Fifa planeja limitar salários e valor de transferência de jogadores de futebol
Propostas estão em estudo feito por grupo de trabalho criado pelo presidente da entidade
A Fifa e seu presidente, Gianni Infantino, estão planejando promover mudanças significativas no mercado mundial de transferências de futebol, que movimenta bilhões de dólares ao ano.
As novas normas propõem limitar os preços que clubes estão autorizados a pagar por jogadores e reduzir o papel dos agentes no mercado.
As propostas, detalhadas em um relatório interno da Fifa preparado a pedido de Infantino, representariam a maior mudança no sistema de transferências mundial.
O relatório foi feito por um grupo de trabalho encarregado de levar em conta diversas questões, como a disparada no custo de contratação dos grandes talentos da modalidade; as preocupações quanto ao comportamento de agentes envolvidos nessas transações; e os crescentes rumores sobre práticas financeiras dúbias no mercado mundial de transferências, que movimenta cerca de US$ 6,5 bilhões ao ano (R$ 27,2 bilhões).
A proposta, à qual o jornal The New York Times teve acesso, inclui planos para uma nova câmara central de compensação que seria responsável por processar os pagamentos de todas as transações internacionais, entre as quais as comissões pagas aos agentes.
Essas comissões podem ser limitadas a 5% da remuneração total de um jogador, ou do valor da transferência.
Mas as medidas mais radicais são as que limitariam os montantes que clubes estão autorizados a gastar na contratação de atletas.
As propostas sob consideração incluem o uso de um algoritmo de referência para estabelecer o preço de um jogador. Os clubes que ultrapassarem o limite estabelecido seriam sobretaxados e esse valor extra seria dividido com o clube de origem do atleta.
O grupo de trabalho também menciona a possibilidade de limitar os gastos com salários de jogadores a uma porcentagem do faturamento do clube, como mecanismo para impedir que as agremiações entrem em crise financeira.
As mudanças propostas podem resultar em um novo duelo entre Infantino e alguns dos clubes e ligas de futebol mais ricos do planeta, que resistiram aos esforços dele, alguns meses atrás, para remodelar a Copa do Mundo de Clubes.
Não se sabe ainda que apoio a Fifa encontraria às propostas.
Meses depois de assumir a presidência da Fifa, Infantino propôs uma revisão séria do sistema mundial de transferência de jogadores, que essencialmente opera com regras de duas décadas atrás, quando as receitas do futebol eram muito menores.
“A percepção é a de que existe algo de estranho acontecendo nessas transferências”, disse naquele momento. “Depois de 15 anos, é hora de revisá-las seriamente e talvez gerar um pouco mais de transparência, um pouco mais de clareza quanto às regras”.
Mesmo antes de chegar à Fifa, Infantino havia expressado frustrações quanto à maneira pela qual o mercado de transferências se transformou em negócio separado, atraindo especuladores que buscam lucrar com as transferências de jogadores da mesma forma que investidores operam nos mercados de commodities ou produtos financeiros.
“As regras originais não tinham a intenção de criar um mercado”, escreveram os autores do relatório “Livro Branco - Reforma do Sistema de Transferências 2018”.
A criação da câmara de compensação, que seria administrada por uma organização terceirizada, teria papel central na reforma. Um banco comercial seria contratado para lidar com os pagamentos.
Entre os benefícios de uma estrutura como essa, argumenta o relatório, estaria uma transparência maior, em um mercado cujo movimento mais que dobrou desde 2011.
Ao centralizar os pagamentos, a Fifa espera garantir que os clubes que desenvolvem jogadores jovens recebam a remuneração por desenvolvimento a que têm direito.
Atualmente, milhões de dólares desses pagamentos, conhecidos como pagamentos de solidariedade, terminam não sendo transferidos. Para tornar o processo mais simples, a Fifa propõe a criação de um passaporte digital para os jogadores, que registraria todos os clubes que ele defendeu a partir dos 12 anos.
Quaisquer propostas, mesmo que aprovadas pelo conselho da Fifa, provavelmente demorariam a ser adotadas.
O relatório prevê que criar a câmara de compensação pode demorar até dois anos, e não existe cronograma para concluir as negociações sobre medidas que limitem os valores das transferências.
Entre as mudanças que podem ser adotadas ainda neste ano está a que envolve o número de jogadores que os clubes teriam direito a registrar em seus elencos e limitações aos empréstimos de atletas.
Algumas das constatações mais críticas do relatório se referem ao papel dos agentes, descritos como figuras centrais em uma “praga” de conflitos de interesses.
“A atual estrutura promove interesses financeiros que prevalecem sobre os interesses e o bem-estar de partes vulneráveis como os jogadores, especialmente os menores de idade”, afirma relatório.