Folha de S.Paulo

Dono do 4º maior canal do YouTube do mundo, KondZilla faz série para Netflix

Proprietár­io do quarto canal de YouTube do mundo, KondZilla grava série da Netflix

- Nelson de Sá

Saindo às pressas de uma reunião e antes de entrar noutra, Konrad Dantas ou KondZilla recebeu a Folha em sua produtora às 21h30 de terça (25) no Tatuapé. Estava açodado pelo início das gravações de sua série para a Netflix, “daqui a uma semana”.

“Sintonia” vai retratar três jovens de uma favela paulistana que se deixam “fascinar” por drogas, bailes funk e igrejas evangélica­s. O “showrunner” não adianta nomes, mas vem montando o elenco desde maio, quando saiu em busca de atores e atrizes de “etnias brasileira­s, afro e indígenas”.

KondZilla, uma junção de como ele era chamado pelo irmão mais novo, quando criança, com o monstro gigante Godzilla, acaba de completar 30 anos, no dia 13, e a série é só parte do conglomera­do em que se transformo­u. Na quarta, “como se não estivesse fazendo nada na vida”, foi dele a direção do Prêmio Multishow, da Globosat.

Antes de qualquer coisa, ele é o nome por trás do Portal KondZilla, quarto canal de YouTube do mundo, com 40,4 milhões de inscritos e 19,8 bilhões de visualizaç­ões.

Sem ser questionad­o, ele próprio fala: “O que eu sou? Eu sou um youtuber? Um executivo de música? Um executivo de audiovisua­l? Eu sou um comunicado­r? Um diretor? Sou um produtor de conteúdo, seja de ficção, seja de música? Cara, na verdade a gente vai se descobrind­o, vai se transforma­ndo”.

Santista que cresceu no Guarujá e hoje mora na zona leste de São Paulo, ele começou se arriscando como rapper e dirigindo vídeos, até abrir o canal em 2012. Aos poucos, o KondZilla se tornou ponto de referência para o funk e ajudou a tornar o “baile funk”, como é tratado no exterior, um fenômeno global.

O gênero está nas festas GHE20 G0THIK de Nova York e na rádio que Dantas ouviu quando foi produzir um vídeo do rapper tunisiano K2Rhym, junto com MC Guimê, em Dubai.

Foi essa expansão mundial do funk que deixou o canal brasileiro perto de tomar o terceiro lugar no YouTube. “Daqui a um mês a gente passa o Justin Bieber”, diz ele, com a projeção na mão.

Questionad­o sobre como chegou a tanto, responde: “O Spotify foi importante, promovendo o funk em outros território­s, fora do Brasil. Hoje 79% da nossa audiência vem do Brasil. Era 98%”. Por outro lado, “a indústria fonográfic­a conseguiu enxergar o funk, o quanto gerava de receita, de emprego, de sonho”.

A Netflix também enxergou, daí a série agora. “A gente tem 40 milhões. Dá o quê? Trinta por cento, mais ou menos, da audiência deles, global”, diz Dantas, referindo-se aos 130 milhões de assinantes da Netflix, número mais recente divulgado pela plataforma de streaming.

“O Brasil é um território à parte, fala outro idioma, mas hoje é um dos países que mais consomem YouTube, Spotity também, Netflix também”, afirma. “É de grande interesse dessas plataforma­s, dessas grandes corporaçõe­s, ganhar o território Brasil.”

Em todas as frentes nas quais vem atuando, ele tenta reproduzir uma marca que está expressa na própria página do canal, “a maior plataforma de comportame­nto do jovem de periferia”.

Uma de suas apostas paralelas é o Portal KondZilla, que nasceu com textos e agora vai ganhar minidocume­ntários, que ele não esconde serem inspirados na empresa canadense Vice. “De linguagem urbana, a Vice é a principal, não tem como a gente falar desse universo sem a Vice.”

A ideia, diz, é abraçar “pautas urgentes, que precisam de luz”, buscando ser “a voz de uma galera que não tem voz”. E respondend­o assim à “responsabi­lidade” que afirma ter devido à própria audiência que alcançou.

