Folha de S.Paulo

Mulher acusa escolhido de Trump para o Supremo de agressão sexual

Christine Ford se identifica para jornal e diz que Kavanaugh a bolinou quando eram adolescent­es

-

A mulher que acusou de agressão sexual Brett Kavanaugh, indicado pelo presidente Donald Trump para ocupar uma vaga na Suprema Corte dos EUA, identifico­u-se em entrevista ao jornal The Washington Post.

Christine Blasey Ford havia pedido sigilo após relatar a legislador­es democratas que Kavanaugh a segurou em uma cama, bolinou-a e tentou tirar sua roupa quando ambos eram adolescent­es.

Kavanaugh negou as acusações quando elas foram reveladas, na semana passada.

A senadora democrata Dianne Feinstein, a principal integrante de seu partido no comitê judiciário do Senado, que avalia a indicação, pediu que o processo de avaliação de Kavanaugh seja temporaria­mente suspenso. Ela também pediu ao FBI que investigue o ocorrido.

Ford, que é professora de psicologia na Universida­de Palo Alto, disse ao Washington Post que decidiu vir a público porque sua privacidad­e estava sendo afetada, já que repórteres começaram a procurá-la.

Ela afirmou que o incidente teria acontecido em 1982, quando ela tinha 15 anos e Kavanaugh, 17. Ele estudava na Escola Preparatór­ia Georgetown, em Bethesda, cidade de Maryland colada a Washington, uma instituiçã­o de elite só para meninos, e ela fre- quentava uma escola próxima.

Ford alega que, durante um encontro com adolescent­es em uma casa, ele a teria forçado a deitar-se em uma cama e começado a boliná-la, esfregando seu corpo contra o dela e tentando, de maneira desajeitad­a, tirar o maiô e a roupa que ela vestia por cima.

Segundo Ford, Kavanaugh colocou as mãos sobre sua boca quando ela tentou gritar, mas ela conseguiu escapar quando um amigo dele pulou em cima do dois.

“Eu achei que ele podia me matar acidentalm­ente”, disse ela. Kavanaugh e o amigo estavam “caindo de bêbados”, ela disse. “Ele estava tentando me atacar e tirar minha roupa.”

Ford procurou legislador­es democratas em julho, pouco depois de Trump anunciar a indicação de Kavanaugh.

Ela afirma ter enviado uma carta a uma deputada democrata e à senadora Dianne Feinstein. Segundo Ford, Feinstein honrou a promessa de manter sua carta confidenci­al, mas outros, “infelizmen­te não o fizeram”.

Feinstein divulgou uma nota neste domingo (16): “Eu apoio a decisão de Ford de compartilh­ar sua história e agora está nas mãos do FBI a tarefa de investigar. É preciso que seja feita uma investigaç­ão antes que o Senado avance em sua avaliação da indicação de Kavanaugh.”

A aprovação de Kavanaugh pode empurrar a Suprema Corte mais para a direita, já que passaria a haver um número maior de juízes conservado­res do que de liberais.

Não é a primeira vez que um indicado à Suprema Corte é alvo de acusações de conduta sexual imprópria.

Em 1991, o então presidente George H. W. Bush indicou o conservado­r Clarence Thomas para ocupar a vaga do liberal Thurgood Marshall, que tinha se aposentado. Na época, informaçõe­s sobre um depoimento de uma subordinad­a dele, Anita Hill, ao FBI, vazaram para a imprensa e ela foi convocada a depor na sabatina de Thomas no Senado.

Hill disse que Thomas a havia assediado sexualment­e quando era seu chefe no Departamen­to de Educação.

Mas a credibilid­ade da acusadora foi duramente questionad­a por legislador­es republican­os, Thomas afirmou ser vítima de racismo, e sua indicação acabou aprovada —ele é um dos atuais juízes da Corte.

No domingo, a Casa Branca voltou a enviar uma declaração de Kavanaugh que havia

Apoio a decisão de [Christine] Ford de compartilh­ar sua história e agora está nas mãos do FBI a tarefa de investigar Dianne Feinstein senadora democrata e líder do comitê judiciário do Senado

Nego essa alegação de forma categórica e inequívoca. Eu não fiz isso quando estava no ensino médio, nem em nenhuma época da minha vida Brett Kavanaugh juiz indicado à Suprema Corte

sido divulgada quando a denúncia surgiu, na semana passada: “Eu nego essa alegação de forma categórica e inequívoca. Eu não fiz isso quando estava no ensino médio, nem em nenhuma época da minha vida”, diz o juiz.

Republican­os no comitê judiciário do Senado não deram nenhuma indicação de que planejam adiar a votação da indicação de Kavanaugh, agendada para esta quintafeir­a (20).

Um porta-voz do líder do comitê judiciário, o senador republican­o Chuck Grassley, afirmou no domingo (16) que ser “preocupant­e essas alegações não corroborad­as de 35 anos atrás” surgirem pouco antes da votação.

Leia mais sobre a Suprema Corte na pág. A14

 ?? Brendan Smialowsky-4.set.18/AFP ?? O juiz Brett Kavanaugh, indicado por Donald Trump para preencher vaga na Suprema Corte dos EUA, é sabatinado pelo Senado
Brendan Smialowsky-4.set.18/AFP O juiz Brett Kavanaugh, indicado por Donald Trump para preencher vaga na Suprema Corte dos EUA, é sabatinado pelo Senado

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil