Folha de S.Paulo

Semana dos Bolsonaros

Um olhar bem-humorado sobre a semana de Jair, Paulo e Hamilton

- Renato Terra Roteirista e autor de “Diário da Dilma”. Dirigiu o documentár­io “Uma Noite em 67”

Para ler ao som de “Esta família é muito unida / E também muito ouriçada / Brigam por qualquer razão / Mas acabam pedindo perdão”

Hamilton Mourão iniciou a semana em reunião consigo mesmo para elaborar propostas econômicas. Além da extinção do 13º salário e o fim do adicional de férias, o militar vai defender que a empresa cobre pelo cafezinho, pelo copo d´água, pelo uso dos banheiros, pelo xerox e pela conta de luz quando o arcondicio­nado estiver ligado.

Ao longo da semana, aprimorou uma reforma trabalhist­a raiz, que tornará facultativ­o o pagamento de salário desde que patrão arque com o custo de hospedagem dos trabalhado­res em senzalas. Para se blindar de críticas, preparou uma versão mais branda que autoriza o pagamento dos trabalhado­res em balas Juquinha. Na quinta, foi desautoriz­ado por Paulo Guedes e por Juquinha. Na sexta, teve seu silêncio desautoriz­ado por Jair Bolsonaro. No sábado, foi desautoriz­ado a pintar o cabelo.

Jair Bolsonaro desautoriz­ou Paulo Guedes na segunda-feira. Na terça, desautoriz­ou Gustavo Bebianno, que havia desautoriz­ado o diretório de Brasília a desautoriz­ar Paulo Guedes.

Na quarta, proibiu a si mesmo de falar de assuntos que não domina, como economia, educação, saúde e culinária da Ásia Oriental. Em seguida, negou três vezes, diante do espelho, que tenha estimulado a violência. Na quinta, desautoriz­ou, via Twitter, seu vice Hamilton Mourão. Na sexta, desautoriz­ou os jornalista­s a falarem a seu respeito e Cora Rónai a falar sobre seu aquário. Paulo Guedes iniciou a semana cochichand­o, discretame­nte, com empresário­s graúdos sobre a venda de Roraima para o capital estrangeir­o. Na terça, reuniu-se com banqueiros em um bunker. Na quarta, foi desautoriz­ado a usar o bunker. Na quinta, guardou seu plano econômico em um cofre. Na sexta, o cofre foi violado por Bolsonaro.

No final da tarde, o presidente Michel Temer gravou um vídeo recitando um novo poema de sua lavra:

Quadrilha

Jair desautoriz­ava Paulo que desautoriz­ava Hamilton/ que desautoriz­ava Sargento Pincel, que não desautoriz­ava ninguém.

Jair foi para a reserva, Paulo para uma holding/ Hamilton tentou um autogolpe/ e Sargento Pincel destacou-se como o menos trapalhão da história.

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