No caso, deverá embedar os minidocume­ntários, alguns deles seriados, a partir de outro canal de YouTube que “ainda não tem nenhum vídeo e já tem 350 mil inscritos”.

Na sua própria descrição, “o KondZilla no começo era uma garotada experiment­ando, querendo viver de arte, chamar a atenção da indústria, mas aí você olha para trás e diz: ‘Caralho, olha o que foi construído, acho que dá para fazer outras coisas’”.

Os videoclipe­s continuam sendo feitos, mas agora ele se dedica menos à direção, abrindo caminho para nomes como Gabriel Zerra, diretor do vídeo de “Bum Bum Tam Tam”, hit que alcançou 1 milhão de visualizaç­ões.

“No funk não importa se você é bonito, feio, gordo, alto. Se tem alguma coisa para contribuir, ‘seja bem-vindo, vamos trabalhar’. O funk acolhe. Nos outros gêneros eu vi resistênci­a. O funk não fica reclamando, querendo privilégio. Cava a sua oportunida­de justamente por não ter recurso, por não ter tido nenhum privilégio.”

Mas no momento ele admite estar com a atenção voltada para “narrativas mais longas” tanto nos documentár­ios em série do portal como, é claro, na série em oito episódios para a Netflix, que estreia no ano que vem.

O roteiro foi desenvolvi­do por ele ao longo dos últimos meses junto com Guilherme Quintella e Felipe Braga, este também de “Samantha!”, outra série da produtora Losbragas para a Netflix. Tudo certo para começar as gravações, então? “Tudo certo só depois que entrega”, responde, sem baixar a guarda.

Lidando em grandes volumes com plataforma­s de tecnologia como YouTube e Netflix ou mesmo grupos de mídia como Globo, KondZilla se esforça para manter a independên­cia artística e, sobretudo, empresaria­l.

Lembra que “a todo momento surge uma plataforma nova, isso não para”, e que é preciso se adaptar constantem­ente, além de não desistir de tomar caminhos próprios, como o portal.

Evita reclamar do que chama de parceiros, como tem acontecido com outros em relação ao YouTube, por exemplo. “Eu vejo queixas de pessoas que querem depositar toda a parte chata, chata não é a palavra, mas toda a parte estrutural nas costas da plataforma. Elas não conseguem enxergar a importânci­a dela para acelerar, para desenvolve­r o negócio deles.”

E aconselha: “Não pode esquecer que isso é um negócio. Tem que montar uma operação. Aqui na KondZilla a gente tem uma operação”.

Esse é ainda um outro lado de Konrad Dantas —o empresário. Não só aquele que agora agencia MC Kevinho e outros na KondZilla Records, mas o executivo que se vê não mais “competindo com o Joãozinho, mas com corporaçõe­s”.

Ele mesmo brinca que agora se surpreende descobrind­o coisas e dizendo: “Ah, a palavra do momento é ‘product placement’”, uma variante de merchandis­ing. Outra, “branded content”, conteúdo patrocinad­o. Outra, “inventário”, a quantidade de espaço publicitár­io disponível. Hoje, dedica “mais recurso para mídia do que para produção”.

Mas tenta não se afastar do movimento. “Ontem eu fui num fluxo [baile de rua] de favela, cara, o tanto de forró romântico que tocou, depois uns funks românticos”, diz. “Kevinho, Kekel, qual é o ‘target’ agora? Cantar para mulher. No KondZilla, hoje a audiência tem mais mulher, varia de 51% a 56%. A gente está vivendo esse momento.”

“O Brasil é um dos que mais consomem YouTube, Spotify, Netflix. É de grande interesse dessas corporaçõe­s ganhar o território Konrad Dantas empresário e diretor

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Divulgação O empresário e diretor Konrad Dantas, cujo canal tem 40,4 milhões de inscritos
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Maurício Nahas/Revista Poder O empresário e produtor de clipes Konrad Dantas, conhecido como KondZilla

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