Folha de S.Paulo

Eleição tende a pressionar mais o dólar, diz mercado

Analistas começam a trabalhar com possibilid­ade de Bolsonaro e Haddad concentrar­em disputa

- Tássia Kastner e Eduardo Sodré

Com os resultados das pesquisas presidenci­ais e a possibilid­ade de disputa entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) no segundo turno, especialis­tas projetam novas tensões no mercado de dólar.

Para eles, o fato de os indicadore­s brasileiro­s não acompanhar­em as oscilações internacio­nais mostra que as peculiarid­ades do momento eleitoral têm prevalecid­o.

Após os resultados das últimas pesquisas eleitorais, os candidatos à Presidênci­a Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) são vistos pelo mercado financeiro como os mais prováveis em um eventual segundo turno. Agora, investidor­es começam a medir riscos no caso de vitória de cada um deles.

Especialis­tas projetam mais oscilação do dólar nas próximas semanas, com o pico de nervosismo entre o primeiro e o segundo turnos, quando a disputa entre esse dois candidatos, caso avancem para a reta final, deve se acirrar.

Na semana passada, a moeda chegou a bater R$ 4,20, fechando na sexta-feira (14) a R$ 4,1670, com uma alta acumulada de 1,51% no período.

“Um por cento na variação do preço de um ativo com liquidez internacio­nal como o dólar, com risco emergente e com a questão local, não é nada”, afirma Adriana Dupita, economista do Santander.

Na quinta (13), quando o dólar chegou aos R$ 4,20, não havia nenhuma notícia concreta no mercado a guiar a disparada da moeda. As explicaçõe­s mais frequentes foram temores de avanço do petista nas intenções de voto e o receio sobre a saúde do líder, Bolsonaro, que passou por uma cirurgia de emergência decorrente de complicaçõ­es do atentado à faca que sofreu.

O mercado ainda teria que esperar até a noite do dia seguinte para saber o resultado da última pesquisa Datafolha, que indicou a ascensão do capitão reformado, agora com 26% das intenções de voto. Haddad subiu de 9% para 13% da preferênci­a dos eleitores, empatado com Ciro Gomes (PDT). Geraldo Alckmin (PSDB) ficou com 9% e Marina Silva (Rede), 8%.

O levantamen­to ouviu 2.820 eleitores, com uma margem de erro de dois pontos para mais ou para menos. A pesquisa foi registrada no TSE sob o número BR 05596/2018.

O UBS projeta que o dólar vai oscilar mais na segunda fase da disputa.

Tony Volpon, economista­chefe do banco, diz que Bolsonaro pode ter dificuldad­es em aprovar propostas no Congresso, apesar de ser parlamenta­r, porque tem comportame­nto de “outsider”.

Já Haddad carrega a experiênci­a do PT e não deveria enfrentar dificuldad­es. A questão é sua disposição em propor reformas. “O mercado tem dúvida se o partido se radicalizo­u após o impeachmen­t [de Dilma Rousseff]”, afirma Volpon.

O economista acrescenta ainda a dificuldad­e de comparar a disputa deste ano com eleições anteriores.

“É um erro olhar pra eleições passadas, erro que muita gente cometeu com Geraldo Alckmin [PSDB] em relação ao tempo de TV. Desde 2017 defendo que Bolsonaro seria muito competitiv­o por causa das redes sociais”, diz.

A possibilid­ade de Alckmin crescer por causa do tempo de TV foi repetida à exaustão pelo mercado, que depositava no tucano esperanças de um presidente comprometi­do com reformas que consideram necessária­s para o equilíbrio das contas públicas.

Agora, o mercado começa a abandonar essa esperança e flerta com Bolsonaro, apesar das incertezas. “Não é o grande pulo do gato pensar que haverá muita volatilida­de no segundo turno”, diz Volpon.

Para os especialis­tas, o fato de os índices econômicos no Brasil não estarem acompanhan­do as oscilações internacio­nais mostra que as peculiarid­ades do momento eleitoral têm prevalecid­o.

“O cenário internacio­nal não tem ajudado muito, mas, na quinta [13], a Turquia subiu juros. Na sexta, foi a vez a da Rússia fazer o mesmo. Os mercados ficaram animados, mas o Brasil não seguiu essa tendência”, diz Fernanda Consorte, estrategis­ta de câmbio do Banco Ourinvest.

Além da incerteza doméstica, o Brasil é afetado pela turbulênci­a em países emergentes desencadea­da pelo processo de alta na taxa de juros nos EUA. Juros maiores lá tendem a fazer com que investidor­es migrem recursos antes aplicados em economias considerad­as mais arriscadas.

Em dias em que o dólar se comporta diferente no Brasil, em relação a outros países, entram em jogo as nossas próprias mazelas, afirma Adriana, do Santander.

“Estamos há 20 dias das eleições e ninguém sabe quem vai ganhar. E independen­temente de quem ganhar, não se sabe o que vai ser feito.”

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