HÁ SEIS MESES SEM SABER QUEM MATOU MARIELLE FRANCO
Vereadora carioca e seu motorista foram mortos no centro do Rio; caso tem repercussão internacional
Ato no Rio de Janeiro homenageia a vereadora do PSOL e o motorista dela, Anderson Gomes, assassinados a tiros na cidade em 14 de março deste ano; apesar da repercussão internacional do caso, os crimes continuam sem resposta
Os assassinatos da da vereadora do Rio Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes completaram seis meses nesta sextafeira (14). Apesar da repercussão internacional, os crimes continuam sem resposta.
“O Estado brasileiro, as autoridades federais e estaduais e as instituições do sistema de Justiça criminal têm todos a responsabilidade de garantir que o assassinato de Marielle Franco seja devidamente investigado e que os verdadeiros responsáveis sejam identificados e levados à Justiça”, diz Jurema Werneck, diretoraexecutiva da Anistia Internacional Brasil.
A morte de Marielle ocorreu em meio à intervenção federal na segurança do estado. Na prática, a investigação está sob a responsabilidade do governo Michel Temer (MDB), que decretou em fevereiro a intervenção e escalou um general para o comando.
Veja, abaixo, algumas perguntas sobre o caso.
Onde Marielle foi morta? A vereadora foi assassinada dentro do carro, no Estácio (centro do Rio), por volta das 21h30 de 14 de março. Seu veículo foi atacado a tiros quando ela voltava de um encontro com mulheres negras na Lapa. Marielle estava no banco de trás de um Chevrolet Agile branco com sua assessora, que sofreu ferimentos leves. Na frente, estava seu motorista, Anderson Pedro Gomes, 39, que também morreu.
Como os criminosos agiram?
O carro dos criminosos emparelhou com o veículo em que Marielle estava, na rua Joaquim Palhares, próximo à estação Estácio do metrô. Após atirarem, eles fugiram sem roubar nada.
Quantos tiros foram disparados?
Ao todo, foram 13. O carro foi atingido nove vezes, sendo que todas as balas foram em direção ao banco traseiro, onde ela estava, segundo a Polícia Civil. Quatro tiros atingiram a cabeça da vereadora. Outros três, a lateral das costas do motorista. Como a maior parte dos disparos atingiram a vereadora, os investigadores avaliam que o atirador sabia que Marielle estava sentada naquele lugar.
Que arma foi utilizada no crime?
A polícia ainda não sabe. Segundo a perícia, a munição utilizada foi calibre 9 mm, que pode ser disparada por pistolas ou por submetralhadoras e não é vendida à população. Ela pode ser adquirido legalmente por colecionadores, atiradores esportivos e forças de segurança. Porém é comercializada com poucas restrições no Paraguai e entra no Brasil ilegalmente.
Qual é a origem da munição?
Ela foi comprada pela Polícia Federal em dezembro de 2006. Segundo a perícia, é a mesma que foi usada para matar 17 pessoas em agosto de 2015 nas cidades de Osasco e Barueri (Grande SP). A investigação da polícia paulista descobriu que parte das cápsulas encontradas no local do crime pertencia a um lote comprado pela PF de uma empresa privada. No caso de São Paulo, três policiais militares e um guarda civil foram condenados. De acordo com a polícia, não é possível dizer se eles têm relação com os suspeitos da morte de Marielle.
Desvios de munição comprada por órgãos oficiais no país são comuns?
Sim. Segundo a polícia, também é comum que cápsulas de projéteis já disparados sejam reaproveitadas. No caso do assassinato de Marielle e de seu motorista, a munição não tinha sinais de modificações.
Qual a principal suspeita da polícia?
O chefe da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa, admitiu que o crime pode ter sido uma “execução”, mas a investigação está sob sigilo.
Quantas pessoas estão envolvidas no crime?
A placa do veículo em que estavam os dois homens foi identificada e indica que o carro é de Nova Iguaçu, (Baixada Fluminense). Investigadores tentam rastrear os interlocutores da dupla em conversas telefônicas. A polícia trabalha com a hipótese de que mais de um carro tenha participado. Câmeras de segurança, na Lapa, mostram dois carros trocando sinais de farol durante a saída da vereadora de sua reunião. As investigações apontam que um terceiro veículo pode ter participado —seria o que emparelhou com o carro da vereadora no momento do assassinato. A confirmação depende ainda de novas análises de câmeras de rua.
Existe algum suspeito preso?
Sim. Cinco suspeitos estão presos, mas cumprem penas por outros crimes. São eles: o ex-PM Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, apontado como chefe de uma quadrilha de milicianos; o ex-bombeiro Luis Claudio Ferreira Barbosa e o ex-PM Alan Nogueira. As denúncias que levaram os agentes aos nomes dos suspeitos partiram de outro policial, que confessou ter integrado o mesmo grupo paramilitar. Em depoimento, o delator, que teve a identidade preservada, disse ter presenciado conversas entre Curicica e o vereador Marcelo Siciliano (PHS), em junho de 2017. Nesses encontros, o assassinato de Marielle teria sido encomendado pelo vereador.
Com medo de ser morta, a testemunha prestou depoimento em troca de proteção. Siciliano nega envolvimento com as mortes de Marielle e Anderson, além de afirmar reiteradas vezes que era amigo pessoal da vereadora, tendo aprovado projetos de lei em parceria com ela.
Em abril, Carlos Alexandre Pereira Maia, assessor de Siciliano, foi assassinado. A polícia investiga se foi “queima de arquivo”. Dois homens suspeitos pela morte do assessor foram presos e completam a lista de cinco detidos: Ruy Ribeiro Bastos e Thiago Bruno de Mendonça —sobre este último, pesa a suspeita de ter monitorado os passos de Marielle no dia do assassinato.
Há imagens do crime?
Segundo o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, todas as câmeras da região foram solicitadas e as imagens já estão sendo analisadas.
Como os criminosos sabiam onde o carro de lai apassar?
A polícia investiga a possibilidade de a vereadora ter sido seguida desde que deixou o evento na Lapa. Segundo investigadores, imagens de câmeras de segurança da região registraram dois homens parados em um veículo por duas horas nas cercanias da Casa das Pretas, na rua dos Inválidos (Lapa), onde Marielle estava em uma reunião.
A vereadora tinha recebido ameaças?
Segundo o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), ela não chegou a receber ameaças formalmente, mas sua militância, principalmente contra mortes praticadas por policiais, pode ter sido uma das motivações.
Quais eram suas militâncias?
Feminista, negra e criada na comunidade da Maré, na zona norte do Rio, sua principal militância era pela defesa dos moradores de favelas, principalmente os negros e mulheres. Ela havia denunciado supostos abusos do 41º batalhão, de Acari, o que mais matou pessoas nos últimos cinco anos, segundo o Instituto de Segurança Pública.
O que a única sobrevivente do ataque contou à polícia?
Ela disse que só conseguiu ouvir um estrondo e não viu nada do que ocorria fora do carro no momento dos disparos. Ela conseguiu apenas retirar a perna de Anderson do acelerador, desligar o carro e se jogar para fora.
A Polícia Federal entrou nas investigações?
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, chegou a manifestar que pediria a federalização das investigações, mas depois afirmou esperar que isso não fosse necessário. O comando das investigações das mortes de Marielle e Anderson continua com a Polícia Civil do Rio.