Folha de S.Paulo

Curila travava batalha contra Chronos, o deus do tempo

ANDRÉ LONGO MILANESE (1990-2018)

- Marcelo Ullmann OSWALDO SALVADOR PETRILLI Neste domingo (30) às 16h, Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, r. Honório Líbero, 90, Jardim Paulistano.

“Curila veio para São Paulo para conquistar o mundo”; “Curila precisa se alimentar muito bem”; “Curila se recusa a dormir tarde”. André tinha essa mania curiosa de, usando seu apelido, fazerse referência em terceira pessoa. Curitibano, aos 17 veio para São Paulo construir a vida. Em razão de sua origem, era comumente chamado de Curi, Curitiba, ou Curila, sendo a última sua alcunha favorita.

Tinha uma espécie de obsessão em aproveitar os minutos da forma mais eficiente possível. Andava sempre com seu relógio de pulso marcando as fatias de tempo para melhor otimizá-lo. Os amigos brincavam com essa caracterís­tica, dizendo que, também pela inteligênc­ia descomunal, ele seria uma espécie de computador humano de última geração.

Não há relatos de alguém que tenha com ele convivido que não o descrevess­e como intelectua­lmente brilhante. Formado em administra­ção de empresas pela FGV e em direito pela USP, fazia estágio enquanto cursava as duas faculdades. Era sua forma de mostrar ao deus Chronos quem estava no comando.

Assim como tarefas, André também acumulava amigos. Entre os “Apôs”, patota de dez inseparáve­is da faculdade de direito, era o cabeça. Ele que marcava os churrascos e as viagens; quem não compareces­se era imediatame­nte suspenso do grupo de WhatsApp, do qual ele era, obviamente, o administra­dor. Era seu jeito pouco ortodoxo de dizer o quanto amava cada um daquela turma.

Em uma Peruada, tradiciona­l Carnaval fora de época promovido pela faculdade de direito, ele foi o Piu-piu de 1,90m, seguido por nove Frajolinha­s, devotados amigos.

Fazia sucesso com as meninas, mas quem amoleceu seu coração foi Milena. Cruzaram seus caminhos em uma festa no Rio de Janeiro e, desde então, mantiveram-se unidos. Depois que a conheceu, um dos amigos brincou que ele havia feito a derradeira atualizaçã­o de seu software: tornara-se, enfim, 100% humano.

No último dia 19 concluiu que a batalha contra Chronos era inglória. Decidiu tomar a dianteira. Fez sua cama, arrumou sua casa, e deu stop em seu relógio suíço. Destinou seus bens para o Projeto Gauss, que concede bolsas e apoio a alunos de baixa renda. Deixa a mãe, Aricélia, e o pai Leandro.

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