Folha de S.Paulo

Artistas da Bienal de SP criam trilhas sonoras para suas obras

No Spotify, convidados reúnem músicas que acompanham processos criativos

- Isabella Menon

“Chiquita Bacana lá da Martinica se veste com uma casca de banana nanica.” A marchinha de Carnaval, em versão regravada pelo funkeiro MC Kekel, é uma das escolhas da artista Denise Milan na playlist que fez no Spotify para a Bienal de São Paulo.

Outros artistas que integram o evento no pavilhão do Ibirapuera também foram convocados para atacar de DJs e criar listas de músicas na plataforma de streaming.

A ideia é que as canções selecionad­as acompanhem seus processos criativos, estejam presentes no dia a dia deles ou sejam ligadas às obras dentro de suas exposições.

Milan montou uma das playlists mais ecléticas, que conta com músicas que vão do funk brasileiro a sinfonias.

“Para ser bem sincera, eu não conheço muito bem funk”, diz a artista sobre a escolha de MC Kekel. Afirma que o escolheu “pelo humor que a letra traduz”.

Milan, que ocupa um espaço na mostra com uma instalação de grandes pedras e cristais, diz que sua seleção inspirou uma conexão maior dela com as rochas.

“Cada música é como se fizesse parte de uma pincelada minha”, diz ela, que também escolheu músicas do americano Stevie Wonder e do brasileiro Lenine.

Já o espanhol Gabriel PerézBarre­iro, responsáve­l pela direção artística da Bienal, selecionou uma trilha sonora em que as músicas se relaciona com os artistas da mostra.

“Minha Vida”, de Rita Lee, por exemplo, homenageia Lucia Nogueira, que viveu grande parte da vida em Londres. A música escolhida, no caso, é uma tradução de “In My Life” dos Beatles. “Gosto mais da música em português do que em inglês”, diz o curador.

“Gracias a La Vida”, canção que a compositor­a chilena Violeta Parra escreveu antes de se suicidar, foi escolhida pensando no artista paraguaio Feliciano Centurión, morto aos 34 anos, vitima de Aids.

“Nasúltimas­obras,écomose ele estivesse se despedindo da vida”, analisa Peréz-Barreiro.

Entre as músicas brasileira­s, ele escolheu “Não Quero Dinheiro”, de Tim Maia, relacionad­a ali ao trabalho do espanhol Antonio Ballester Moreno, que, com suas obras, propõe uma discussão sobre a sociedade capitalist­a.

Ballester Moreno, que cria associaçõe­s entre biologia e arte no espaço que organizou, por sua vez, escolheu apenas músicas de Bob Marley para compor a sua playlist.

Para o brasileiro Waltercio Caldas, Peréz-Barreiro pensou em “Koto Song”, um jazz japonês que foi uma dica recebida por ele do próprio artista. “Toda vez que vou ao Rio, ele me leva a uma livraria e eu compro tudo o que ele me diz que é bom”, conta o diretor artístico.

Na lista de Caldas, o jazz também é muito presente. Além disso, há canções brasileira­s e músicas clássicas.

Das 16 listas criadas pelos artistas e disponívei­s na plataforma desde a abertura do evento, a mais ouvida até agora é a seleção de Wura-Natasha Ogunji. A americana de ascendênci­a nigeriana que mora Lagos, na Nigéria, discute na Bienal a relação entre diversos território­s.

Entre as músicas escolhidas por ela, há canções de artistas negros americanos, como Nina Simone, mas também uma da malinesa Oumou Sangaré. A islandesa Björk e o americano Elliott Smith também se fazem presentes na playlist.

Batizada “Afinidades Afetivas”, esta edição da Bienal tem como objetivo se desprender de um tema central e abrir espaço para mais vozes além daquela do diretor artístico.

De acordo com Peréz-Barreiro, a união dos artistas com a música foi uma “forma de conhecê-los melhor”.

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Divulgação Pintura de Vânia Mignone, uma das artistas que expõe na Bienal de São Paulo

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