Mianmar condena jornalistas que investigaram repressão a rohingyas
Um juiz de Mianmar considerou dois repórteres culpados de violar uma lei sobre segredos de Estado e os condenou a sete anos de prisão nesta segunda-feira (3), em um caso visto como um teste para o progresso democrático no país do Sudeste Asiático.
O juiz Ye Lwin disse que Wa Lone, 32, e Kyaw Soe Oo, 28, da agência Reuters, violaram a Lei de Segredos Oficiais, que data da era colonial, quando coletaram e obtiveram documentos confidenciais sobre a repressão à minoria étnica muçulmana rohingya.
Os advogados de defesa podem recorrer ao tribunal regional e depois à Suprema Corte. Os dois repórteres se declararam inocentes.
O veredito coincide com um momento de grande pressão sobre o governo da líder Aung San Suu Kyi por causa da repressão contra os rohingyas no estado de Rakhine. Mais de 700 mil rohingyas fugiram de Mianmar desde agosto de 2017 por conta da repressão.
Relatório da ONU divulgado na semana passada afirmou que as Forças Armadas devem ser consideradas culpadas de genocídio.
Defensores da liberdade de imprensa, a ONU, a União Europeia e diversos países, como Reino Unido, EUA, Canadá e Austrália, pediram a absolvição e a soltura dos jornalistas.
“Hoje é um dia triste para Mianmar, para os jornalistas da Reuters Wa Lone e Kyaw Soe Oo e para a imprensa ao redor do mundo”, afirmou o editor-chefe da Reuters, Stephen J. Adler. “Não vamos esperar enquanto Wa Lone e Kyaw Soe Oo sofrem essa injustiça e vamos avaliar como proceder nos próximos dias, incluindo se pedimos ajuda em um fórum internacional.”
O secretário do Exterior britânico, Jeremy Hunt, disse que irá a Mianmar em breve e que tratará do caso com as autoridades. “Prender jornalistas que escrevem sobre verdades inconvenientes é um golpe inconcebível à liberdade de imprensa”, disse Hunt. A chefe de direitos humanos da ONU, Michelle Bachelet, disse que o julgamento foi uma “farsa”.
A corte decidiu que os documentos encontrados com os repórteres teriam sido úteis para “inimigos do Estado e organizações terroristas” e não eram “informação pública”.