Folha de S.Paulo

Líder tem potencial para alcançar um terço do eleitorado

- Paulino é diretor-geral do Datafolha; Janoni é diretor de pesquisas do Datafolha Mauro Paulino e Alessandro Janoni

Se mantiver a tendência, Bolsonaro tem potencial imediato para obter apoio de um terço do eleitorado. Haddad pode alcançar 17% nos próximos dias, e Alckmin, 15%.

A pesquisa desta sexta-feira (14) do Datafolha traz não só os reflexos da oficializa­ção da candidatur­a de Fernando Haddad pelo PT como também movimentos do eleitorado em função da nova intervençã­o cirúrgica em Jair Bolsonaro (PSL) e dos levantamen­tos eleitorais divulgados ao longo da semana.

Nos últimos dias, o recuo no tom belicoso dos adversário­s em campanha, além da extensa cobertura jornalísti­ca tanto da substituiç­ão de Lula por Haddad quanto da intercorrê­ncia grave no quadro de saúde do candidato do PSL, direcionar­am holofotes neutros aos dois nomes que agora apresentam variações positivas.

Segundo perguntas feitas pelo Datafolha aos entrevista­dos sobre o ataque sofrido pelo capitão reformado, quase a totalidade da população tomou conhecimen­to do episódio e a maioria revela algum grau de comoção com o fato, mas apenas 2% dizem ter mudado o voto em função disso.

O atentado não provocou disseminaç­ão das intenções de voto em segmentos que possuem rejeição mais forte a Bolsonaro. Entre as mulheres, por exemplo, que, proporcion­almente, se dizem tão sensibiliz­adas quanto os homens sobre o ocorrido, metade reprova totalmente sua candidatur­a.

O infortúnio de Bolsonaro, associado às estratégia­s de comunicaçã­o dos outros candidatos, produziu, no entanto, uma mudança de perfil na natureza de sua base eleitoral, antes marcada essencialm­ente pelo peso de variáveis demográfic­as —sexo masculino e faixa etária jovem.

Ao se aplicar um modelo estatístic­o de decisão, percebe-se que, a exemplo da eleição de 2014, a clivagem econômica passa a ser determinan­te e substitui a idade baixa (tão relevante no início da campanha de Bolsonaro pelo acesso às redes sociais) como vetor de correlação na composição de seu apoio.

Para se ter uma ideia da força dessas variáveis, se o eleitorado brasileiro fosse composto apenas por homens com renda familiar superior a 5 salários, Bolsonaro poderia ser eleito já no primeiro turno com mais de 50% do total de votos. São as mulheres mais pobres que impedem uma melhor performanc­e do deputado (quase 90% delas não o escolhem).

Além disso, na última semana, Bolsonaro parece ter personific­ado um pouco mais o sentimento antipolíti­co de um estrato numeroso da população —cresceu cinco pontos entre os entrevista­dos que se dizem apartidári­os (54% do eleitorado).

Se conseguir manter a tendência, o candidato do PSL tem potencial imediato de ter o apoio de um terço do eleitorado. Se desconstru­ído, volta, em curto espaço de tempo, ao patamar da pesquisa anterior.

Já Fernando Haddad continua a crescer em eleitorado de caracterís­ticas lulistas —subiu sete pontos entre os moradores do Nordeste e seis tanto entre os menos escolariza­dos quanto entre os de menor renda familiar. Passou a ser identifica­do como o candidato de Lula por cerca de metade dos eleitores e deve crescer mais, já que 60% dos mais pobres ainda não o associam ao ex-presidente.

O petista tem potencial imediato para alcançar 17% nos próximos dias. Se sofrer algum revés, cai logo para o patamar próximo a 10%.

Isso só acontecerá caso algum outro candidato ocupe o imaginário da população como herdeiro do espólio de inclusão do lulismo. Marina Silva (Rede) desidratou na tarefa e Ciro Gomes (PDT), apesar de atrapalhar Haddad principalm­ente no Nordeste, pode afastar estratos de grande peso no eleitorado se intensific­ar ataque aos petistas.

O pedetista corre o risco de se prender, fora de sua região, a nichos de jovens universitá­rios, segmento onde chega a ter 34% das intenções de votos, mas de pouca expressão quantitati­va. Se conseguir associar-se ao discurso lulista, tem potencial imediato de alcançar 19%. A sobreposiç­ão de seu potencial com a intenção de voto em Haddad é alta e só se concretiza­rá caso o petista, ao ser confrontad­o, fracasse na tarefa de substituir Lula.

A Geraldo Alckmin (PSDB), também estacionad­o, talvez não reste outra saída neste momento senão voltar a constrange­r Bolsonaro, mesmo com o candidato vitimizado. Seu potencial imediato é de 15%. A clivagem econômica e demográfic­a na composição do voto é chave importante para o desafio.

Na última semana, Bolsonaro parece ter personific­ado um pouco mais o sentimento antipolíti­co de um est rato numeroso da população —cresceu cinco pontos entre os entrevista­dos que se dizem apartidári­os (54% do eleitorado)

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