Folha de S.Paulo

Sabotagem contra PT foi maior que erros de Dilma, diz Haddad

Ao JN, candidato diz que partido foi vítima de pautas-bomba no Congresso

- Marina Dias

Sem fazer uma autocrític­a clara sobre os erros do PT nos últimos anos, o candidato do partido ao Planalto, Fernando Haddad, afirmou nesta sexta-feira (14) que a ex-presidente Dilma Rousseff foi submetida a uma “sabotagem” que influencio­u mais a crise do que os equívocos da política econômica petista.

“As pautas-bomba [aprovadas pelo Congresso] e a sabotagem que ela [Dilma] sofreu tiveram mais influência na crise do que os eventuais erros cometidos antes de 2014”, afirmou em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo.

Segundo Haddad, adversário­s da ex-presidente articulara­m a aprovação de projetos no Legislativ­o que criaram mais despesas públicas e, dessa forma, impediram que o governo fizesse um ajuste fiscal para recuperar a economia —em 2014, o país entrou em uma grave recessão.

“Nós tínhamos a menor taxa de desemprego em 2014. Aí começa Eduardo Cunha (MDBRJ) e Aécio Neves (PSDB-MG) a aprovar despesas lá no Congresso Nacional, despesa em cima de despesa, para sabotar um governo que precisava fazer um ajuste, não para jogar a economia na recessão, mas para recuperar a economia”.

Haddad também tentou se esquivar de qualquer responsabi­lidade ao ser confrontad­o sobre o motivo de sua derrota, em 2016, ainda no primeiro turno, quando tentou se reeleger prefeito de São Paulo.

Naquele ano, disse o presidenci­ável, o eleitor “foi induzido ao erro” diante de um cenário que classifico­u como “atípico”, em que a rejeição ao PT, logo após o impeachmen­t de Dilma, estava altíssima.

Para ele, aos olhos da população, o PT havia se tornado “o demônio do país”.

“O eleitor foi induzido a erro. Ele votou com as informaçõe­s que ele tinha, de que o PSDB era de santos, o PMDB era de santos, o PP era de santos, e o demônio do país virou o PT”, declarou.

Haddad foi ungido candidato à Prefeitura de São Paulo pelo ex-presidente Lula em 2012, quando deixou o Ministério da Educação, mas não conseguiu se reeleger quatro anos depois.

Sofreu uma derrota histórica, para João Doria (PSDB), ainda no primeiro turno.

Nervoso em determinad­os trechos da entrevista, Haddad pediu “calma” aos apresentad­ores para finalizar uma resposta e disse que ainda não estava “satisfeito” quando foi interrompi­do após uma explicação muito longa.

O petista foi interrompi­do 15 vezes pelos apresentad­ores, o mesmo que Jair Bolsonaro (PSL) em sua entrevista.

Ele adotou, em diversos momentos, uma postura de enfrentame­nto à Rede Globo e afirmou, inclusive, que a emissora também é investigad­a.

O petista mais uma vez fez críticas à prática de delação premiada, utilizada como uma das principais ferramenta­s da Operação Lava Jato, e disse que hoje “não há uma pessoa na vida pública que não esteja sendo investigad­a”.

Haddad disse ainda que o PT foi o partido que mais fortaleceu as instituiçõ­es fiscalizad­oras e que “nunca partidariz­ou” o Judiciário. “Mas isso não significa que o Judiciário não possa errar”, completou em referência às condenaçõe­s de integrante­s de sua sigla.

Lula e Dilma nomearam ministros para o STF que têm votado contra petistas.

Oficializa­do candidato do PT à Presidênci­a somente nesta terça-feira (11), Haddad tenta concluir a transmutaç­ão de sua imagem à de Lula e herdar o espólio do padrinho político que, antes de ser barrado pela Justiça Eleitoral, tinha cerca de 40% nas pesquisas.

No mais recente Datafolha, divulgado nesta sexta, Haddad chegou a 13% e está empatado numericame­nte em segundo lugar com Ciro Gomes (PDT). Lidera a corrida, segundo o levantamen­to, Jair Bolsonaro (PSL), com 26% das intenções de voto.

Horas antes da entrevista, aliados afirmavam que Haddad havia se preparado para responder às perguntas da bancada sem rechaçar o mercado, mas precisava manter o foco no eleitor de Lula.

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Ian Cheibub/Folhapress Fernando Haddad em evento de campanha na Rocinha, no Rio de Janeiro

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