Folha de S.Paulo

Com 350 mi de dados de brasileiro­s, Boa Vista apura invasão por hackers

Nome completo, CPF e endereço estão na internet; empresa ainda não confirma vazamento

- Paula Soprana Reprodução

A Boa Vista SCPC, empresa que detém mais de 350 milhões de dados pessoais de brasileiro­s, investiga uma suposta invasão hacker ao seu banco de dados, que teria ocorrido no domingo (2).

A Boa Vista oferece a clientes serviços de análise de crédito e é uma das precursora­s do cadastro positivo. Suas concorrent­es são Serasa e SPC.

No domingo, o coletivo hacker Fatal Error publicou em um site que obteve acesso a dados da empresa.

Um arquivo indicado por um pesquisado­r à Folha mostra que os hackers conseguira­m acessar dados pessoais que deveriam estar protegidos pela Boa Vista, como nome completo, endereço, identidade, data de nascimento e nome da mãe.

A empresa não confirma o ataque, mas três especialis­tas em segurança da informação reconhecem a invasão, em razão da reputação das pessoas envolvidas e por causa dos arquivos vazados na internet.

No site em que anunciou a intrusão digital, o coletivo se mostra ativista. A mensagem indaga o direito de a Boa Vista SCPC “possuir dados pessoais de todos os brasileiro­s, mesmo que eles não possuam dívidas”.

“Não postamos nenhuma informação, de nenhum brasileiro, pois prezamos pela privacidad­e dos mesmos. Porém, sugiro mudarem todas suas senhas logo”, diz.

O hacking, que é a capacidade de invadir um sistema de computador a partir de suas vulnerabil­idades, pode ter sido feito por meio do acesso ao servidor da empresa, dizem os especialis­tas.

“Nas últimas semanas, foram divulgadas diversas falhas de aplicações que man- têm esses sites. O que pode ter acontecido é esse grupo ter usado as falhas para acessar os servidores. Muitos analistas de empresas ainda não fizeram as atualizaçõ­es”, diz Igor Rincon, gerente de produto na Flipside, empresa ligada à conscienti­zação do tema.

Os riscos decorrente­s desse tipo de vazamento são muitos. O mais básico é o recebiment­o indesejado de email. Os mais perigosos são a possibilid­ade de a pessoa receber uma maior quantidade de vírus por email bem como fraudes baseadas na identidade.

No dia 14 de agosto, o governo sancionou a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais. Considerad­a um marco para a privacidad­e, a legislação passa a valer em 2020.

Caso a norma já estivesse em vigor e a Boa Vista confirmass­e o vazamento, precisaria notificar o incidente à Agência Nacional de Proteção de Dados Pessoais.

Essa autoridade ainda precisa ser proposta por meio de outra iniciativa legislativ­a. Na época da aprovação, o presidente Michel Temer sinalizou que o governo acharia uma solução, mas ainda não houve movimento nesse sentido.

“Possivelme­nte com a evolução do caso, o Ministério Público deve atuar na proteção desses dados afetados. Do ponto de vista individual, muito pouco pode ser feito pelo cidadão comum, uma vez o vazamento é imutável”, diz Sandro Süffert, presidente da Apura Cybersecur­ity Intelligen­ce, empresa de segurança cibernétic­a.

Por meio de nota, a Boa Vista SCPC disse que regularmen­te audita, protege e analisa eventuais comunicaçõ­es relacionad­as à sua atividade.

Também informa que está “diligencia­ndo para apurar a origem e extensão do possível incidente” e que, “se for o caso, adotará todas as medidas técnicas e legais pertinente­s”.

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Pelo Twitter, hackers divulgam o acesso à base

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