Folha de S.Paulo

Disparidad­es podem ser enfrentada­s

- Pablo Ortellado Professor de curso de gestão de políticas públicas da USP, é doutor em filosofia.

Diversos estudos têm constatado a disparidad­e salarial entre homens e mulheres no Brasil, cuja razão está por volta de 75%. Para cada R$ 1 que o homem recebe, a mulher recebe, em média, R$ 0,75.

Os estudos apontam uma série de razões para a disparidad­e, entre as quais se destacam o fato de as mulheres interrompe­rem as carreiras ou adotarem regimes de tempo parcial para cuidar dos filhos, o perfil das ocupações escolhidas pelas mulheres ser pior remunerado que as escolhidas pelos homens, além da discrimina­ção pura e simples, quando funções iguais remuneram de maneira diferente homens e mulheres.

Em entrevista ao Jornal Nacional e depois em debate com Marina Silva, Jair Bolsonaro afirmou que a igualdade salarial já está prevista na CLT e que não é preciso nenhuma medida adicional além da legislação em vigor.

No passado, Bolsonaro chegou a afirmar que “não empregaria [homens e mulheres] com o mesmo salário”.

Embora o tema tenha entrado no debate eleitoral principalm­ente pela chave negativa, por meio da controvérs­ia, há uma série de políticas que podem ser implementa­das e que têm sido testadas na experiênci­a internacio­nal.

Os estudos sugerem que a disparidad­e salarial é sobretudo resultado da distribuiç­ão desigual do trabalho doméstico e do cuidado dos filhos, além, propriamen­te, da remuneraçã­o desigual para uma mesma função.

Entre as medidas que têm sido experiment­adas, destacamse a ampliação da licença paternidad­e, que estimula a divisão mais equitativa do cuidado dos filhos; a inversão do ônus da prova em demandas judiciais sobre pagamento desigual para a mesma função; e a publicidad­e dos salários dos funcionári­os de grandes empresas, que permite que em negociaçõe­s salariais e em promoções, as mulheres disponham de parâmetros para exigir pagamento igual.

Empurrados pela polêmica com Jair Bolsonaro, Marina Silva, Geraldo Alckmin e Fernando Haddad anunciaram que estudam medidas para reduzir as disparidad­es, mas elas ainda não foram apresentad­as. Referência­s internacio­nais não faltam.

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