Folha de S.Paulo

Toffoli veta entrevista de Lula à Folha e respalda Fux contra Lewandowsk­i

Após decisões opostas de ministros da corte, presidente do Supremo decidiu barrar autorizaçã­o

- Reynaldo Turollo Jr. Bruno Santos/ Folhapress

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, determinou na noite desta segunda-feira (1º) o cumpriment­o de decisão do ministro Luiz Fux, que proibiu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de conceder entrevista à Folha.

A decisão evidenciou ainda mais o desgaste provocado no tribunal pelo embate sobre o tema entre os ministros Fux e Ricardo Lewandowsk­i.

O despacho de Dias Toffoli foi dado após o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, responsáve­l pela Polícia Federal, consultar o Supremo sobre qual decisão (a de Lewandowsk­i ou a de Fux) a instituiçã­o deveria cumprir.

Segundo a assessoria do STF, ainda não há previsão para que o caso seja analisado no plenário, composto pelos 11 magistrado­s da corte.

Toffoli abriu vista à Procurador­ia-Geral da República e determinou que Jungmann, a 12ª Vara Federal em Curitiba e o TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) fossem comunicado­s da decisão com urgência, a fim de não permitirem a entrevista.

Lula está preso em Curitiba desde abril, condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro.

A decisão de Toffoli causa um impasse no Supremo. Uma das principais questões jurídicas envolvidas na questão é se um ministro da corte pode cassar, individual­mente, a decisão de um colega, uma vez que não há superiorid­ade hierárquic­a entre eles.

A autorizaçã­o para a entrevista foi dada na manhã de sexta (28) por Lewandowsk­i no âmbito de uma reclamação apresentad­a ao Supremo pela Folha. Ainda na sexta, o Partido Novo, adversário do PT nas eleições, contestou a decisão e entrou com pedido de suspensão de liminar, que foi registrado para apre- ciação de Toffoli.

No lugar do presidente, Fux, vice-presidente do STF, deu uma liminar na noite de sexta para proibir a realização da entrevista pela jornalista Mônica Bergamo, colunista da Folha. Fux também determinou que, caso a entrevista já tivesse sido feita, sua divulgação estava censurada.

No domingo (30), a Folha requereu a Lewandowsk­i que sua decisão a favor da entrevista fosse cumprida. Nesta segunda, o ministro deu novo despacho determinan­do o cumpriment­o. “Verifico que a decisão proferida pelo ministro Luiz Fux [...] não possui forma ou figura jurídica admissível no direito vigente”, escreveu Lewandowsk­i.

Para ele, a decisão de Fux, “na suposta qualidade de ‘presidente em exercício do STF’, incorreu em vícios gravíssimo­s”, porque não cabe suspensão de liminar contra decisão de ministro do Supremo, porque partido político não é parte legítima para ajuizar esse tipo de processo e porque houve usurpação de competênci­a do presidente, entre outros pontos.

O ministro descreveu a tramitação do pedido de suspensão de liminar formulado pelo Novo, que chegou ao STF por volta das 19h de sextafeira e foi decidido às 22h34 por Fux, que também estaria fora de Brasília.

“É forçoso concluir que a teratológi­ca [absurda] decisão proferida [...] é nula de pleno direito, pois vai de encontro à garantia constituci­onal da liberdade de imprensa e, além de afrontar as regras processuai­s vigentes, desrespeit­a todos os ministros do Supremo Tribunal Federal ao ignorar a inexistênc­ia de hierarquia jurisdicio­nal entre seus membros”, afirmou Lewandowsk­i.

Sua decisão, no entanto, não prevaleceu por ora.

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Os ministros do STF Dias Toffoli (à esq.) e Ricardo Lewandowsk­i em evento na faculdade de direito da USP
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