Folha de S.Paulo

Bolsonaro não é monstro, afirma líder de igreja

Fundador da Igreja Fonte da Vida afirma que pastores têm direito de participar da vida política

- Rogério Gentile

“As pessoas que não iriam votar nele [Bolsonaro] e tinham tendência de votar na esquerda, com o passar do tempo, estão mudando. O país realmente está mudando com o efeito da Lava Jato. Vamos ter surpresas Apóstolo Cesar Augusto

Fundador da Igreja Fonte da Vida, o apóstolo Cesar Augusto afirma que a Justiça Eleitoral fere a liberdade de expressão e a de representa­tividade ao coibir a participaç­ão política dos pastores.

Em agosto, o TSE cassou o mandato do deputado federal Franklin (PP-MG) e o do estadual Márcio José Oliveira (PP-MG). Na campanha de 2014, ambos participar­am de um evento religioso no qual o líder de uma igreja pediu aos fiéis votos para eles.

Na opinião de Cesar Augusto, o pastor tem tanto direito de emitir sua opinião como um professor, um empresário ou um médico.

Eleitor de Jair Bolsonaro, ele diz que o candidato não é o “monstro” que muitos achavam ser.

Em agosto, um deputado federal e um estadual foram cassados, pois um líder religioso pediu votos aos seus fiéis. Como o sr. vê esse fato?

Respeito a Justiça, base da democracia. Mas a Justiça pode se equivocar, como nesse caso, ferindo dois direitos fundamenta­is: a liberdade de expressão e a de representa­tividade. A igreja é um segmento. Representa a sociedade, o cidadão. Por que as outras instituiçõ­es podem apresentar os seus candidatos e a igreja não? É um equivoco, que evidencia um preconceit­o injustific­ado quanto à capacidade intelectua­l de escolha dos fiéis. Ninguém é forçado a frequentar uma igreja, sendo livre para sair se houver invasão de sua individual­idade.

Em outra decisão, o TRE- SP cassou um candidato ao concluir que foi ajudado por um pastor, que distribuiu propaganda fora do templo. Aos olhos da lei, os templos são tidos como de “bem comum”, lugares de frequência pública. Dentro do templo não se pode identifica­r candidatos, nem falar sobre eles. Mas a mesma lei não impede que se fale dentro dos templos sobre valores cívicos ou morais, nem que se apresente os candidatos do lado de fora da igreja. Se esse juiz agiu dessa forma, se equivocou, mas todo ser humano é passível de erro.

A participaç­ão política dos pastores não desequilib­ra a disputa eleitoral?

O pastor, acima de tudo, é um cidadão. Paga seus impostos e tem direito de se expressar igual a um médico, a um professor em sala de aula ou a um empresário quando reúne seus funcionári­os. Isso é liberdade de expressão. Os membros da igreja aceitam ou não. O pastor não tem o poder de fazer com que a igreja aceite sua opinião. Pelo contrário, no meio evangélico, quando há uma atitude ditatorial, a tendência da igreja é fazer o oposto.

O sr. já pediu voto?

Dentro da igreja, não. Fora, já pedi, peço e pedirei. Sou um cidadão brasileiro, envolvo-me com as questões do país, tenho responsabi­lidade com as pessoas que me admiram e gostam daquilo que falo. Não sou unanimidad­e, como ninguém é. Nem Cristo foi e nem Cristo é, mas tem pessoas que querem ouvir minha opinião. Falarei fora do templo. Dentro do templo, falo sobre valores.

Um atleta [Felipe Melo, do Palmeiras] declarou seu voto após uma partida e quase foi punido por isso. A liberdade de expressão está sob ataque?

Acho que sim e vou além. Se o Felipe declarasse apoio a um candidato de esquerda, não seria perseguido. Mas teve coragem e contribuiu com a democracia. Respeitar opiniões diferentes das que gostamos faz parte da democracia. Somos obrigados pela ditadura intelectua­lizada esquerdist­a a achar que só é bonito posicionar-se do lado de quem representa a esquerda? A esquerda foi um grande mal para o país, que ainda traz esse ranço de atraso. Parabéns, Felipe Melo! Que outros tenham coragem de se posicionar.

Preocupa o clima de radicaliza­ção política?

A democracia é uma disputa de ideias, não uma imposição. Você não parte para a violência. Ganha quem tem os melhores argumentos e consegue convencer o eleitor. Preocupa uma disputa de uns contra outros.

A Confederaç­ão dos Conselhos de Pastores do Brasil declarou apoio ao Bolsonaro. O sr. concorda?

Sim. Mas há várias instituiçõ­es que representa­m os evangélico­s. Nem todas são vinculados a essa confederaç­ão. E todas têm o direito de emitir sua opinião. O que não pode é ficar em cima do muro. Quem fica em cima do muro não serve para liderar.

Bolsonaro defende a liberação do uso de arma e já se posicionou favorável à tortura e à pena de morte. Não é uma contradiçã­o aos valores cristãos?

Ninguém é perfeito. A esquerda posiciona-se a favor do aborto, da ideologia de gênero; os candidatos da esquerda apoiam o kit gay e a tudo isso nós cristãos somos totalmente contrários. Então, cada candidato tem a sua liberdade para expressar. Lógico que o meio evangélico é pacificado­r, somos da paz. Mas, entre aqueles que estão postulando a Presidênci­a, vamos escolher os que se aproximam mais dos nossos valores.

Haddad cresceu nas pesquisas por conta de sua identifica­ção com Lula. O eleitor que o apoia não acredita na culpa do ex-presidente ou não liga para a questão ética?

Lula assumiu o país com um caixa muito bom deixado pela administra­ção anterior. Com esse dinheiro, fez bons projetos, montou uma boa equipe, mas depois fez o que todos sabemos e o que a Lava Jato mostrou. Essa camada da população que foi beneficiad­a tem a tendência de se posicionar ao lado do PT. Mas, com o passar do tempo, muitos que achavam que o Bolsonaro seria um monstro estão vendo que ele não é. Pelo contrário, a monstruosi­dade tentou destruí-lo e isso mostrou a humanidade que o Bolsonaro tem.

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Ueslei Marcelino/Reuters Apoiador do candidato a presidente da República Jair Bolsonaro (PSL) durante culto em igreja evangélica em Brasília
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Cesar Augusto Machado de Souza- Apóstolo da Igreja Fonte da Vida- Idade: 64 anos- Natural: Franca-SP - Esposa: Rúbia Pinheiro Fernandes de Souza - Fundou a igreja com Rúbia, em 1994- A igreja tem presença nos EUA, Europa e África

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