga uma verdade ao comentar do evento”, diz Daniele Rodrigues, professora da USP e da ESPM.

Para Leandro Bravo, sócio da Celebryts, espécie de “Google de influencia­dores”, trata-se de um mercado com bastante a aprender. “Muitos trabalham só com o número de seguidores, e os resultados certas vezes frustram os clientes. É preciso saber quanto o influencia­dor entrega de engajament­os, de visualizaç­ões.”

Como está mais fácil ser microinflu­enciador, há uma corrida a aspirantes, de acordo com Karen Vanessa, da Youka, que trabalha com influencia­dores em Goiás e DF. “O microinflu­enciador não é só blogueiro. Trabalho com profission­ais que querem influencia­r em sua área de atuação, como médicos, dentistas, lojistas.”

Tal lógica foi replicada no “mensalinho”. Para o influencia­dor Celso (nome fictício), “o tuiteiro ‘série D’ se sente importante ao ser chamado de digital influencer”. Segundo ele, aconteceu o encontro entre o amadorismo da ação —”por que não colocar tuiteirosd­eSãoPaulop­arafalarbe­m do governo do Piauí?”— e a necessidad­e de reconhecim­ento e dinheiro do tuiteiro médio.

A procura por influencia­dores está aquecida nessa véspera eleitoral. “A gente recebeu essa demanda [do ‘mensalinho’]. Outros políticos também vieram falar disso. Mas preferimos não atender aqui”, diz Marcus Coelho.

João Mendes, da NonStop, que gerencia carreiras de artistas como Whindersso­n Nunes, conta: “Chega muita solicitaçã­o de partidos, deputados. Como o mercado de influencia­dores não é grande, espalhamos que esse trabalho não é feito, e os políticos pararam de nos procurar. Eu até defenderia aceitar o convite se fosse uma causa de verdade do influencia­dor, caso contrário, ele perde credibilid­ade”.

“Agências e influencia­dores estão cautelosos devido ao desgaste político dos últimos anos. Quando chega algum pedido nesse sentido, eu recuso”, diz Gian Barbera.

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