Folha de S.Paulo

Em 5 anos, bandidos roubam 875 armas de policiais de SP

Dados da Secretaria da Segurança foram obtidos via Lei de Acesso à Informação

- Alfredo Henrique Agora

Em cinco anos, bandidos roubaram ou furtaram 875 armas de policiais civis e militares do estado de São Paulo. Os dados são da Secretaria da Segurança Pública, sob a gestão Márcio França (PSB), obtidos pela reportagem por meio de via Lei de Acesso à Informação. No total, foram 504 roubos e 371 furtos.

Entre 2013 e 2017, a PM teve 468 armas roubadas de seus agentes e 338 furtadas, totalizand­o 806 armamentos que saíram das mãos dos profission­ais da Segurança Pública. No mesmo período, a Polícia Civil teve roubadas e furtadas, respectiva­mente, 36 e 33 armas de fogo, totalizand­o 69.

Os dados mostram um predomínio dos casos de roubo —57,6% do total. Na capital paulista, não foi diferente: foram 227 armas roubadas e 128 furtadas da PM, e 17 roubadas e 15 furtadas da Civil.

As pistolas foram as armas mais levadas por criminosos. Ao todo, foram 416 pistolas roubadas e 283 furtadas, representa­ndo, respectiva­mente, 82,5% e 76,2% do total de armas tiradas das mãos de agentes de segurança no estado.

David Marques, coordenado­r de projetos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirma que os dados mostram que as armas de fogo são um bem “visado pela criminalid­ade”.

“A arma de fogo, sobretudo hoje no Brasil, é muito valorizada no mercado ilegal. Muitas vezes, quem tem arma [incluindo quem não é policial] é visado pela criminalid­ade, para o roubo desta arma”, diz.

Segundo o mais recente o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, de 2017, quase 14 mil armas de fogo legais foram “perdidas, extraviada­s ou furtadas” no Brasil. “Isso equi- vale a 11,5% do total de armas apreendida­s [que foi de 119 mil no ano passado]”, afirma.

No primeiro semestre deste ano foram registrado­s 28 boletins de ocorrência no estado sobre o roubo de armas de PMs, e somente um da Polícia Civil. No mesmo período do ano passado, foram 37 assaltos a militares e nove a civis.

Um caso que ainda será incluído nas estatístic­as é o roubo da pistola ponto 40 do policial militar Hélio Valentim Junior, 44, no dia 9 deste mês no Sacomã (zona sul de SP). A arma foi levada após uma dupla de criminosos tentar roubar, sem sucesso, a moto do cabo. Os bandidos fugiram e ainda não foram identifica­dos.

A pistola da soldado Juliane dos Santos Duarte, 27, também foi roubada após a PM ser sequestrad­a, em 2 de agosto, em Paraisópol­is (zona sul). Ela foi pega por bandidos encapuzado­s e encontrada morta quatro dias depois.

Bruno Langeani, gerente de Sistemas de Justiça e Segurança Pública do Instituto Sou da Paz, diz que geralmente as armas usadas por criminosos são fabricadas no Brasil, compradas legalmente por pessoas físicas, ou por quem realiza segurança privada, além de policiais. “Estas armas podem ser desviadas no decorrer de suas vidas úteis”, afirma.

“A arma, ao invés de repelir, é um elemento de atração. Se o criminoso descobre que há uma arma em um local, isso se torna um ‘ímã’ para a invasão de casas ou fazendas, por exemplo”, diz. Segundo ele, as armas furtadas ou roubadas “estão dando tiro na polícia” no dia seguinte, contribuin­do para o aumento da criminalid­ade.

Benedito Gomes Barbosa Júnior, especialis­ta em segurança pública e presidente do Movimento Brasil Livre, que defende o direito das pessoas adquirirem armas de fogo, afirmou que a totalidade dos roubos e furtos de armas de policiais “é um número insignific­ante”, comparado às apreensões de armamentos realizadas no estado de São Paulo —86.987, entre 2013 e 2017.

“Se pensarmos que um cidadão não pode ter arma porque ela pode ser roubada, tem que usar isso também para as polícias. Isso é uma enorme bobagem, tão bobagem como dizer que o cidadão não pode ter uma arma, porque ela pode ser furtada.”

A Secretaria da Segurança Pública afirmou por meio de nota que sindicânci­as ou inquéritos policiais militares apuram o extravio de armamento das polícias Civil e Militar. “Os números citados pela reportagem representa­m 0,2% do total de armas em poder dos policiais [atualmente]”, disse.

O governo afirmou ainda os roubos de armas de agentes superam os furtos pelo fato de representa­rem “motivo de força maior”. “A quantidade de furtos de armamentos é menor em relação aos roubos, pois exige-se uma conduta e cuidados especiais dos policiais na guarda do equipament­o”, disse a pasta.

 ?? Fonte: Secretaria da Segurança Pública ??
Fonte: Secretaria da Segurança Pública

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil