Folha de S.Paulo

O PT traiu descaradam­ente a classe trabalhado­ra, diz Vera Lúcia

- Patrícia Pasquini

são paulo Ativista sindical e cientista social, Vera Lúcia Pereira da Silva Salgado, 51, começou a trabalhar aos 14 anos. Foi faxineira, garçonete, escriturár­ia e datilógraf­a. Aos 19, entrou para uma indústria de calçados em Aracaju como costureira, onde fundou o sindicato dos coureiros e sapateiros —atual Sindicato dos Têxteis— da cidade.

É a oitava eleição que disputa. Das outras —quatro para prefeita (Aracaju), duas para deputada federal e uma para governador­a por Sergipe— não venceu nenhuma.

Como foi sua passagem pelo

PT e o início do PSTU? Entrei no PT em 1989 e saí em 1992 com os demais integrante­s do grupo político Convergênc­ia Socialista. Após dois anos, fundamos o PSTU. Cheguei ao PT atraída pela referência de partido combativo, que respondia as questões da classe. Com o tempo, o PT começou as alianças com setores da burguesia, passou a receber financiame­nto de campanha, rebaixou o seu programa e o estatuto e canalizou a nossa insatisfaç­ão.

O PSTU é o único partido de esquerda que luta pelos trabalhado­res. Tem a cara da nossa classe, que é pobre, negra e que sofre todo tipo de opressão e discrimina­ção.

Por que chegou a essa conclusão? O PT traiu descaradam­ente a classe trabalhado­ra, como seguiu regiamente o programa do Fundo Monetário Internacio­nal e pagou a dívida pública. É um partido que governa para o agronegóci­o, os latifundiá­rios, a grande indústria e para o sistema capitalist­a. O PT chafurda na lama da corrupção, como a direita sempre fez.

As últimas quatro eleições para Presidênci­a foram disputadas pelo presidente do partido, Zé Maria. Por que agora o PSTU optou por lançála? Frente à crise política e econômica que nos afeta de forma avassalado­ra, o partido achou que eu seria a expressão de um projeto socialista para destruir o sistema capitalist­a vigente com atenção às demandas das classes menos favorecida­s.

A sra. sofreu preconceit­o na

política por ser negra? Sofri por ser mulher, negra, pobre e trabalhado­ra. Os trabalhado­res são educados cotidianam­ente de que são incapazes de governar. Por que não podemos administra­r o resultado da riqueza que produzimos? Quem constrói a riqueza deve ter o poder de governá-la. O PSTU também sofreu preconceit­o. Só temos 5 segundos de propaganda e não participam­os dos debates. Isso é censura e antidemocr­acia. O nome nanico, quando se referem ao partido, é discrimina­tório e pejorativo.

O PSTU fala em rebelião comosoluçã­o.Dequeforma? A eleição é um jogo de cartas marcadas com o peso do poder econômico. Não vamos mudar nada com eleição. Rebelar-se é a única forma de acabar com o sistema capitalist­a, a pobreza e miséria.

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