Para Trump, Brasil não é justo com as empresas dos EUA
Governo afirma que balança comercial é positiva para os americanos
Pela primeira vez, o presidente dos EUA, Donald Trump, reclamou das relações comerciais com o Brasil. Para ele, o país trata as empresas americanas de forma injusta e é um dos mais difíceis no mundo para negociar.
O presidente americano, Donald Trump, acusou nesta segunda-feira (1º) o Brasil de ser um dos países mais difíceis do mundo para se ter relações comerciais.
Ele disse que a forma como as empresas americanas são tratadas é injusta.
As críticas geraram reações no Brasil. O Mdic (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços) afirmou que os Estados Unidos tiveram superávit de US$ 90 bilhões (R$ 362,4 bilhões) nos últimos dez anos apenas no comércio de bens.
“É uma beleza, eles cobram de nós o que querem. Se você perguntar a algumas das empresas, elas dizem que o Brasil está entre os mais difíceis do mundo, talvez o mais difícil do mundo”, afirmou Trump.
“Nós não ligamos para eles e dizemos: ‘Ei, vocês estão tratando nossas empresas injustamente, vocês estão tratando nosso país injustamente’.”
Para Trump, o problema é que nenhum presidente americano tentou negociar as relações com o Brasil.
Foi a primeira vez que ele reclamou do país, mas não é a primeira vez que o Brasil se torna alvo de Trump.
A principal disputa no momento diz respeito ao desejo do Brasil de ingressar na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Em junho de 2017, o país deu entrada com o pedido formal. Em março deste ano, os EUA bloquearam o início do processo de análise da solicitação dentro do organismo internacional.
Após as críticas de Trump, o secretário de Comércio Exterior do Mdic, Abrão Neto, rebateu o suposto desequilíbrio nas relações comerciais entre Brasil e EUA.
“Se forem considerados bens e serviços, essa relação é favorável para os EUA em US$ 250 bilhões [R$ 1 trilhão]”, afirmou o secretário, durante a divulgação da balança comercial brasileira de setembro.
“No ano passado, nossas exportações para os EUA cresceram 6,2%, e nossas importações, mais que o dobro, 13,3%”, disse Neto. O secretário afirmou que há diversos temas que podem ser aprofundados na relação bilateral.
Já o presidente do conselho da Amcham (Câmara Americana de Comércio), Hélio Magalhães, disse discordar de Trump sobre o Brasil ser difícil nas negociações.
“Não é que nós negociamos de uma forma mais dura. A questão é que o Brasil é um país que sempre protegeu a produção interna. Mas isso não é nenhuma novidade.”
Para Magalhães, porém, esse comportamento deixa a participação do país no comércio global muito aquém de sua capacidade.
“O Brasil tem a oitava maior economia do mundo, mas sua participação é de 1,2% [no comércio global].”
Um papel mais forte nas negociações globais depende de o país melhorar a competitividade aqui dentro, afirmou.
“Isso passa por uma carga tributária menor e menos complexa, os parceiros comerciais precisam sentir uma estabilidade jurídica. Há também uma burocracia ineficiente que não colabora e deixa tudo mais caro.”
Segundo Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington, Trump provavelmente não se referia a tarifas brasileiras sobre produtos americanos, que são, na maioria, bastante baixas.
“Ele afirmou que o Brasil é o mais duro do mundo com as empresas americanas, e acho que ele está falando sobre os impostos cobrados das empresas, a taxação, o custo Brasil, que, de fato, é muito alto”, disse Barbosa, que preside
washington A diretora-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), Christine Lagarde, afirmou nesta segunda que as disputas comerciais e tarifárias estão começando a prejudicar as perspectivas para o crescimento global.
Ela convocou os países a resolver suas diferenças e reformar as regras comerciais.
Lagarde, em um discurso antes do encontro anual do FMI e do Banco Mundial na próxima semana na Indonésia, disse que o crescimento está em seu nível mais alto desde 2011, mas que se estabilizou com menos países participando da expansão.
“Em julho, nós projetávamos 3,9% de crescimento global para 2018 e 2019. A perspectiva desde então se tornou menos intensa, como vocês verão nas nossas projeções atualizadas na próxima semana”, disse.
“A questão é que a retórica está se transformando em uma nova realidade de barreiras comerciais reais.”