Folha de S.Paulo

Copa opaca do Brasil

As semifinais ficaram devendo futebol, e os finalistas precisam jogar melhor

- Juca Kfouri Jornalista e autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP

O Paulistano, último campeão brasileiro de basquete, pode jogar 100 vezes contra o Golden State Warriors, derradeiro campeão americano, que não ganhará nem sequer 1 vezinha.

O nosso campeão da NBB se dará por muito feliz se impedir 100 vitórias do campeão da NBA por mais de 100 pontos pelo menos 1 vez.

No futebol, como se sabe, não é assim.

Na semana passada tivemos provas disso no Campeonato Espanhol.

O campeão nacional Barcelona perdeu do lanterna Leganés por 2 a 1, primeira vitória da equipe em seis rodadas.

Não bastasse, o campeão mundial Real Madrid foi atropelado pelo Sevilla por 3 a 0.

A derrota do time catalão, nos arredores de Madri, pode ser posta na conta dos acidentes do futebol, mas a dos madridista­s, na Andaluzia, soou inapelável, com todos os gols em 39 minutos de jogo.

Se essas coisas acontecem com os gigantes milionário­s espanhóis, por aqui há mais motivos para acontecer.

Outro dia mesmo o Ceará, entre os rabeiras, derrotou o Flamengo, no topo da tabela, por 1 a 0, no Maracanã, com mais de 61 mil torcedores rubro-negros.

Ora, se o Ceará pôde, mais motivos tinha o Corinthian­s para tentar. Não tentou.

Conformou-se com acovardado 0 a 0 para buscar a vitória no jogo de volta. Deu certo.

Pedrinho saiu do banco, lembrou Romarinho na Bombonera e fez o gol decisivo no primeiro toque dado na bola, após 18 segundos em campo. Algum corintiano reclamou? Pelo menos um! Futebol não pode ser só isso. Em noite cercada de enorme expectativ­a, tanto a vitória corintiana, por 2 a 1, quanto o empate, 1 a 1, entre Cruzeiro e Palmeiras, foram em jogos decepciona­ntes.

Com 88 mil torcedores irmãmente divididos entre Itaquera e o Mineirão e enorme audiência na TV.

Foram 33 pontos, em São Paulo, e 37 no Rio para o chamado Clássico do Povo, cada ponto equivalent­e a cerca de 201 mil pessoas na Pauliceia e a 118 mil na Cidade Maravilhos­a.

Ou seja, estamos falando de 11 milhões de espectador­es só nas duas cidades, audiência que superou a novela Segundo Sol.

Convenhamo­s, tanta gente merecia mais, se não tão quente, com brilho, como o da lua.

Tudo bem. Não se pode exigir mais do desmontado Corinthian­s, embora Flamengo, Palmeiras e Cruzeiro tivessem a obrigação de proporcion­ar espetáculo­s melhores.

Por mais inútil o clamor contra o futebol de má qualidade, é essencial prosseguir antes da mediocrida­de virar padrão definitivo e as novas gerações perderem a noção do jogo bonito.

Acreditem, jovem e rara leitora e jovem e raro leitor, nós, brasileiro­s, somos capazes, pois já fomos.

Por mais que o presente contrarie o passado, o futuro não pode ser sacrificad­o em nome do resultado.

Rima pobre em busca de solução.

Foi mal, Tricolor!

O São Paulo homenageou uma porção de seus vitoriosos jogadores com uma calçada da fama, chamada de Caminho dos Ídolos. Foram contemplad­os 99 ex-atletas tricolores. Fez muito bem.

Mas cometeu uma grave injustiça com Richarlyso­n.

Dobrou-se, provavelme­nte, ao preconceit­o da torcida uniformiza­da Independen­te e deixou de fora um tricampeão brasileiro com a camisa são-paulina.

Justamente magoado, o jogador se queixou em entrevista a Benjamin Back, na Fox Sports.

Como a diretoria do clube informa que novas homenagens acontecerã­o, é de se esperar que corrija a odiosa omissão.

Esta sim, rima pobre com solução.

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