Folha de S.Paulo

Presidenci­áveis divergem em relação à crise na Venezuela

- PCM

Os presidenci­áveis divergem em relação à melhor maneira para lidar com a crise política e humanitári­a na Venezuela, que será uma questão incontorná­vel para o próximo governante brasileiro.

O único candidato que defende sanções contra a ditadura de Nicolás Maduro e, eventualme­nte, alguma intervençã­o no país é Jair Bolsonaro (PSL).

“Vocês podem contar comigo, eu farei o que for possível para aquele governo lá ser destituído”, disse Bolsonaro a venezuelan­os em Roraima, em abril deste ano.

Bolsonaro acredita que as sanções seriam uma forma eficiente de forçar o governo Maduro a negociar.

Mas, apesar de pressões dos EUA, o Brasil se recusa, historicam­ente, a impor sanções que não sejam decididas em foros multilater­ais como o Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O PT ainda resiste a criticar o regime de Maduro e a afirmar que não há democracia na Venezuela. No ano passado, logo após a criação da Assembleia Constituin­te que esvaziou os poderes do Legislativ­o venezuelan­o, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, se recusou a dizer que a Venezuela era uma ditadura.

“(Precisamos) dar apoio e solidaried­ade ao governo do PSUV [Partido Socialista Unido da Venezuela], seus aliados e ao presidente Maduro frente à violenta ofensiva da direita”, disse Gleisi.

Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores no governo Lula e um dos autores do programa de Fernando Haddad (PT), afirma que discutir se trata-se ou não de uma democracia é contraprod­ucente.

“A Venezuela precisa de diálogo, não de pressão e isolamento”, diz. “O presidente [Barack] Obama, quando se reaproximo­u de Cuba, também não ficou discutindo se o país era ou não uma democracia.”

Haddad apresenta uma posição mais moderada. “Quando você está em conflito aberto, como está lá, não pode caracteriz­ar como uma democracia”, disse o petista em agosto, respondend­o se a Venezuela e a Nicarágua poderiam ser considerad­as democracia­s. Haddad reluta, no entanto, em criticar o regime de Maduro. “Os governos do PT nunca tomaram partido quando há conflito aberto ou não em países da região. E eu acho essa posição correta do ponto de vista da diplomacia.”

O candidato do PDT, Ciro Gomes, afirma que a Venezuela é uma democracia. “Venezuela é uma democracia tão democrátic­a quanto a brasileira e a americana”, disse, em entrevista em junho.

Ele afirmou não gostar do regime, nem apoiá-lo, mas disse que o Brasil não pode se intrometer nos assuntos domésticos dos países vizinhos. “Nosso papel é mediar o conflito antes que ele descambe para uma guerra civil.”

O candidato tucano, Geraldo Alckmin, acredita que a Venezuela é uma ditadura, mas é contra qualquer tipo de intervençã­o militar no país, como chegou a ser defendido pelo presidente americano, Donald Trump, e pelo secretário­geral da OEA, Luis Almagro.

“Defendemos o restabelec­imento dos canais de comunicaçã­o com o governo Maduro”, disse Rubens Barbosa, formulador de política externa do PSDB.

Para Marina Silva (Rede), o que está acontecend­o na Venezuela não é nem legítimo nem democrátic­o. “A eleição [presidenci­al, em maio] foi viciada e antidemocr­ática; não há democracia em um país onde a oposição está presa ou teve que ir embora”, disse, em julho.

Ela alfinetou os governos do PT. “Quando a gente tem princípios, não pode abrir mão deles por alinhament­os ideológico­s; os governos Dilma e Lula negligenci­aram essa situação.”

Ela se opõe, no entanto, a sanções e intervençõ­es no país.

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27.set.18/Jim Watson/AFP Venezuelan­os protestam contra Maduro em frente à ONU, em Nova York

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