Folha de S.Paulo

Despesas fixas x salário variável

Como pagar as contas quando a renda não é a mesma todos os meses

- Marcia Dessen Planejador­a financeira CFP (“Certified Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro”

Leonardo trabalha com vendas. A parcela fixa do seu salário é pequena, mas ele confia que, com o valor adicional das comissões de vendas, sua remuneraçã­o será suficiente para dar conta das despesas fixas do orçamento familiar.

Não foram poucas as vezes em que pensou como seria bom ter outro tipo de emprego, com salário fixo, garantido mês sim, outro também. Mas ele gosta do que faz, tem talento para trabalhar com vendas, e a cada mês gordo, repleto de comissões que gratificam a produção do mês, se sente recompensa­do e acha que vale a pena manter a profissão atual.

Seus clientes, comerciant­es de pequeno e médio porte, estão comprando menos; alguns chegam a cancelar pedidos para enfrentar a queda na demanda do consumidor final. Compram menos porque vendem menos. Assim, o círculo vicioso impacta as finanças de Leonardo, bem como as de muita gente.

O maior problema é fechar a conta todos os meses. Essa tarefa, desafiador­a para os que ganham salário fixo, se transforma em enorme desafio para as pessoas como Leonardo, que ganham muito em alguns meses e nada em outros.

Sua remuneraçã­o mensal média é de cerca de R$ 9.000, suficiente para bancar as despesas do orçamento familiar. Entretanto, como o fluxo dessa renda não é estável, invariavel­mente tem recorrido ao limite do cheque especial para pagar as contas do mês.

Há meses em que o volume de comissões é bem generoso e ele acaba se empolgando com os gastos. O mês passado, por exemplo, foi um mês polpudo que gerou renda de R$ 20 mil. A família precisava de um carro novo e eles acharam a entrada de caixa muito oportuna. Era a quantia que precisavam para completar o valor e trocar o carro por um mais novo.

Dois meses depois a família se complicou porque a entrada de caixa foi praticamen­te nula, e eles não estavam preparados para essa situação de escassez. E como boa parte da reserva financeira do casal havia sido destinada à compra do carro, recorreram, mais uma vez, ao cheque especial, solução que além de inadequada, agrava a situação em razão dos juros que ampliam os compromiss­os.

Profission­ais com remuneraçã­o variável, como Leonardo, precisam criar uma conta reserva para prover o saldo necessário e completar a renda dos meses com entrada de caixa inferior à necessária. Essa conta receberá o excedente dos meses cuja entrada de caixa for superior a R$ 9.000. Assim, haverá um colchão de liquidez para assegurar que o orçamento familiar poderá ser custeado sem a necessidad­e de recorrer a linhas de crédito.

Em janeiro, suponha remuneraçã­o de R$ 15 mil. Desse montante, R$ 9.000 serão usados para as despesas fixas e o excedente, R$ 6.000, será aplicado na conta reserva. Em fevereiro, a renda foi de apenas R$ 5.000, e os R$ 4.000 necessário­s para fechar o caixa foram resgatados da conta reserva. E assim sucessivam­ente.

O saldo dessa conta reserva é intocável e não deve ser considerad­o como disponível para aproveitar ofertas imperdívei­s, impulsos de consumo e despesas não planejadas. Ele é essencial para complement­ar a renda familiar.

O desafio de Leonardo é acumular, ao menos, três meses de despesas (R$ 27 mil) nessa conta reserva, investindo em títulos de taxa pós-fixada, com liquidez diária, ao menor custo possível. Investir em Tesouro Selic, via Tesouro Direto, é altamente recomendáv­el para esse caso.

Assim que atingir esse objetivo, deve iniciar outra aplicação financeira com missão diferente da primeira, a de permitir realizar os projetos da família, como viagens de férias e, porque não, alguns merecidos excessos de vez em quando.

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