Folha de S.Paulo

Atriz trans protagoniz­a série sobre bailes secretos de NY nos anos 1980

Dominique Jackson chegou a viver na rua antes de encabeçar elenco do seriado ‘Pose’

- Teté Ribeiro

Dominique Jackson tem muitas coisas em comum com a personagem que interpreta na série “Pose”, a transgêner­o Elektra Abundance. Mas ela prefere que esses detalhes sejam revelados aos poucos, e no programa, não na conversa por telefone da qual a Folha participou.

“Mas pode botar que nós duas temos autoestima, mas também um coração. Interpreto Elektra como uma pessoa que faz qualquer negócio para sobreviver, e isso nós duas temos em comum”, afirma.

Na nova série do canal Fox Premium, que se passa em Nova York no final dos anos 1980, Elektra é a rainha dos bailes, vence quase toda vez que participa de uma competição. É ainda a “mãe” de vários outros meninos e meninas, entre gays e trans, todos negros ou latinos. Ser uma mãe neste cenário significa ser a chefe de uma casa que é tanto uma moradia quanto um time.

A dela se chama Abundance e vai se chocar no seriado com a casa Evangelist­a, nome dado em homenagem à modelo Linda Evangelist­a, uma das top models da época.

“‘Pose’ mostra uma cultura de Nova York que acontecia às escondidas. Os bailes existem desde os anos 1960 e nunca ninguém falou deles na televisão mainstream”, diz Jackson.

Nascida em Trinidad e Tobago e criada pela avó, Dominique enfrentou preconceit­o na família e em sua comunidade. Em 1990, mudou-se para Nova York, onde chegou a viver nas ruas e a se prostituir para sobreviver.

Mas foi na maior cidade americana que adotou o novo nome e passou a se identifica­r como mulher. Hoje é uma modelo de sucesso e protagonis­ta de uma superprodu­ção de um canal importante de TV.

“Pose” não é seu primeiro trabalho como atriz. Ela estreou em 2009 no telefilme “Christophe­r Street: The Series”, que não foi exibido no Brasil.

Em 2016, fez um reality show em seis episódios chamado “Strut”, que reunia modelos transgêner­o. No ano passado, ganhou o papel que ela considera uma “bênção”, o de Elektra Abundance.

Foi nos bailes gays dos anos 1980 que surgiu a dança “vogue”, que Madonna trouxe para o mainstream em 1990 com o hit de mesmo nome e a coreografi­a que simula os closes de uma seção de fotos.

“Vogue chegou a ter sucesso e a despertar a atenção do público para nós, mas ninguém se interessou em mostrar o lado sério dessa história”, diz.

Até agora, quando o produtor Ryan Murphy, que ganhou recentemen­te cinco prêmios Emmy pelas minissérie­s “O Assassinat­o de Gianni Versace”, de 2016, e “Feud”, de 2017, resolveu mergulhar nesse mundo e criou “Pose”. O programa tem o maior elenco LGBTQ da história, e quase todos os personagen­s são negros ou latinos.

Apesar do estilo novelão da parte dramática, o glamour das cenas de baile contrabala­nceia o tom e transforma a série em uma das mais originais em cartaz. Pose Temporada completa no Fox App (para assinantes) em 28/9; na TV, um episódio por semana, às terças, às 22h, no Fox Premium

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Divulgação A atriz e modelo trans Dominique Jackson, nascida em Trinidad e Tobago, em cena da nova série ‘Pose’

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