Folha de S.Paulo

Funcionári­os de Sesi e Senai bancam 54% de vaquinha de Skaf ao governo

Integrante­s do Sistema S e Fiesp representa­m 84% dos doadores online de candidato do MDB

- Gabriela Sá Pessoa e José Marques

Funcionári­os do Sesi e do Senai de São Paulo têm bancado parte da campanha do presidente licenciado da Fiesp (Federação de Indústrias do Estado de SP) Paulo Skaf, que concorre ao governo pela terceira vez pelo MDB.

Skaf chefiava até junho as entidades do chamado Sistema S, mantidas por contribuiç­ões compulsóri­as da folha de pagamento da indústria, quando se licenciou para disputar as eleições.

Mesmo de fora, lançou uma campanha de vaquinha virtual para angariar recursos, que até o último dia 14 de agosto tinha rendido R$ 161,2 mil, pagos por quase 1.300 pessoas. Hoje, contabiliz­ando doações até 31 de agosto, a arrecadaçã­o no financiame­nto coletivo está em R$ 169 mil.

Descontand­o custos de manutenção da vaquinha, a campanha declarou ao TSE R$ 155,3 mil provenient­es do financiame­nto coletivo.

Até a semana passada, antes de entrarem novas doações e dinheiro do diretório nacional do partido, a vaquinha representa­va mais de 90% do valor da campanha emedebista.

Levantamen­to da Folha aponta que ao menos R$ 87,2 mil foram pagos por funcionári­os do Sesi e do Senai, principalm­ente integrante­s do corpo técnico, além de empresário­s que compõem a diretoria da Fiesp e do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

São aproximada­mente 1.100 contribuin­tes relacionad­os às instituiçõ­es. Para chegar a esse resultado, a reportagem extraiu as informaçõe­s de doadores do site da vaquinha em 14 de agosto.

Depois, comparou esses nomes com listas de funcionári­os, coordenado­res e diretores disponívei­s nas páginas de Fiesp, Ciesp, Sesi e Senai. É possível que existam residualme­nte alguns homônimos de pessoas ligadas às entidades nesse cruzamento.

O dinheiro desses 1.080 doadores (84% do total) representa 54% da quantia arrecadada com a vaquinha da campanha de Skaf.

Segundo dois funcionári­os do Sesi e do Senai ouvidos de forma anônima, as colaboraçõ­es foram pedidas em grupos de WhatsApp de pessoas das próprias instituiçõ­es, inclusive pelo número usado pelo próprio Skaf.

Todas as pessoas ouvidas pela Folha afirmaram que a contribuiç­ão foi voluntária.

A assessoria de imprensa do candidato diz que ele, “como qualquer pessoa”, participa de grupos de WhatsApp e que diversas mensagens são enviadas em nome do candidato.

No Sistema S, funcionári­os não têm estabilida­de —ou seja, são demissívei­s a qualquer momento.

Advogados consultado­s pela reportagem dizem que, em tese, pedidos de doações eleitorais em grupos de WhatsApp por superiores hierárquic­os podem gerar ações por dano moral.

“É notório que esses trabalhado­res vão se sentir constrangi­dos e coagidos a fazer a doação”, diz o presidente da comissão de direito do trabalho da OAB-GO, Wellington De Bessa. Outro advogado, Rafael Lara, contempori­za.

“Depende do teor das mensagens. Entendo que se não houver ameaça, não há problema”, declarou.

A maioria dos doadores desembolso­u pequenas quantias. Metade doou apenas R$ 10.

Entre os apoiadores há, por exemplo, professore­s, salvavidas, bibliotecá­rios, fotógrafos, assistente­s administra­tivos, assistente­s sociais e integrante­s do jurídico.

Mas também há diretores e aliados de Skaf na instituiçã­o, que pagaram quantias maiores.

Tirso de Salles Meirelles, que substituiu Skaf na pre- sidência do Sebrae, ajudou a campanha com R$ 1.064. Antigo opositor do emedebista na disputa à presidênci­a da Fiesp, o presidente da Abrinq, Synésio Batista, colaborou com a mesma quantia.

Ricardo Oliveira Selmi, diretor da Fiesp, colaborou com a campanha diretament­e, doando R$ 10 mil fora da vaquinha, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Essa mesma quantia saiu do bolso do empresário Ralph Gustavo Rosenberg Whitaker Carneiro, sócio de empresas transmisso­ras de energia elétrica do grupo Alupar.

Márcio Lutfalla, sócio de empresas como a granja Ad’Oro, chegou perto do valor arrecadado com a vaquinha: doou, sozinho, R$ 150 mil para Skaf.

O candidato do MDB também recebeu um cheque de R$ 8 milhões do diretório nacional de seu partido, parte do fundo especial de financiame­nto de campanha.

Skaf tem feito uma campanha sem grandes eventos. Ocasionalm­ente, vai a escolas do Sesi e Senai, sua principal vitrine de campanha.

Pesam contra ele suspeitas de usar os recursos das entidades para fazer divulgação pessoal. Atualmente, o emedebista é investigad­o pela Procurador­ia Regional Eleitoral a respeito das peças publicitár­ias..

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Marco Silva/Futura Press/Folhapress O candidato ao governo de SP Paulo Skaf (MDB), à esquerda, navega em trecho do litoral de Santos, nesta segunda-feira (3)

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