Doria diz que segurança é prioridade, mas cortou gasto na área como prefeito
Verba para policiamento caiu 15%; candidato promete maior salário a policiais e padrão Rota
“Os policiais civis e militares vão ter os melhores equipamentos de defesa e combate. O que tiver de melhor de colete à prova de bala no mundo é o que vai ter. Não quero saber se não é nacional, eu quero o melhor”, disse João Doria (PSDB) no dia 10, a uma plateia formada por delegados de polícia.
Doria tem apostado na segurança como uma das bandeiras em sua campanha ao governo estadual, ressuscitando o estilo “Rota na rua” de Paulo Maluf (PP), ex-governador do estado.
A promessa inclui um combo de aumento de orçamento para segurança e salário dos policiais, criação de batalhões e departamentos de polícia, além de carros parcialmente blindados e com câmeras.
O discurso de Doria candidato a governador destoa do retrospecto dele como prefeito. No município, o tucano reduziu os gastos com policiamento e teve como bandeira mais ruidosa a tentativa, barrada pela Justiça, de mudar o nome da GCM (Guarda Civil Metropolitana) paraPolícia Municipal.
As despesas com policiamento na capital caíram 15% no primeiro ano de gestão do tucano, passando de R$ 109,9 milhões, em 2016, para R$ 93,6 milhões, em 2017, em valores corrigidos.
Os investimentos na GCM para comprar novos equipamentos e melhoria da estrutura foram os menores em 15 anos, caindo pela metade. Passaram de R$ 2,3 milhões, em 2016, para R$ 991 mil.
Doria cita problemas financeiros deixados pela gestão Fernando Haddad (PT) para justificar a queda. Porém, isso não impediu que ele aumentasse gastos em publicidade.
Em 2017, houve aumento de 7% nos gastos com propaganda —de cerca de R$ 65 milhões, em 2016, para R$ 70 milhões.
No ano seguinte, às vésperas das eleições, a prefeitura dobraria os gastos, chegando a R$ 73,8 milhões em apenas seis meses. Só o Asfalto Novo, uma das principais vitrines de Doria, consumiu R$ 28,9 milhões em publicidade.
Enquanto isso, a corporação enfrenta problemas de estrutura, diz Clóvis Pereira, presidente do Sindiguardas de São Paulo. A ponto de se adiar o ingresso de guardas por falta de uniformes, exemplifica ele.
Em campanha, Doria costuma citar doações que conseguiu como a de 600 pistolas Glock —avaliada em R$ 2,1 milhões— para os guardas.
Agentes dizem que as doa- ções estão longe de compensar o sucateamento da estrutura da corporação, o que faz com que sejam obrigados, por vezes, a repor com o próprio dinheiro peças do uniforme.
Até o momento a gestão tucana aumentou o efetivo da GCM em 256 guardas se comparado com 2016. O efetivo de 6.065 pessoas, porém, ainda é menor do que foi no passado recente —em 2014, por exemplo, era de 6.350.
Doria ainda promete aumento aos policiais, coisa que também não deu aos guardas. “O último reajuste da categoria foi em 2016”, diz Clóvis.
A principal aposta do candidato tucano na segurança é le- var Baeps (Batalhões de Ações Especiais) da PM, com padrão Rota, paraointerior. Aideiafez com que ele perdesse um dos colaboradores do plano de governo, o coronel da reserva José Vicente da Silva, que foi secretário nacional de Segurança Pública no governo FHC.
Para Silva, batalhões como a Rota têm uma função restrita, como agir em situações de confronto com criminosos mais perigosos. “Tenho certeza absoluta que essa ideia não vai dar certo. Vai custar caro, a polícia vai matar muito e os resultados serão pífios”, disse.
Silva diz que equipes especializadas geralmente não conhecem a realidade de cada região e que que um modelo de melhoria do policiamento territorial, com policiais civis e militares agindo em conjunto e de maneira localizada, seria mais eficiente.