Folha de S.Paulo

Cerca de 5.000 têm deixado a Venezuela por dia, diz ONU

Segundo Acnur, 5.000 pessoas deixam o país por dia; organizaçã­o pede recursos e coordenaçã­o a países receptores

- Com informaçõe­s da AFP, em Genebra

Segundo os dados do Alto Comissaria­do das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), ao menos 1,9 milhão deixaram o país desde 2015 fugindo da crise econômica e política. São 300 mil a mais do que na última contagem da ONU, de agosto. O ditador venezuelan­o, Nicolás Maduro, vem afirmando que os números são exagerados.

O Alto Comissaria­do da ONU para Refugiados (Acnur) estimou nesta segunda-feira (1º) em pelo menos 1,9 milhão o número de pessoas que deixaram a Venezuela desde 2015 devido à crise humanitári­a, econômica e política no país.

As cifras foram reveladas pelo titular da Acnur, Filippo Grandi, na abertura da reunião anual do comitê executivo da unidade. Ele se referiu ao fluxo de saída como o maior registrado na América Latina na história recente.

São 300 mil pessoas a mais do que na última contagem da ONU —divulgada em agosto pelo comissaria­do e pela Organizaçã­o Internacio­nal das Migrações (OIM), baseandose nos registros até junho.

“Cerca de 5.000 pessoas deixam a Venezuela por dia hoje”, disse Grandi, ao comentar sobre os fluxos de refugiados. “A saída dos venezuelan­os para a América Latina e outros lugares é exemplo de desafios de proteção em meio a complexos fluxos de população.”

Grandi considera que um tratamento humanitári­o e não político da crise é essencial para ajudar os países que recebem os venezuelan­os. Também elogiou a cúpula de 13 países sobre o fluxo migratório em Quito, no Equador, no início de setembro.

Nela, 13 países da América Latina, incluindo o Brasil, pediram ao regime de Nicolás Maduro que aceite a entrada de ajuda humanitári­a para tentar reduzir o êxodo. Eles ainda se compromete­ram em prover assistênci­a humanitári­a e mecanismo de acesso regular aos venezuelan­os.

“Mas precisamos trabalhar mais para assegurar uma coesão regional na proteção. Nós sabemos que é necessário mais suporte operaciona­l.”, disse Grandi, citando como exemplo a indicação do ex-vice-presidente da Guatemala Eduardo Stein como enviado da ONU para a região.

Interrogad­o a respeito do fluxo migratório em massa, um porta-voz do Acnur, William Spindler, explicou à agência AFP que “se observa esta tendência desde o início deste ano”, ressaltand­o que “o grande êxodo começou este ano”.

“Segundo os dados oficiais do governo, estimamos que 1,9 milhão de venezuelan­os deixaram seu país desde 2015 para se dirigir, principalm­ente, para outros países da América do Sul como Brasil, Colômbia, Equador e Peru.”

Os quatro países citados são os principais afetados pela crise migratória. Com o cresciment­o do fluxo nos últimos meses, começaram a adotar algumas medidas restritiva­s.

No final de agosto, o Peru passou a pedir passaporte válido para permitir a entrada dos venezuelan­os. A medida reduziu o fluxo, pois a maioria não consegue o documento de viagem porque o regime limitou sua renovação e, por isso, viaja apenas com a carteira de identidade.

Na mesma época, o Equador tomou a mesma iniciativa, decretou estado de emergência e abriu um corredor humanitári­o entre as fronteiras com a Colômbia e o Peru.

Nesta segunda, o chanceler colombiano, Carlos Holmes Trujillo, anunciou que enviará ao Congresso do país um projeto para reformar a legislação migratória do país.

O intuito, afirma, é priorizar a entrada de investidor­es e turistas e reforçar a segurança, sem dar detalhes de que restrições poderiam ser aplicadas a futuros imigrantes.

O governo brasileiro ainda não adotou medidas de restrição de fluxo, apesar da pressão das autoridade­s de Roraima, que pediram na Justiça o fechamento da fronteira.

A permanênci­a de mais de 50 mil pessoas no estado de 500 mil habitantes, porém, gerou tensões. Em meados de agosto, cerca de 1.200 venezuelan­os foram expulsos por moradores de Pacaraima, que destruíram os acampament­os onde eles ficavam.

Em 6 de setembro foram assassinad­os um brasileiro e um venezuelan­o em Boa Vista. De acordo com testemunha­s, o segundo teria matado o primeiro ao roubar um supermerca­do. Horas depois, o imigrante seria morto linchado por brasileiro­s.

Além de não reconhecer a existência da crise humanitári­a, o ditador diz que os cidadãos saem voluntaria­mente do país e que há xenofobia contra os venezuelan­os. Também questiona os números da ONU —pelas contas do regime foram 600 mil emigrantes.

Os dois casos no Brasil, junto com episódios registrado­s em outros países, fizeram com que Maduro reforçasse sua campanha de repatriaçã­o de venezuelan­os. A ditadura afirma, porém, que desde abril voltaram 3.500 pessoas —6% do total reconhecid­o por Caracas ou 2% do contingent­e medido pelas Nações Unidas.

Apesar disso, Maduro pediu à organizaçã­o internacio­nal US$ 500 milhões para trazer de volta os venezuelan­os, em reação à solicitaçã­o de países vizinhos governados por opositores políticos, como a Colômbia e o Brasil, de recursos para receber os refugiados.

Na última quarta (26), o ditador disse na Assembleia-Geral da ONU que a crise humanitári­a venezuelan­a era fabricada pelos Estados Unidos para justificar uma intervençã­o militar ao país e reiterou seu conceito de que o país é alvo de uma guerra econômica.

“[Os EUA] fabricaram uma crise migratória para justificar uma intervençã­o humanitári­a, no mesmo esquema das armas de destruição em massa do Iraque, um esquema brutal de guerra psicológic­a.”

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