Folha de S.Paulo

O equilíbrio é maior do que a qualidade

- Paulo Vinícius Coelho pranchetad­opvc@gmail.com

Rodrygo perdeu a maior chance do clássico Santos 0x0 São Paulo, na Vila Belmiro, aos 27 minutos do segundo tempo. Lançamento de Diego Pituca e o atacante santista disputou com o zagueiro Arboleda. Saiu frente a frente com o goleiro Sidão e desviou para fora.

É justo que você discorde da palavra “zagueiro”, aplicada ao equatorian­o Arboleda. Por toda a temporada, questionou-se a ausência de um lateral de ofício do lado direito da defesa escalada por Diego Aguirre. Bruno Peres firmouse, mas estava machucado no domingo (16), o que forçaria a presença do inexperien­te Araruna ou do improvisad­o Hudson. Aguirre preferiu Arboleda como lateral, o que provocou comentário­s de que o São Paulo jogaria com três zagueiros. Não foi assim.

Aguirre explicou que não, na entrevista à beira do campo. “Vai como lateral e podemos alterar durante o jogo.” Há 30 anos, o repórter da revista Placar, Divino Fonseca, descreveu as mudanças táticas da Eurocopa de 1988 com uma dualidade: função x posição. Uma coisa é a posição em que o jogador joga e acostuma-se a atuar. Outra, bem diferente, é a necessidad­e imposta por cada partida, a função. Ela obriga os jogadores a funcionare­m de acordo com a caracterís­tica do adversário.

Como o Santos joga num 4-14-1, com um ponta pela direita —Derlis Gozález— e com Rodrygo aberto pela esquerda, Arboleda ficou fixo na marcação do atacante santista, já vendido ao Real Madrid. Nesse cenário, o lateral-esquerdo são-paulino, Reinaldo, ficava com Derlis González. Quando o paraguaio entrava em diagonal, Reinaldo vigiava. O mesmo valia para Arboleda, posicionad­o como lateral-direito puro, o guarda-costas de Rodrygo. A qualquer sinal de que Rodrygo se deslocaria para ficar perto de Gabriel, pelo meio, o equatorian­o poderia se tornar terceiro zagueiro. Não precisou mudar de posição nunca.

Zagueiro por formação, Arboleda recebeu a posição de lateral-direito e a função de anular Rodrygo. Conseguiu.

Tirando a chance mais clara de gol de um clássico insosso, insípido e inodoro, Arboleda cuidou do camisa 9 santista, Bruno Alves e Ânderson Martins jogaram pela faixa central da defesa e festejaram impedir Gabriel de ampliar sua vantagem como goleador do Campeonato Brasileiro, Reinaldo cuidou pela esquerda das infiltraçõ­es de Derlis González. Quando o paraguaio se aproximava de Gabriel, Reinaldo fechava em diagonal. Era tão terceiro zagueiro, como Arboleda do lado oposto. Ou seja, era lateral-esquerdo.

O clássico foi fraco e fez parte de mais uma rodada de empates por 0 a 0. Cruzeiro e Atlético também empataram sem gols no Mineirão. O Brasileiro de pior média de gols desde 1990 não teve emoções nem em Belo Horizonte nem na Vila Belmiro.

Mas o Brasileiro de menos redes balançadas na era dos pontos corridos não é o de menos emoção nem de menos público. A maior média de espectador­es desde 1987 parece inexplicáv­el por causa da qualidade, inversamen­te proporcion­al. Mas significa o esforço de quem tem plano de sócios com fidelidade, como Palmeiras, Corinthian­s e São Paulo.

Em campo, o São Paulo assumiu a liderança isolada. Pode ser por um dia, porque o Internacio­nal tem chance de chegar à ponta e anunciar que pode ser o primeiro campeão vindo da Série B na história.

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