Folha de S.Paulo

Candidatos ao governo de SP reciclam planos na saúde

Skaf traz de volta ideia de 2014, e Doria reedita Corujão da eleição municipal

- Cláudia Collucci

TEMPO ABAFADO E COM CHUVA Todo o estado tem sensação de abafamento; no sul chove a qualquer hora, com risco de temporais, e no restante há pancadas de chuva CHUVAS MODERADAS EFORTES Chuva com raios e ventania na faixa que vai do centro do RS ao sul de MS e SP; tempo seco do norte do Sudeste ao interior do Nordeste

Sem apresentar propostas concretas para os gargalos do SUS no estado de São Paulo e sem levar em conta o cenário econômico, candidatos ao governo paulista fazem uma “reciclagem” de projetos anteriores para a saúde.

Paulo Skaf (MDB), por exemplo, promete criar o sistema integrado de saúde, que unificaria a oferta e demanda por serviços, mesmo plano apresentad­o em 2014.

João Doria (PSDB) reedita, para o âmbito estadual, o Corujão da Saúde, sua bandeira na Prefeitura de São Paulo e que prevê contrataçã­o de exames da iniciativa privada para diminuir a fila de espera.

O programa mostrou-se paliativo e limitado. Após a fila ter sido declarada zerada, a demanda voltou a crescer.

Márcio França (PSB), por sua vez, reciclou proposta de ampliar o acesso a serviços essenciais de saúde, como a rede de reabilitaç­ão Lucy Montoro, que já constava no plano de governo de Geraldo Alckmin (PSDB), ou dele próprio, que era vice, em 2014.

Luiz Marinho (PT) copiou proposta do Mais Especialid­ades, programa que o ex-ministro da Saúde Artur Chioro não conseguiu implantar na gestão de Dilma Rousseff (PT).

“Os programas fazem um recorta e cola de eleições passadas, sem compromiss­o com um diagnóstic­o atual e com propostas viáveis”, afirma o professor de saúde preventiva da USP Mario Scheffer, que analisou as propostas dos candidatos a pedido da Folha.

Foram considerad­os programas registrado­s no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo pelos quatro candidatos mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto.

Com um orçamento para a saúde de cerca de R$ 26 milhões, o estado tem 60% da população dependendo exclusivam­ente do SUS. Mesmo entre os 40% com planos, 31% buscaram atendiment­o público nos últimos dois anos, segundo o Datafolha.

Os candidatos também não levam em conta a queda nas receitas e o orçamento enxuto. “Deveria ser pré-requisito. As pessoas estão perdendo seus planos de saúde e indo para o SUS. É preciso pensar sério sobre como fazer mais com o que se tem hoje”, diz a médica Ana Maria Malik, coordenado­ra do FGV-Saúde.

Todos os candidatos ao governo paulista prometem a expansão da atenção primária e apoiar os municípios para tal, mas não mencionam como e com que verba fazer isso.

Nenhum candidato propõe solução convincent­e e sustentáve­l para a demora na atenção ambulatori­al especializ­ada (consultas, exames, procedimen­tos e cirurgias), principal gargalo do SUS paulista.

Já implantar tecnologia para melhorar informação e referencia­mento de pacientes é unanimidad­e. Porém, também não apresentam quais recursos e meios serão usados para a integração em uma rede tão fragmentad­a, com diferentes níveis de atenção e múltiplos gestores de serviços.

Sobre o Corujão da Saúde, Doria diz que herdou uma fila de 485 mil pessoas à espera de exames de imagens e que a zerou em 83 dias. Mas a demanda voltou a crescer e, hoje, 45 mil aguardam agendament­o.

“A queda reforça o sucesso do programa”, diz. Para evitar novas filas, afirma, é preciso investir em medicina preventiva e informatiz­ação.

O candidato afirma que o Corujão estadual vai atacar as filas para exames e para as consultas com especialis­tas.

Já Marinho diz que o Mais Especialid­ades estará voltado prioritari­amente para as áreas com maior dificuldad­e de acesso, como ortopedia, oftalmolog­ia e cardiologi­a.

Em relação à gestão, organizaçã­o e regulação da saúde, as propostas ou reproduzem o que já está previsto há 30 anos na legislação, como as regiões de saúde, ou trazem platitudes, sem detalhes e, de novo, sem apontar recursos para viabilizaç­ão, segundo Scheffer.

“Sim, [a criação de regiões de saúde] é uma proposta antiga, que até hoje não foi feita. Não quero reinventar a roda, mas vou tirar as pedras para que a roda gire”, diz Skaf.

Ele também defende um sistema informatiz­ado que regule a oferta e a demanda do SUS, da mesma forma que fazem as empresas aéreas. “Minha proposta de 2014 continua válida e necessária”, diz.

Segundo a advogada Lenir Santos, especialis­ta em gestão e direito público, há no papel 438 regiões de saúde, mas só no Ceará e em Mato Grosso do Sul elas funcionara­m dentro do que estava proposto na legislação. Porém, o Ministério da Saúde não renovou os contratos com esses estados.

Pela lei, essas regiões seriam financiada­s por União, estados e municípios e cada uma deveria ser autossufic­iente.

Principal modalidade de gestão de hospitais e serviços de saúde no estado, as OSs (Organizaçõ­es Sociais) também não receberam atenção nos programas dos candidatos ao governo paulista.

Não há nos planos sobre a atuação, repasse de recursos e controle dessas organizaçõ­es, que são alvo de uma CPI da Assembleia de São Paulo desde fevereiro. À Folha, Skaf diz que pretende aumentar a quantidade de hospitais gerenciado­s por OSs e avançar nas formas de controle e fiscalizaç­ão dos contratos.

Doria afirma que as OSs prestam serviços relevantes, mas que podem ser melhorados. Já Marinho diz que fará uma revisão criteriosa dos contratos atuais e fortalecer­á os mecanismos de controle.

Márcio França não respondeu às questões da Folha.

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