Venda da Eldorado está temporariamente suspensa
O negócio selado entre a J&F, holding da família Batista, e a Paper Excellence para a venda do controle da fabricante de celulose Eldorado está temporariamente suspenso e a briga entre os dois sócios vai se arrastar para a arbitragem.
A J&F detém 51% da Eldorado, enquanto a Paper Excellence, dos Widijaja, possui os 49% restantes.
A Justiça deferiu apenas parcialmente uma liminar solicitada pela Paper Excellence, negando o pedido da empresa para prorrogar o contrato entre os dois sócios, que obrigava a J&F a vender sua participação.
O contrato expirou nesta segunda-feira (3) à noite.
A 2ª Vara Empresarial de São Paulo decidiu, no entanto, que a J&F está impedida de se desfazer de sua fatia e que a Paper Excellence manterá os mesmos direitos que possui hoje, como, por exemplo, um assento no conselho de administração, até a decisão do tribunal arbitral, que pode demorar meses.
Vai caber aos juízes da arbitragem determinar se a Paper Excellence vai manter ou não o direito de adquirir a fatia remanescente dos Batista por um preço já predeterminado. Até lá, os Batista continuam no controle da companhia.
No dia 2 de setembro de 2017, ainda sob o impacto da crise de confiança instalada pela delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista, a J&F anunciou a venda da Eldorado para a Paper Excellence por R$ 15 bilhões, incluindo os R$ 7,5 bilhões de dívida da empresa.
O negócio, no entanto, seria concluído em etapas.
A Paper Excellence comprou de saída 13% da Eldorado e, meses depois, elevou sua participação para 49%.
Pelas regras estabelecidas no contrato, os Widijaja teria um ano para levantar o financiamento bancário necessário para comprar o restante da empresa, renegociando a dívida com os bancos e liberando as garantias oferecidas pelos Batista.
A liberação das garantias, que entre avais pessoais e ações do frigorífico JBS superam R$ 8 bilhões, era uma condição do acordo.
As relações entre comprador e vendedor, no entanto, azedaram, a partir de março deste ano, após o China Development Bank, que financiaria o negócio, desistir. Alguns credores passaram a exigir o pagamento de toda a dívida para liberar as garantias.
Entre os principais credores da Eldorado estão o BNDES, com R$ 2,7 bilhões, e o FIFGTS, com R$ 940 milhões.
Pessoas próximas aos Widijaja acusam os Batista de não terem cooperado para facilitar a liberação das garantias, forçando o contrato a expirar para renegociar o preço.
Desde que o contrato foi selado, a cotação da celulose subiu mais de 40%, e o dólar também avançou, favorecendo a Eldorado, que exporta boa parte da produção.
Assessores da J&F dizem que liberar as garantias era uma obrigação da Paper Excellence, que assumiu o risco.
Argumentam ainda que um aporte dos Widijaja na Eldorado comprometeria a correlação de forças dentro da empresa se realizado antes do fechamento do negócio e insistiam que a Paper Excellence oferecesse aos credores fianças bancárias.
Com o prazo para fechar o negócio se aproximando do fim, a Paper Excellence solicitou uma liminar à Justiça para prorrogar o contrato e fazer um aporte de R$ 6,8 bilhões na Eldorado, a fim de pagar antecipadamente as dívidas da empresa e liberar as garantias dos Batista.
O juiz, porém, acolheu o argumento da defesa da J&F de que esse aporte não estava previsto em contrato.
A Paper Excellence já tomou a decisão de recorrer à arbitragem privada para adquirir o restante da empresa e cogita também recorrer ao Tribunal de Justiça de São Paulo.
Pessoas próximas à J&F dizem que os Batista não têm mais interesse em vender a Eldorado.