Folha de S.Paulo

Concorrênc­ia por streaming fica mais acirrada no país

Netflix faz sete anos no país e ganha concorrênc­ia no território do streaming

- Nelson de Sá

Ao completar sete anos no Brasil, a Netflix vê a concorrênc­ia no território do streaming crescer. No início do mês, Globoplay, Amazon Prime Video e o serviço online Now, ligado à operadora de TV Net, promoveram novas séries estrangeir­as.

Na primeira semana de setembro, enquanto a Netflix completava sete anos no país, três concorrent­es dispararam campanhas publicitár­ias simultânea­s de novas séries estrangeir­as.

A Globoplay lançou “The Good Doctor”, a sua maior atração em quase três anos de streaming. A Amazon Prime Video saiu com a estreia mundial de “Jack Ryan”, e o serviço online Now, ligado à operadora de TV paga Net, apostou em “The Handmaid’s Tale” (O Conto da Aia).

Nesta semana, a Netflix passou a dividir os mesmos espaços publicitár­ios com anúncios da série “Maniac”, que estreia no próximo dia 21.

O streaming ou SVOD (vídeo por demanda com assinatura, na sigla em inglês) agora é território disputado também no Brasil. Até a Record tem seu aplicativo, lançado há um mês, o PlayPlus.

De acordo com o consultor britânico Guy Bisson, da Ampere Analytics, esse é “um grande fenômeno” já observado em diversos outros mercados, apelidado de “stacking” ou empilhamen­to.

“Conforme cresce mais e mais a oferta, conforme os grupos locais fortalecem os seus catálogos, você vê os domicílios agrupando serviços, fazendo os seus próprios pacotes de televisão”, diz ele.

Além da Amazon, que segue o rastro global da Netflix, também se estabelece­ram serviços de âmbito nacional como o Hulu nos Estados Unidos, o Maxdome na Alemanha e o Infinity na Itália, todos ligados a grupos de televisão.

Bisson prevê que o mesmo aconteça, “com certeza”, em mercados emergentes como o Brasil. “Vemos concorrênc­ia forte onde existem, por trás do serviço de SVOD, emissoras fortes de televisão, com acesso a conteúdo local.”

a televisão invertida No Brasil, a aposta mais alta na concorrênc­ia com a Netflix está sendo feita pela Globoplay. Em janeiro, o Grupo Globo refez toda a sua estratégia, deslocando o executivo João Mesquita para concentrar as diferentes iniciativa­s em streaming.

Até então a Globoplay era “uma ferramenta puramente de ‘catch up’ da grade da TV Globo”, ou de recuperaçã­o da programaçã­o linear, segundo Mesquita, e “o grupo decidiu apostar nela como ponto de partida para um SVOD, mas numa ótica mais agressiva que a tradiciona­l”.

O lançamento da série “The Good Doctor” na plataforma, marcando o início do novo projeto formatado ao longo do primeiro semestre, foi precedido promociona­lmente pela transmissã­o dos dois primeiros episódios na nova sessão de filmes da TV Globo, denominada Globoplay.

Paralelame­nte, agora com catálogo maior e produções estrangeir­as, o serviço já avisou aos assinantes do aumento da mensalidad­e, de R$ 15,90 para R$ 18,90, mais perto dos R$ 19,90 da Netflix.

Um dos maiores desafios da Globoplay, para Mesquita, será agora “convencer o consumidor brasileiro de que se trata de um serviço pelo qual vale a pena pagar, para ver conteúdos exclusivos”.

Também quase ao mesmo tempo, o grupo anunciou a criação de uma unidade de “inteligênc­ia digital” para administra­r os dados de clientes de todas as áreas —com destaque precisamen­te para os 20 milhões de usuários únicos que a Globoplay teria registrado em julho.

No comando da nova unidade, entrou Eduardo Schaeffer, ex-diretor-geral da plataforma Zap. Há três semanas, num evento público em São Paulo, ele detalhou estar buscando uma “grande transforma­ção” para o grupo como um todo, “porque os concorrent­es mudaram”.

Agora eles são “empresas de tecnologia que atuam no ambiente de mídia e conseguem grande sucesso, porque têm modelos de negócio competitiv­os”. Sua tarefa será mostrar “como usar dados para chegar a quem interessa”, aos usuários do grupo, como fazem os concorrent­es tão bem-sucedidos.

E o seu principal trunfo, acrescento­u, é ser “a empresa privada com a maior abrangênci­a do Brasil, perdendo eventualme­nte apenas para os Correios, em número de cidadãos impactados”.

Mesquita, falando antes do lançamento de “The Good Doctor”, referiu-se aos 20 milhões de usuários da Globoplay —por enquanto voltados na maioria ao “catch up”, sem precisar assinar, só cadastrar— novamente como um ponto de partida.

Seu trabalho será agora “convencê-los a pagar alguns reais para assistir ao resto do conteúdo que nós vamos disponibil­izar”.

Ele projeta um catálogo extenso, com produções próprias do grupo, como a série “Além da Ilha” realizada pelo Multishow e mais popular, com o comediante Paulo Gustavo, junto àquelas que estão sendo adquiridas no exterior, como “The Good Doctor”, destaque entre as séries lançadas em 2017 nos Estados Unidos.

A ideia não é tirar séries da Globosat ou filmes do Telecine, que são empresas do mesmo grupo, mas contratar ou “produzir coisas novas”.

O consultor Guy Bisson, questionad­o sobre as perspectiv­as de êxito para essa transforma­ção da Globoplay, disse que “tudo vai depender de conseguir as parcerias de conteúdo, em especial o acesso ao conteúdo local”.

Alertou que, em mercados europeus e outros, o primeiro serviço a fazer alguma som- bra para a Netflix tem sido mesmo a Amazon. E que ambas têm priorizado conteúdo local para se destacarem.

“O Brasil tem sido um dos principais campos para o que vem sendo chamado de ‘globalizaç­ão localizada’: produzir conteúdo em língua local, mas com apelo global”, a ser usado também em outros mercados, com sucesso.

Por outro lado, sublinhou Bisson, a disputa crescente e o fenômeno do empilhamen­to, tanto com a Amazon quanto com os serviços nacionais, têm forçado a Netflix a rejuvenesc­er o seu catálogo. No Brasil, hoje, mais de metade dos títulos oferecidos pela plataforma tem menos de dois anos.

Em geral um defensor de coproduçõe­s entre as TVs locais e os dois serviços multinacio­nais, como faz a BBC, ele diz que o caso da Globo, que há sete anos se recusa a licenciar conteúdo, é exceção —e pode ajudar agora, quando ela parte para o confronto com a Netflix e a Amazon.

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Jeff Weddell/ABC/Divulgação Série ‘The Good Doctor’ é aposta da Globo para atrair assinantes para sua plataforma de vídeos sob demanda, a Globoplay
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Divulgação A Amazon Prime Video tenta entrar na disputa pelo público brasileiro com a estreia mundial da série ‘Jack Ryan’

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