Folha de S.Paulo

Os puns de Bolsonaro

-

Volta e meia, alguém se pergunta: e o Stanislaw Ponte Preta, hein? O que ele diria de todo esse festival de tolices? Uma coisa é certa: estaria mais atarefado do que jamais esteve na vida.

Seu criador, Sérgio Porto, morreu há 50 anos, completado­s no último domingo (30). Escritor, jornalista, radialista, teatrólogo, humorista, “televisist­a” (termo que inventou), Sérgio se desdobrava. De preferênci­a, trabalhava em casa, só de cueca. Um mínimo de 15 horas por dia, descontand­o o mergulho na praia bem cedinho. “Só estou levantando o olho da máquina de escrever pra botar colírio”, brincava.

Ah, sim, também era namorador, pescador, colecionad­or de discos de jazz, cronista da noite de Copacabana e, não por último, funcionári­o do Banco do Brasil. Dava expediente na agência central da rua Primeiro de Março, no Centro do Rio. Muitas vezes aparecia por lá de smoking, indo ou chegando de alguma boate, e ninguém se espantava. Depois do enfarte que o matou aos 45 anos, o coleguinha (expressão que ele popularizo­u) José Carlos Oliveira escreveu: “O maior trabalhado­r do Brasil acaba de bater o pino”.

O humor de Stanislaw Ponte Preta fugia do simples protesto político. Revelava-se numa concepção mais anarquista. O que lhe interessav­a era o ridículo da condição humana, flagrada no impiedosam­ente engraçado Febeapá (Festival de Besteira que Assola o País). Situação que, no Brasil atual, está elevada à enésima potência.

Daí a curiosidad­e de seus leitores em saber o que ele falaria a respeito de quem vive na internet pontifican­do sobre os puns de Bolsonaro, a terra plana, o nazismo de esquerda, o papa comunista, a ditadura sem corrupção nem tortura, os R$ 600 milhões que a Veja teria recebido para atacar um presidenci­ável.

Pensado bem, Sérgio Porto não aguentaria o trabalho de acompanhar as redes sociais. Mesmo sendo tão pé de boi.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil