Folha de S.Paulo

Doria diz que segurança é prioridade, mas cortou gasto na área como prefeito

Verba para policiamen­to caiu 15%; candidato promete maior salário a policiais e padrão Rota

- Artur Rodrigues

“Os policiais civis e militares vão ter os melhores equipament­os de defesa e combate. O que tiver de melhor de colete à prova de bala no mundo é o que vai ter. Não quero saber se não é nacional, eu quero o melhor”, disse João Doria (PSDB) no dia 10, a uma plateia formada por delegados de polícia.

Doria tem apostado na segurança como uma das bandeiras em sua campanha ao governo estadual, ressuscita­ndo o estilo “Rota na rua” de Paulo Maluf (PP), ex-governador do estado.

A promessa inclui um combo de aumento de orçamento para segurança e salário dos policiais, criação de batalhões e departamen­tos de polícia, além de carros parcialmen­te blindados e com câmeras.

O discurso de Doria candidato a governador destoa do retrospect­o dele como prefeito. No município, o tucano reduziu os gastos com policiamen­to e teve como bandeira mais ruidosa a tentativa, barrada pela Justiça, de mudar o nome da GCM (Guarda Civil Metropolit­ana) paraPolíci­a Municipal.

As despesas com policiamen­to na capital caíram 15% no primeiro ano de gestão do tucano, passando de R$ 109,9 milhões, em 2016, para R$ 93,6 milhões, em 2017, em valores corrigidos.

Os investimen­tos na GCM para comprar novos equipament­os e melhoria da estrutura foram os menores em 15 anos, caindo pela metade. Passaram de R$ 2,3 milhões, em 2016, para R$ 991 mil.

Doria cita problemas financeiro­s deixados pela gestão Fernando Haddad (PT) para justificar a queda. Porém, isso não impediu que ele aumentasse gastos em publicidad­e.

Em 2017, houve aumento de 7% nos gastos com propaganda —de cerca de R$ 65 milhões, em 2016, para R$ 70 milhões.

No ano seguinte, às vésperas das eleições, a prefeitura dobraria os gastos, chegando a R$ 73,8 milhões em apenas seis meses. Só o Asfalto Novo, uma das principais vitrines de Doria, consumiu R$ 28,9 milhões em publicidad­e.

Enquanto isso, a corporação enfrenta problemas de estrutura, diz Clóvis Pereira, presidente do Sindiguard­as de São Paulo. A ponto de se adiar o ingresso de guardas por falta de uniformes, exemplific­a ele.

Em campanha, Doria costuma citar doações que conseguiu como a de 600 pistolas Glock —avaliada em R$ 2,1 milhões— para os guardas.

Agentes dizem que as doa- ções estão longe de compensar o sucateamen­to da estrutura da corporação, o que faz com que sejam obrigados, por vezes, a repor com o próprio dinheiro peças do uniforme.

Até o momento a gestão tucana aumentou o efetivo da GCM em 256 guardas se comparado com 2016. O efetivo de 6.065 pessoas, porém, ainda é menor do que foi no passado recente —em 2014, por exemplo, era de 6.350.

Doria ainda promete aumento aos policiais, coisa que também não deu aos guardas. “O último reajuste da categoria foi em 2016”, diz Clóvis.

A principal aposta do candidato tucano na segurança é le- var Baeps (Batalhões de Ações Especiais) da PM, com padrão Rota, paraointer­ior. Aideiafez com que ele perdesse um dos colaborado­res do plano de governo, o coronel da reserva José Vicente da Silva, que foi secretário nacional de Segurança Pública no governo FHC.

Para Silva, batalhões como a Rota têm uma função restrita, como agir em situações de confronto com criminosos mais perigosos. “Tenho certeza absoluta que essa ideia não vai dar certo. Vai custar caro, a polícia vai matar muito e os resultados serão pífios”, disse.

Silva diz que equipes especializ­adas geralmente não conhecem a realidade de cada região e que que um modelo de melhoria do policiamen­to territoria­l, com policiais civis e militares agindo em conjunto e de maneira localizada, seria mais eficiente.

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